No início de 2022, Nicole Dodge estava na cozinha quando reparou que Natalie, a filha mais nova, só estava a usar o antebraço. Nicole e o marido, Andrew, são terapeutas físicos e, por isso, decidiu não entrar de imediato em pânico e levar a criança às urgências, uma vez que esta não apresentava queixas.

Esta mulher foi 26 vezes às urgências com muitas dores e nunca detetaram o problema. Morreu de cancro e o hospital está a ser acusado de negligência médica
Esta mulher foi 26 vezes às urgências com muitas dores e nunca detetaram o problema. Morreu de cancro e o hospital está a ser acusado de negligência médica
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No domingo, tudo mudou. Em entrevista à "People", Nicole conta que a filha de 15 meses estava "inconsolável" e que começou a gritar depois de dar uma queda. Depois de deixar os quatros filhos mais velhos em casa da sogra, foi de imediato para as urgências pediátricas. Já no hospital, os médicos decidiram que a criança deveria lá passar a noite para fazer, no dia seguinte, uma ressonância magnética. "Eles disseram que não estavam a gostar do aspecto do osso no raio-X, que parecia muito frágil e que isso podia ter várias causas, desde uma falta de nutrientes até cancro", relembra.

Ainda nesse dia, os médicos cancelaram a ressonância magnética e informaram Nicole de que iriam fazer um diagnóstico diferencial, ou seja, a avaliação dos vários sintomas, que podem ser comuns a diferentes doenças, para depois poder construir um diagnóstico. Os médicos explicaram que no topo da lista de potenciais diagnósticos estavam dois tipos de cancro. "Senti-me como se me tivessem tirado o tapete debaixo dos pés", recorda a mãe de Natalie.

Depois de mais exames, e passados quatro dias, chegou o diagnóstico: neuroblastoma. Este tipo de cancro cresce a partir de células nervosas imaturas chamadas neuroblastos. É o tumor sólido que ocorre fora do cérebro mais comum em crianças . Dias depois, Nicole e Andrew receberam um diagnóstico mais concreto, que indicava que o cancro era estádio IV, e que estava a crescer 10 vez e mais depressa do que um neuroblastoma normal. "Era o pior prognóstico que podíamos ter tido", conta a mãe de Natalie, dizendo que se sentiram esvaziados de esperança. O casal tinha agora uma perspectiva sombria pela frente: dois anos de tratamentos e 50% de probabilidade de sobrevivência da filha. "Estávamos preparados para viver com ela os dias que lhe restassem", relembra Nicole.

Mas tudo mudou quando o casal levou a filha à primeira sessão de quimioterapia. "A nossa médica veio ter connosco e disse 'tenho ótimas notícias'". As boas notícias é que Natalie tinha sido admitida numa unidade hospitalar a 1100 quilómetros de casa, onde iria receber tratamento especializado. No St. Jude Children's Research Hospital, em Memphis, no Tennessee, Natalie foi sujeita a mais exames e foram descobertas metástases espalhadas por todo o corpo. Ao longo de 10 meses, a criança foi submetida a quimioterapia, imunoterapia, cirurgia para remover um dos tumores, dois transplantes de medula e 13 ciclos de radioterapia. Depois dos primeiros cinco ciclos de quimio e imunoterapia, começaram a chegar as boas notícias: os exames demonstravam que o organismo de Natalie "não apresentava sinais da doença" e que as ressonâncias magnéticas também não mostravam a existência de tumores.

Nicole foi relatando a evolução da doença e os tratamentos a que a filha foi submetida nas redes sociais, o que, conta à "People", foi "terapêutico", porque a ajudou a lembrar o caminho que já tinham percorrido. "Aqueles foram os piores dias da minha vida e ajudou-me a estar grata pelo facto de estar fechada numa salinha pequena com esta menina que está viva", contou ainda a norte-americana.