Se tem filhos em idade escolar, é bem provável que estes passem mais tempo dentro da sala de aula do que em qualquer outro local — pelo menos durante a semana. E quando os mais pequenos têm de ficar confinados ao mesmo espaço, existe um esforço para tornar esse local mais apetecível, principalmente nas turmas mais novas, como o pré-escolar e o ensino primário.
É bastante comum vermos salas muito coloridas, paredes recheadas de desenhos e projetos dos miúdos, bem como mapas e números bem grandes espalhados pelo espaço. Mas apesar dos materiais darem vida ao local, um estudo norte-americano veio afirmar que estes recursos podem ser prejudiciais à concentração dos miúdos.
De acordo com a pesquisa publicada em maio na revista cientifica “Psychological Science”, uma criança pode ter mais dificuldade em concentrar-se se as salas de aulas estiverem muito decoradas. Os investigadores da Universidade Carnegie Mellon (EUA) Anna V. Fisher, Karrie E. Godwin e Howard Seltman chegaram à conclusão de que os alunos se distraem mais facilmente quando existem muitos elementos decorativos no espaço, demonstram menos capacidade de aprendizagem e retêm menos informação.
Anna V. Fisher, professora de psicologia e autora principal do referido estudo, afirma na sua investigação que “as crianças passam muito tempo na mesma sala de aula. Com a nossa pesquisa, demonstrámos que o ambiente visual que as rodeia pode influenciar a maneira como aprendem”.
Devem as salas de aula ser menos decoradas?
Apesar de a investigação norte-americana ter comprovado que os diversos elementos espalhados pelas salas de aula podem prejudicar a atenção dos mais pequenos, os investigadores admitem que retirar os mesmos elementos não é a resposta para todos os problemas educacionais das crianças.
De acordo com a professora de psicologia Anna V. Fisher, “são necessárias pesquisas adicionais para perceber qual o verdadeiro efeito do ambiente visual da sala de aula na atenção das crianças e na aprendizagem em salas de aula reais”, sugerindo que, ao invés de os professores removerem todas as decorações de uma vez só, estes “tentem perceber qual ou quais dos elementos têm um maior poder de distração”.
O estudo contou com a participação de 24 alunos do jardim de infância, colocados em duas salas de aula diferentes, onde lhes foram ensinados seis temas com os quais não estavam familiarizados: três foram introduzidos numa sala de aula muito decorada e recheada de elementos, os restantes três num espaço mais simples, clean e com poucos materiais.
Os resultados mostraram que, apesar de as crianças aprenderem nos dois tipos de sala de aula, faziam-no mais quando o espaço não estava muito decorado. Mais especificamente, a precisão nas questões do teste que lhes foi atribuído foi maior na sala de aula clean (55% correta) do que na sala de aula decorada (42% correta).
"Também estávamos interessados em descobrir se a atenção das crianças mudaria para outra distração caso os elementos como desenhos, mapas e quadros fossem removidos, tal como conversar com os colegas, por exemplo, permanecendo estas distraídas durante a mesma quantidade de tempo”, afirmou Karrie E. Godwin, outra das investigadoras.
Em conclusão, os autores do estudo afirmaram que esperam que estes resultados sejam um incentivo para a realização de mais investigações, de forma a perceber a melhor forma de projetar salas de aulas e como tirar o máximo proveito destes espaços sem comprometer a aprendizagem dos alunos.