A falta de intervenção na Escola Básica Vasco da Gama, uma das escolas públicas da freguesia do Parque das Nações, em Lisboa, já resultou em ferimentos nas crianças. Os pais estão revoltados e já não sabem o que fazer, uma vez que as responsabilidades vão sendo passadas ao próximo.
Esta escola pertence à mesma freguesia onde, entre 1 e 6 de agosto, vai decorrer a Jornada Mundial da Juventude, evento religioso que tem gerado polémica nos últimos tempos devido aos gastos associados (mais de 80 milhões de euros).
A zona do Parque Tejo-Trancão foi a escolhida para receber as cerimónias, estando em causa uma extensão de cerca de 100 hectares, que tanto abrangem concelhos de Lisboa (Parque das Nações) como de Loures (Sacavém e Bobadela), assim como nota o "Diário de Notícias".
"Um pingue pongue sem solução à vista"
"Estamos indignados com o facto de a câmara Municipal de Lisboa poder gastar milhões de euros nestas Jornadas, quando temos uma escola básica com necessidade de obras urgentes há vários anos e nada foi feito. São problemas estruturais que têm de ser resolvidos, antes de pensarmos em eventos desta envergadura", considera um grupo de pais preocupados.
Álvaro Ramos, Marta Braga, Sandra Figueiredo e Telma Ponte iniciaram um movimento ao qual, de forma orgânica, se juntaram outros encarregados de educação de alunos da Escola Básica Vasco da Gama. Há cerca de uma década que se manifestam sinais de degradação neste estabelecimento de ensino, mas ninguém intervém.
Enquanto esta escola remete para o Agrupamento de Escolas Eça de Queiroz, o agrupamento remete para o departamento de educação da Câmara Municipal de Lisboa. A MAGG contactou a diretora deste agrupamento, Maria Eugénia Coelho, na tentativa de perceber o que pode ser feito.
"Todas as questões relacionadas com as debilidades estruturais do edifício e logradouro da Escola Básica Vasco da Gama que ultrapassem as pequenas reparações são da responsabilidade da câmara municipal de Lisboa, entidade que tem sido alertada por nós para a necessidade de proceder às obras de reparação", esclareceu Maria Eugénia Coelho à MAGG.
Há crianças a magoarem-se pela falta de intervenção
A MAGG contactou a CML e, até à hora de publicação deste artigo, não obteve quaisquer explicações. Tanto os pais como a escola já tentaram recorrer à autarquia para solicitar intervenção urgente, mas "até agora nada aconteceu". Dizem sentir-se "num pingue pongue sem solução à vista" e temem pela segurança dos filhos.
Em 2022, uma aluna do 1.º ano magoou-se num dos bancos partidos, com a estrutura de ferro a descoberto e um aluno do 2.º fraturou o braço a milímetros de uma artéria depois de tropeçar no piso irregular. O mesmo aluno já se havia aleijado, depois de lhe cair uma grade em cima.
"É um problema que já se vem a arrastar há vários anos, com denúncias deste género e chamadas de atenção", assegura Marta Braga, mãe de uma das alunas desta escola e integrante no grupo de pais que apela à mudança. "Nunca foi feita nenhuma intervenção. Nós, enquanto pais, achamos que tem de se ter um mínimo de dignidade no local onde se está a estudar", afirma.
A escola, construída em 1999, "sempre foi considerada uma escola-modelo", elogiada por muitos, relata Marta Braga. Mas agora já não o é, pelo menos para quem conhece as condições atuais de degradação. E, de acordo com esta mãe, até as crianças se queixam do estado da escola.
Durante a pandemia da Covid-19, os pais não passavam da porta da entrada, onde deixavam os filhos para as aulas. Agora que já conseguem ver pelos próprios olhos, estão mais motivados que nunca a colocar um ponto final a esta situação. "Queremos que as coisas sejam solucionadas e que não haja esta inércia", frisa Marta Braga.
"Independentemente de serem as Jornadas ou não. Achamos que tem de haver o mínimo de investimento do dinheiro público nestas coisas básicas, como a educação. Não é uma parede que está suja, são questões de segurança", alerta. "Não queremos apontar o dedo a ninguém. Isto não tem nada que ver com política. É um movimento orgânico de pais", sublinha, ainda.
Este grupo de pais fala em "desilusão e perplexidade" quanto ao investimento nas Jornadas Mundiais da Juventude. "Estamos a falar da mesma freguesia, a do Parque das Nações, que vai acolher um evento à escala mundial, mas que simultaneamente tem uma escola básica com problemas estruturais graves e a precisar de obras urgentes há vários anos", recordam.
Uma das salas tem um buraco no teto, fazendo com que chova lá dentro. Referem, ainda, lajes a cair das paredes e estruturas com ferro à mostra, degraus partidos, falta de iluminação exterior, chão desnivelado e em mau estado, com buracos e tampas de esgoto partidas.
O movimento destes pais começou com a partilha de imagens em grupos de WhatsApp. Entretanto, uniram-se e organizaram um protesto à porta desta escola, situada na zona Norte do Parque das Nações. Aconteceu na manhã desta quarta-feira, 15 de fevereiro, entre as 8h20 e as 9 horas, e reuniu cerca de 80 pessoas.
Queriam "chamar a atenção" e conseguir "visibilidade no sentido de haver alguma pressão". "Fazer barulho para que as coisas se resolvam, porque percebemos que, se andarmos em e-mails e telefonemas, nada acontece", garante Marta Braga.