Quando a pandemia chegou ao País no ano passado e foi decretado o encerramento das escolas, muitas crianças que entravam numa importante fase do desenvolvimento foram impedidas de explorar o mundo. Uma delas é o filho de Filipa Castanhas. Malik, filho Filipa, tinha cerca de um ano quando tudo aconteceu. Começara a andar há poucos meses e as pernas queriam acompanhar os olhos curiosos por tudo o que havia lá fora, contudo, estava impedido de sair.

"O que eu senti com o meu filho é que apesar de ter os brinquedos que lhe comprava, ele interessava-se muito por coisas do dia a dia que nos via mexer e queria imitar", conta Filipa, natural de Aveiro, à MAGG. Decidida a levar para dentro de casa estímulos que ajudassem o filho a explorar, ao procurar soluções descobriu, através de uma amiga, uns painéis sensoriais que existem noutros países já há muito tempo. No entanto, quando procurou em Portugal algo semelhante, não encontrou.

Filipa Castanhas
Filipa Castanhas Filipa Castanhas, criadora do Malik's World

"Decidi fazer um, eu e o meu marido, com coisas que eu tinha em casa. E ele gostou muito, funcionou muito bem". Ao ver o impacto positivo que teve em casa, Filipa Castanhas, que dá aulas maioritariamente a crianças em escolas e ficou parada quando as estas fecharam, pôs logo a mente criativa e o gosto pelas artes em ação e começou a procurar fornecedores para fazer mais painéis semelhantes ao que construíra para o filho, de modo a poder ajudar também outras crianças.

Acabava então de nascer mais um projeto em plena pandemia, que só poderia ter um nome: o do filho de Filipa. Malik, que faz dois anos em abril, é então o principal impulsionador do projeto Malik's World.

O que é um painel sensorial?

De forma simples, um painel sensorial é como que uma tela que junta elementos que fazem parte do nosso dia a dia: um interruptor, uma fechadura, o fecho das calças ou uns atacadores de sapatos — razão pela qual é considerado uma atividade didática e não brinquedo. Ao apresentar estes estímulos para as crianças, elas têm a oportunidade de aprender a manusear em segurança aqueles elementos, sempre com o acompanhamento de um adulto.

Os painéis sensoriais estão em linha com a ideologia do Método Montessori, que defende que as crianças devem explorar tudo o que são materiais naturais, como a madeira que é usada nestes painéis, e que se deve dar liberdade para essas descobertas.

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"Eu sou muito ligada a pedagogias mais alternativas e para mim fez todo o sentido fazer este projeto, ligado também àquilo em que eu acredito sobre a educação", destaca Filipa. O painel sensorial que criou não só é único em Portugal, como 100% português.

"Este produto, e é por isso que encarece, não tem nada vindo da China. Basicamente, vou às casas locais de ferragem, em Aveiro, e aí compro os materiais todos. Sou eu que os pinto e coloco. A preparação dos painéis é feita numa carpintaria de uma Quinta Pedagógica Inclusiva", explica Filipa à MAGG. Essa quinta faz parte do Centro de Acção Social do Concelho de Ílhavo (CASCI), em Ílhavo, e diz respeito a uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) que dá trabalho a jovens adultos com deficiência.

Malik's World
Malik's World créditos: maliksworldpt/Instagram

Com estes painéis Filipa acredita que é possível oferecer aos mais novos uma forma de brincar e ao mesmo tempo de desenvolver amplas capacidades, como a concentração, a criatividade e a lógica. "Acredito que as crianças, ao manipular estes objetivos, desenvolvem a motricidade. Além disso, acredito que é importante porque as crianças têm verdadeiro interesse e ao mexer vão tornar-se mais independentes", esclarece.

Isto porque os painéis incluem elementos como interruptores e tomadas, que ao serem apresentados desta forma podem ser uma forma de prevenir futuros incidentes. No entanto, alguns pais questionam Filipa sobre se estes estímulos do painel sensorial não podem ser perigosos, mas a mesma descarta a ideia.

"Eu vejo as coisas por outro prisma, no sentido em que temos sempre a tendência de dizer 'não podes fazer isto' e em vez de dizer que 'não', é dar uma alternativa, ou seja, 'aqui não podes fazer isto, mas podes fazer no painel. Ao dar uma alternativa, vão sentir que a vontade deles é validada", nota Filipa. De experiência própria, uma vez que o Malik foi o primeiro a testar os painéis, Filipa pôde perceber que após o filho explorar aqueles estímulos sensoriais, deixou de ter interesse em tocar em coisas como a tomada de casa.

Além disso, a segurança é garantida pelo facto de as tintas usadas por Filipa terem certificação EN71-3, aptas para crianças, e são ainda ecológicas.

Nenhum painel do Malik's World é igual

Cada painel criado por Filipa é diferente em cor e elementos — que nunca são demasiados. "Criei um painel mais minimalista para não haver distração. Porque quando há muita coisa, nestas idades as crianças perdem facilmente a concentração. Então às vezes o menos é mais", destaca Filipa, que opta por ter apenas duas cores por painel e apliques na medida certa.

Todos têm atividades pedagógicas desde o nível mais fácil ao mais difícil, o que significa que não é para explorar tudo de uma só vez. "O objetivo é que ao longo do tempo vão descobrindo uma atividade ou outra e vão fazendo", refere a criadora, acrescentando que os painéis dirigem-se a crianças entre os oito meses e os três anos.

Filipa Castanhas tem lançado várias coleções e as últimas — a "Casulo" e "Sentir" — esgotaram. Quanto à "Sentir", lançada sob pré-reserva, vai ter algumas peças disponíveis para quem não conseguiu agarrar a oportunidade. Outra novidade que está para breve é o lançamento de mini painéis que podem ser levados para qualquer lado pelas crianças.

Os valores de cada painel variam conforme os materiais colocados em cada coleção, o que significa que ainda não se sabe o preço das próximas coleções. "Digo sempre às pessoas que podem variar da última coleção, por exemplo, 20€, tanto para cima como para baixo", refere a criadora do Malik's World. Como valor referência, a primeira coleção custou 89€ e a seguinte 98€.

As encomendas podem ser feitas por e-mail (geral@maliksworld.pt) ou por mensagem privada no Instagram.