Se tivéssemos de definir o verão de 2024 sucintamente, só há uma palavra que nos vem à cabeça: "Brat". Falamos do álbum de Charli XCX, que foi lançado a 7 de junho e que definiu o tom da estação: afinal, é um termo utilizado para descrever crianças e jovens mal-comportados, pelo que se tornou numa filosofia de vida para os amantes da cantora. Com a nova coleção de primavera/verão de Gonçalo Peixoto, parece que o Brat Summer ainda não acabou – e, em 2025, vai voltar em força.
Dizemos isto porque a linha do designer de Famalicão, apresentada este domingo, 13 de outubro, o último dia da 63.ª edição da ModaLisboa, teve, além de "I LUV IT", de Camila Cabello, dois êxitos desse disco da cantora britânica como pano de fundo ("Guess", com Billie Eilish, e "Apple"). E porque também as canções eleitas para darem música aos desfiles se entrelaçam com a mensagem da coleção, isso foi algo que não pudemos ignorar.
A coleção chama-se "Sometimes I Just Wanna Kiss Girls On Vacation" (às vezes só quero beijar raparigas de férias, em português). Para os seguidores do trabalho do criador, a primeira parte do nome não é novidade – trata-se do "state of mind" do designer, uma vez que é com as mulheres que tem uma relação mais próxima e é por e para elas, também, que tenta criar aquilo de que "gostam e precisam", conta à MAGG, no rescaldo da apresentação.
Desta vez, é como se essa mulher em que Gonçalo Peixoto se inspira tivesse ido de férias e trazido consigo uma atitude que oscila entre dois polos, como o próprio explica. "Queria que a coleção tivesse um ar angelical, mas que ao mesmo tempo fosse sassy", afirma, acrescentando que as peças tanto podem transmitir o que de mais clássico e elegante tem a Costa Amalfitana, "muito presente nos xailes e lenços", sem nunca "deixarem [de dar para ter um] Brat Summer".
Trocado por miúdos, sentimos que a coleção nos transportou para um verão em que a ousadia e a leveza andam de mãos dadas. "O objetivo é que as senhoras não deixem de ser meninas e mulheres. E isso é o principal. É ser uma imagem do meu verão: livre, cool, divertido e fashion", explica o criador, reforçando que a felicidade foi o mote que guiou todas as peças que vimos passerelle acima, passerelle abaixo.
A coleção está repleta de elementos que já associamos ao criador. Falamos das transparências, brilhos, gangas, brocados e, claro, as flores, que continuam a ser uma demonstração da forte ligação emocional do criador a elementos da sua vida privada, já que são inspiradas no jardim das suas avós. No entanto, Gonçalo Peixoto decidiu ir mais além e apostou as fichas todas em novos materiais e silhuetas.
"Tentei trabalhar coisas que nunca tinha trabalhado, como organzas, por exemplo", afiança. "Nos primeiros looks, pus umas saias mais fluidas, que nunca tinha feito", frisa. Esta capacidade de se reinventar dentro do seu próprio estilo mostra, segundo o mesmo, a maturidade crescente do designer. "Há um amadurecimento. É uma fase diferente da minha vida", relata, dizendo que esta coleção acaba por ser a materialização daquilo que está "a sentir agora".
Embora todas as peças sejam importantes para o designer, "os blazers e o look todo de ganga com as flores bordadas são o 'set the tone' da coleção", confessa. E mesmo que seja como pedir a um pai para escolher o filho favorito, Gonçalo Peixoto diz que o look de ganga é a sua escolha de eleição, resumindo o espírito da coleção, patrocinada pela Seaside: feminina e contemporânea, além de ser arrojada e repleta de detalhes que contam histórias.