Embora a indústria da moda e da publicidade seja dominada maioritariamente por gente grande, não é só a essas faixas etárias mais avançadas que se destina. Como se costuma dizer, de pequenino é que se torce o pepino, e é precisamente por isso que a L'Agence, uma das agências de modelos mais emblemáticas do País, tem o departamento Kids, onde os mini modelos são postos a trabalhar desde cedo.

Caso tenha aí em casa um miúdo que considera que tem condições para começar a pavimentar o seu caminho por esta indústria, é com este departamento que tem de tratar de tudo. E a MAGG foi falar com Inês Carnide, booker do mesmo, para perceber questões tão básicas como de que forma é que lá se entra, que requisitos se têm que cumprir e o que está em causa nos trabalhos em que os mais novos participam.

Se aqueles que têm entre 14 e os 22 anos podem tentar a sua sorte no L'Agence Go Top Model, cujo segundo casting tem data marcada para o dia 4 de julho, das 10 às 18 horas, no sexto piso do El Corte Inglés, tendo de cumprir certos requisitos, entrar na área dos mais jovens é relativamente simples – e fazer uma candidatura online é meio caminho andado.

"Nós todos recebemos, através do nosso site, candidaturas. Essas candidaturas são selecionadas e nós tentamos distribuí-las pelos departamentos que consideramos mais adequados", explica a booker do departamento Kids, acrescentando que o único requisito para lá entrar (e, posteriormente, poder permanecer) é ter uma idade compreendida entre os 0 e 14 anos.

"No caso das crianças, tentamos sempre avaliar pessoalmente. Acaba por ser um bocadinho por tentativa/erro", continua Inês Carnide. Depois do processo de agenciamento, a booker avança que a verdadeira vocação das crianças – ou os trabalhos em que estas melhor se irão enquadrar – vai sendo avaliada "conforme elas vão trabalhando".

"Há umas que, de facto, são ótimas em publicidade, mas se for necessário um bocadinho mais de acting, de falarem, vemos que já não estão tão à vontade", exemplifica. "Há outros que estão muito à vontade e conseguem ter a parte da representação e publicidade. E há aqueles que se sentem mais à vontade nos trabalhos fotográficos", acrescenta.

Uma coisa é certa: "os pais estão envolvidos em todos os processos", garante Inês Carnide, frisando que essa é a realidade desde o momento da inscrição. "Todo o processo de castings ou de trabalhos são tratados com os pais e são eles que acompanham os trabalhos. Nós fazemos mais uma gestão de backoffice", remata.

O maior desafio? "Garantir o bem-estar das crianças"

Quando se é criança, trabalhar não é o mesmo do que quando se tem uns aninhos a mais. Há muitos requisitos (para não dizer leis) que têm de ser levados bem a sério – e é por isso que, segundo Inês Carnide, "o maior desafio é garantir o bem-estar das crianças" e garantir que está tudo nos eixos.

Em primeiro lugar, há que ter "atenção ao número de horas que trabalham". Este número não é estanque e varia consoante a idade do mini modelo. "Pode ser só duas horas, três horas, seis horas", continua a booker, acrescentando que isto tem sempre um intervalo para refeição e momentos de pausas pelo meio, que têm de ser cumpridos à risca.

inês carnide l'agence
inês carnide l'agence créditos: Paulo Gomes

Depois, as condições do próprio local de trabalho também pesam na equação. "Temos de saber o que é que há nos locais de trabalho para que eles se sintam bem: se têm sítio para descontrair, se têm alimentação", explica a booker, acrescentando que, embora seja menos frequente, até o transporte tem de ser alinhavado.

"É lidarmos com isso tudo e, depois, conseguirmos falar com os pais", frisa Inês Carnide, não descurando que, ainda que se esteja a falar de trabalho, as crianças não deixam de ser "os bebezinhos deles". "Temos de conseguir fazer ver que isto é trabalho e que há certas coisas que têm de ser cumpridas, mas vai correndo bem", assegura.

Para uma criança ou para os pais da mesma, a palavra "trabalho" pode gerar algumas reservas, mas calma: não é para ser levado tão a sério. "Nesta fase em que os miúdos são tão pequenos, é encarar como se isto fosse uma atividade extracurricular", afiança Inês Carnide, garantindo que o objetivo é, sobretudo "que eles se divirtam".

Já para não dizer que a escola está sempre em primeiro lugar. "Quando temos um pedido de casting, nós já sabemos as datas. Enviamos aos pais e eles avisam-nos se há alguma incompatibilidade ou não", afirma, dizendo que estes projetos são "sempre uma coisa para segundo plano" (e que, na eventualidade de faltarem às aulas, há a possibilidade de justificar a ausência).

Também há que gerir as expectativas dos mais novos

Quem dita o trabalho que as crianças têm é o mercado. Afinal, são os clientes da agência que sabem de que perfis estão à procura e nunca haverá trabalho a toda a hora para cada um dos agenciados. "Temos de explicar aos pais que é normal não receberem chamadas nossas, mas que têm de esperar e é algo que tem de ser feito com paciência", realça Inês Carnide.

Para exemplificar, a booker diz que os "clientes procuram muito os bebés" e que são eles os que mais trabalho têm – até certo ponto. "Os bebés só têm 6 meses durante um mês. Portanto, quando chegam aos 7 ou aos 8 já não há procura e depois passa-se aqui muito tempo", continua, enfatizando que "até aos 5 anos, há pouquíssima procura", uma vez que "é difícil manter uma criança num set ou explicar-lhe o que tem de fazer".

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Por isso, tanto na agência como em casa, tem de existir uma boa e eficaz gestão de expectativas, embora seja algo que difere entre os pais. Se alguns pais optam só por dizer alguma coisa "aos filhos quando já está confirmado que eles vão trabalhar", outros antecipam-se, mesmo não sabendo qual será o resultado. O problema intensifica-se quando há outros membros da família no mesmo ramo.

"Por exemplo, tivemos dois rapazes e uma rapariga, que são irmãos, e os rapazes têm trabalhado muito", conta Inês Carnide. "A mãe meteu-se comigo a dizer 'tenho aqui uma filha muito chateada, porque os irmãos têm estado a trabalhar e ela não tem tido trabalhos'", continua, frisando que a comunicação é a chave.

"Eu acho que é mesmo ir falando com eles. Quando eles vêm cá a primeira vez, eu tento logo deixar claro que, sendo um departamento de crianças, temos trabalho todos os dias, mas não para aquela criança em específico", conclui a booker, dizendo que a atualização de fotografias e das medidas são essenciais.