"Uma agência de modelos mostra a sua vitalidade quando consegue apresentar caras novas ao mercado. Caso contrário, é uma agência que está quase morta". É assim que Elsa Gervásio descreve a missão da L'Agence, uma agência portuguesa emblemática, responsável por lançar nomes como Cláudia Vieira e Diogo Amaral, e da qual é sócia e diretora.

A L'Agence tem, desde a sua fundação em 1988, sido pioneira na introdução de novos talentos na indústria, catapultando a sua carreira não só dentro do País, como além fronteiras. E não utilizamos a palavra "pioneira" com leviandade, porque esta "foi a primeira agência a abrir mais virada para a publicidade", conta Elsa Gervásio, à MAGG.

Sonha ser modelo? O casting do L'Agence Go Top Model está aí à porta (e há uma segunda data)
Sonha ser modelo? O casting do L'Agence Go Top Model está aí à porta (e há uma segunda data)
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A agência surge numa era em que "o mercado publicitário estava zero organizado" e em que, no campo da moda, só se ouvia falar de José Carlos e Ana Salazar. "Os negócios da L'Agence eram de fotógrafo e trabalhávamos um bocadinho nessa vertente de produção, mas também tínhamos a parte do agenciamento", explica a diretora, acrescentando que só anos mais tarde é que sentiram a necessidade de abrir um departamento de modelos.

"Quando começam a aparecer as revistas mensais de moda, como a 'Elle', a 'Marie Claire' e a 'Máxima', começa a aparecer também a necessidade de haver modelos. Foi nessa altura que a L'Agence teve este ponto de viragem", explica, frisando que a este departamento se seguiu o de talentos (que inclui atores e apresentadores, por exemplo), ainda no início dos anos 2000, assim como o dedicado ao digital, mais recentemente.

Apesar disto, hoje em dia, a moda continua a ser uma das grandes apostas da L'Agence, sendo o Go Top Model uma das maiores formas de a agência manter a frescura do departamento. Mais de uma década nos separa da primeira edição deste concurso, mas o objetivo permanece imutável: encontrar novos talentos no País. Este ano, isso não é exceção e os castings já têm data marcada – acontecem nos dias 2 de maio e 4 de julho, das 10 horas às 18 horas, no sexto piso do El Corte Inglés, em Lisboa.

Mas como é que se descobriam novos rostos antes do início do concurso, que começou em 2013? Em que é que consiste o casting? E o que acontece aos sortudos que são selecionados? Que perfil de candidato é que a L'Agence procura, efetivamente? Elsa Gervásio deu-nos todas estas respostas, que agora partilhamos.

Como era a vida antes do Go Top Model?

"Ao longo destes 30 e muitos anos de L'Agence, temos vindo a acompanhar as tendências de mercado e aquilo que o mercado pede", enfatiza a sócia da agência. Esse trabalho passa por ir encontrando novos modelos – e se, atualmente, são eles que se deslocam até aos castings, facilitando o trabalho da agência, nem sempre foi assim.

Embora sejam uma ferramenta que ainda está em vigor hoje em dia, a L'Agence ia alimentando o seu repertório de talentos tendo o recrutamento na rua como veículo. "Temos uma equipa de scouters na rua, que trabalha ativamente à procura de modelos ao longo do ano", explica Elsa Gervásio. Era quase a máxima de "se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha", diga-se.

Essencialmente, os scouters estão para a moda como os olheiros estão para o futebol. Andam pelas ruas a avaliar o talento de quem por elas passeia e, na eventualidade de captar potencial, aproxima-se da pessoa em questão e fala-lhe da agência. Está a ver aquelas histórias de modelos como Giselle Bündchen, que foi descoberta num centro comercial, em São Paulo, no Brasil? Isso também acontece por cá.

Mas esta não era a única forma de dar de caras com novos talentos. "Tínhamos, através do site, candidaturas espontâneas", refere também a diretora, acrescentando que é outro dos serviços atualmente disponíveis. Contudo, desde a existência do Go Top Model, houve algumas mudanças, fazendo com que estes recursos sejam quase um complemento da competição.

"Nós modificámos aqui a mecânica. Mantemos a equipa de scouting e o site ao longo do ano, sim, mas acabamos por direcionar essas pessoas para o concurso", explica. "É um mecanismo que, no fundo, nos permite ter acesso a muita gente de uma forma muito espontânea. E especialmente com a facilidade de comunicação através do digital, torna-se muito fácil abranger pessoas do País inteiro", remata Elsa Gervásio.

O caminho do casting ao agenciamento

O processo de seleção da L'Agence é meticuloso e, embora muitos o considerem "redutor", Elsa Gervásio lembra que é "um casting para modelos profissionais". "As características de um modelo internacional não somos nós que ditamos, é o mercado internacional, é aquilo que o mercado quer", relata. Contudo, não descura o facto de até haver uma vertente mais inclusiva.

"No casting, não nos recusamos a ver ninguém", afirma, referindo-se a quem, muitas vezes, não está dentro dos requisitos pré-estabelecidos – ou seja, ter entre 14 e 22 anos, assim como uma altura mínima de 1,80 metros, no caso dos rapazes, e 1,70 metros, no das raparigas. "Se virmos que temos alguém abaixo das medidas, mas que tem uma cara espetacular, uma comunicação ótima, um Instagram giro, uma atitude simpática, até somos capazes de experimentar essa pessoa num dos outros departamentos da agência", afiança.

Veja as fotos da edição passada.

Mas como é que isto tudo se processa? Então, à chegada, é preenchida uma ficha de inscrição. De seguida, é hora de tirar medidas e uma fotografia – mas calma, porque ainda não estamos a falar de uma sessão profissional. "É uma foto simples, tipo uma polaroid, só para ficarmos com um registo", confirma Elsa Gervásio.

"Depois, eles desfilam para o júri (e normalmente sou eu e o Luís Graça quem lá está), além de termos sempre um ou dois modelos conhecidos que também acompanham o casting e são jurados", continua, explicando ainda que, no caso de "haver alguém especial", essa pessoa é posta à prova novamente. "Eventualmente pedimos a alguém para desfilar de fato de banho, para tirarmos as nossas dúvidas", acrescenta.

Com os castings terminados, vem a avaliação dos perfis, realizada internamente. "Vemos as fotografias, as fichas e montamos o casting de acordo com o nosso critério. Depois de estar tudo fechado, comunicamos a decisão aos finalistas", continua. Deste grupo fazem sempre parte 20 pessoas – 10 rapazes e 10 raparigas –, que posteriormente vão ser submetidos "à primeira sessão fotográfica profissional, que já pode ser usada como material para os primeiros contactos com os clientes".

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Em setembro, é levada a cabo a final, na qual é eleito um vencedor e uma vencedora. Ainda assim, os outros 18 participantes ficam na agência e é-lhes dada a mesma atenção, no que diz respeito à gestão de carreira. "Fazemos a gestão no mercado nacional e, se tiver perfil, fazemos a ponte com outras agências internacionais", conta Elsa Gervásio.

No entanto, pelo percurso, o novo rosto da L'Agence até pode mostrar que tem jeito para outros ofícios, como a representação, pelo que cabe à agência analisá-los. "As coisas não acontecem de um momento para o outro, é um processo contínuo de acompanhamento, de perceber o que o mercado quer, de propor, de gerir", enfatiza. Nesses casos, "é importante, além da vocação, haver alguma formação, porque "não basta ter uma cara bonita". 

A diretora frisa ainda que tudo isto é analisado ao pormenor. "Não vamos atrás [daquilo que a pessoa acha que quer], não temos essa filosofia – é um bocadinho o inverso. Nós temos de identificar que há um potencial e trabalhar esse potencial. No fundo, trabalhamos todos como uma equipa. Somos um todo", conclui.

Quais são as expectativas para este ano?

"Portugal nunca foi um celeiro de modelos", começa por afirmar Elsa Gervásio, quando questionada sobre aquilo que a L'Agence procura num candidato. Ainda assim, não descura que, "de vez em quando, aparece uma pessoa fora da caixa" – muito fruto do facto de, hoje em dia, o País ser uma mistura de culturas, pelo que já há imensos candidatos com dupla nacionalidade e, por isso, "características mais interessantes".

E há sempre alguém que se destaca. Isto acontece desde há 11 anos, aquando da primeira edição, do qual saiu vencedora Maria Clara Vasconcellos. "Ela trabalhou muitíssimo bem a nível nacional e internacional. Fez todas as Fashion Weeks fora, trabalhou para Gucci, Dior, Prada. Teve uma carreira muito bonita", frisa.

António Andrade e Luana Moreira, vencedores da 10.ª edição do L'Agence Go Top Model. créditos: Rita Almeida/MAGG

Desde então, já que os modelos têm tido carreiras de sucesso, como foi o caso de Maria Miguel, que saiu vitoriosa da edição de 2013 do certame, a L'Agence tomou-lhe o gosto e nunca mais parou. O ano passado, o primeiro lugar do pódio foi tomado de assalto por António Andrade e Luana Moreira, que a diretora também assume estarem a trabalhar bem.

Por isso, agora mais do que nunca, "as expectativas são sempre boas". "Estamos sempre à espera de termos um ótimo casting, de ter um grupo forte de finalistas e de termos dois vencedores que se destaquem realmente e que possamos trabalhá-los a nível nacional e internacional", finaliza Elsa Gervásio.