Porque é que as modelos quando estão a desfilar fazem sempre cara de ovelha? Cara de ovelha é aquela cara das pessoas que não têm expressão, e que nunca muda, nem que o Éder marque um golo à França, nem que apanhem o namorado na cama com a prima direita. Sempre quis ir a um desfile de moda para tentar perceber se ao vivo também era igual, ou se a cara de ovelha era uma cena que só se via na televisão e nas revistas, mas pronto, confirmei: é mesmo assim. Riam-se, pá, ou isso de desfilar é uma seca assim tão grande? São só cinco minutos, imaginem o que é trabalhar 32 anos numa repartição de finanças.

Hoje quis começar com esta dúvida que me inquietava há anos, e senti que precisava de alguém com quem a partilhar. Sinto-me mais leve, obrigado a todos aí desse lado.

Então e o que é que eu andei a espiar aqui no terceiro dia da ModaLisboa? Pessoas. Hoje foquei-me nas pessoas que por aqui andam, nas roupas, nos comportamentos, na postura, nas coisas que fazem. Primeira pergunta que me vem à cabeça: porque é que em outubro de 2018 ainda há pessoas que se fotografam com iPads? Vocês não são chineses, não há necessidade disso. Quem é que está comigo nisto? Todos, acredito. Menos aquelas duas ou três passarolas que andavam por aqui com um mui prático iPad Pro, daqueles com umas 270 polegadas de ecrã, a tirar fotos em poses altamente sensuais. Não eram sensuais, pronto, mas mesmo que fossem, ainda que a fotografada fosse, sei lá, a Luísa Beirão, se ela estivesse a posar para um iPad Pro a coisa ia sempre parecer ridícula. Parem lá com isso, vá, até porque vocês não são a Luísa Beirão.

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Outra dúvida. Desculpem lá a maçada das perguntas, mas um homem vê-se nestes mundos novos e apetece disparar para todo o lado (não é nesse sentido, se bem que…). Cá vai: há mulheres que não se maquilham em casa de propósito para se poderem maquilhar à pala nos stands da Perfumes & Companhia? É isso? Andam dois meses a pensar no look que vão levar à ModaLisboa, vão ao cabeleireiro fazer umas ondinhas, calçam os Louboutin que compraram na Feira da Ladra por 70 biscas há sete anos, e que já têm a sola tão raspada que em vez de vermelha já é cor de rosa, e depois não põem nada na cara para pouparem uns euros ou para não perderem meia-horinha do domingo? E o custo disso é estarem no meio de 750 pessoas sentadas num banquinho a olharem para o teto enquanto vos pintam? Está bem, então.

E aquela malta que vem sozinha para a ModaLisboa e se põe a tirar selfies? Andam por aqui com o ar mais triste e aborrecido do mundo, sentadas numas escadas a fazer scroll no Instagram, mas assim que levantam o iPhone enfiado numa daquelas capas com orelhas e pelo de coelho salta logo um sorriso como se estivessem a viver o momento da vida. Fazem o V com os dedos, o biquinho com os lábios, sorriem, mandam beijos, repetem tudo 1018 vezes, e quando acabam lá se vai o sorriso e volta aquele ar de Bruno de Carvalho acabado de ser corrido do Sporting.

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Para acabar, quero voltar a falar de moda. Fui ver o desfile do Dino Alves e fiquei com duas ou três coisas a fervilhar cá dentro. Uma: que camisas são aquelas com três buracos para enfiar a cabeça, e três golas diferentes? Só conseguia imaginar o Balotelli a tentar vestir uma coisa dessas (para perceber esta espécie de piada é preciso conhecer este vídeo). Duas: então fazem-me uma passerelle em madeira, daquelas com calhas entre cada bloco? Estão mesmo a pedir que as moças enfiem por ali um salto alto e se esbardalhem ao comprido, não é? Terceira: então agora vou ter de usar calças à boca de sino na primavera-verão? Não façam isso aos homens, é um pedido especial. Pode ser?

E pronto, com isto termino o meu terceiro dia de espionagem na ModaLisboa. Parece que estou de volta para a semana no Portugal Fashion. Vemo-nos por lá.

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