Tal como em qualquer semana da moda que se preze, há um certo fascínio (e mistério) em torno da primeira fila da sala de desfiles da ModaLisboa, que acontece no Pátio da Galé. Afinal, que atire a primeira pedra quem nunca entrou numa apresentação e espreitou, ainda que discretamente, para perceber quem ocupa aqueles lugares tão cobiçados. É o local onde se cruzam jornalistas, celebridades, influencers, designers e até figuras inesperadas.

Ali sentam-se nomes que, de uma forma ou de outra, se predispõem a moldar o presente e o futuro da moda portuguesa, mas o critério que alicerça essa seleção não é tão óbvio quanto se possa pensar. Não se trata de estatuto, influência ou visibilidade — embora esses fatores também tenham o seu peso, claro. A escolha de quem se senta na fila da frente é uma dança entre representatividade, estratégia e, claro, um pouco de diplomacia.

Quem o diz é Joana Jorge, project manager da ModaLisboa, à MAGG. E tudo depende da capacidade da sala, que varia entre edições e até mesmo nos diferentes desfiles que compõem cada uma. "Nesta edição temos à volta de 200 lugares na primeira fila, na última tínhamos claramente menos", explica, referindo-se à ModaLisboa Capital, que chega ao fim este domingo, 9 de março.

"Quanto mais primeira fila há, mais fácil é o trabalho dos RP's [as pessoas que fazem a gestão dos assentos]", continua a responsável. No entanto, mesmo com mais espaço, há sempre decisões a tomar, visto que esta zona deve ser "um reflexo da heterogeneidade" que a organização quer trazer para o evento. Isto significa, portanto, que há muito mais do que caras conhecidas a terem o privilégio de ali se sentarem.

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joana jorge modalisboa Joana Jorge, project manager da ModaLisboa créditos: LOUIE THAIN

Não há uma fórmula mágica ou universal, mas há certas diretrizes que são seguidas. "Temos sempre lugares alocados a patrocinadores e parceiros, de forma protocolar, e a designers e aos seus convidados, que podem ser famosos ou anónimos [como amigos e familiares, por exemplo], mas que são importantes para eles", afiança Joana Jorge. A isto não se exclui a imprensa nacional ou internacional, que tem tido cada vez mais expressão. 

Temos uma relação de fidelização com alguma imprensa porque [os jornalistas internacionais] sabem que vêm ver coisas de qualidade e diferentes", garante, acrescentando que sente que o trabalho que têm feito, "a sua presença ao longo dos tempos, a presença em redes internacionais e a forma welcoming e simpática com que são recebidos faz com que haja passa-palavra".

Distribuir esses lugares é uma autêntica epopeia e a responsável garante que não há missão mais árdua. "É o trabalho mais difícil da ModaLisboa", admite, sem rodeios, não deixando de frisar que o objetivo passa sempre por "tratar todos bem". "Trabalhamos com pessoas que têm esse mérito e esse conhecimento, que sabem receber bem e fazem o melhor para que toda a gente fique bem sentada e contente", continua.

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Esta missão também passa pelos designers, a quem é dada a oportunidade de "gerir à sua maneira" e poderem "cuidar e dar reconhecimento às pessoas que eles precisam". Depois, o trabalho da ModaLisboa diz respeito à "comunicação, que passa por dar lugar a influencers, a pessoas da música, da cultura e, no fundo, que representem vários convidados que há no evento, que são muito distintos". 

Ainda assim, apesar da minúcia que criar um plano justo e estratégico pressupõe, há sempre quem não fique satisfeito. Afinal, a primeira fila continua a ser um símbolo de visibilidade e, para alguns, de estatuto. "Não invalida que às vezes haja uma luta. As pessoas querem essa atenção e esse reconhecimento", admite Joana Jorge, frisando que, nos casos em que os ânimos escalam, o truque é "lidar com diplomacia".

No fim, a project manager do evento destaca que o foco é outro e que vai além das caras conhecidas. "A forma como olhamos para isto [dos lugares da primeira fila] é sempre numa lógica de dar bom retorno ao evento e aos nossos designers", afiança a responsável pelo evento. "Temos sempre em conta quem é que são as pessoas que são relevantes, que podem ajudar os nossos designers a ganhar mais visibilidade, porque, no fundo, é sempre esse o nosso objetivo", remata, explicitando é bem mais do que um simples golpe de sorte.