A edição deste ano da ModaLisboa, sob o tema Capital, foi um verdadeiro espelho da moda portuguesa: dinâmica, resiliente e sempre em transformação. O evento, que decorreu de quinta-feira, 6 de março, a domingo, 9, em quatro localizações de Lisboa, ficou marcada pela ausência de nomes como Buzina, mas também pelos regressos de Alves/Gonçalves e Nuno Baltazar ao alinhamento.

Apesar de tudo, o "balanço [desta edição] é super positivo", diz Joana Jorge, project manager da ModaLisboa, à MAGG. "Sinto que os designers estão muito focados, a trabalhar de forma cada vez mais próxima dos seus consumidores e mercados. Estamos a mostrar moda de qualidade e a provar que a moda portuguesa está ao nível da moda internacional e que há muito talento que vale a pena apostar cá dentro", continua.

No que diz respeito ao conceito Capital, este não surgiu ao acaso. "Queríamos muito celebrar a cidade de Lisboa, trabalhar a moda em diálogo com a cidade, criar outras oportunidades para os designers e para a nossa cultura", diz a responsável, assumindo que a palavra-chave desta edição "surgiu como uma brincadeira que é geográfica, mas também um ponto de partida para se falar sobre talento e criatividade".

Se Lisboa é uma capital de moda? A resposta está no crescimento e na visibilidade que o evento tem conquistado a nível internacional, mas não podemos ignorar que subsistir num mercado como o português é uma tarefa hercúlia. O cancelamento da última edição do Portugal Fashion é um alerta para as dificuldades que o setor enfrenta – assim como o facto de Luís Buchinho ter afirmado que, provavelmente, não vai voltar a apresentar coleções.

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joana jorge modalisboa Joana Jorge, project manager da ModaLisboa créditos: LOUIE THAIN

"Vemos com preocupação as dificuldades dos designers, sabemos que manter uma marca é um trabalho de muito investimento, mas tentamos apoiar e nutrir dentro do que está ao nosso alcance", reflete Joana Jorge. "Não nos podemos esquecer que a moda é uma indústria, e que, para sobreviver, precisa de um ecossistema sólido", continua, frisando "que é preciso apoiar e promover o talento" e que o evento luta diariamente, fruto de "um trabalho de continuidade", para que isso seja possível.

"Gostamos muito do que fazemos, acreditamos muito na moda, acreditamos muito em valorizar o talento que está à nossa volta e isso de facto é o nosso drive. E tentamos puxar isso em tudo o que nós fazemos", afiança. Isso é possível graças ao "apoio incondicional da Câmara de Lisboa", mas também de marcas e parceiros, que garantem que o evento vá para a frente.

Garantindo que vão "à procura de mais apoios" e que, neste momento, estão "a fazer várias candidaturas para garantir patrocínios" que os permitam subsistir, Joana Jorge admite também que o objetivo não é que este seja um evento isolado. "Nós não somos só sobre desfiles. Fazemos desfiles, fazemos exposições, estamos em diálogo com organizações e estamos à procura de informar sobre a moda em vários sítios e em várias partes da sociedade", reitera.

Prova disso é tudo aquilo que acontece durante estes dias corridos. "Tivemos um primeiro dia de conversas no MUDE, com a Embaixada de Itália, a falar sobre sustentabilidade e a dar palco a pessoas com opiniões relevantes. Estivemos no CAM com a Constança Entrudo, com diálogos entre artistas e designers", afirma, dizendo que isso é reflexo de que a moda "não está fechada entre quatro paredes" – e mais do que nunca, Lisboa tem-se afirmado como um epicentro desse caráter expansivo.

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Afinal, se pensarmos na génese da ModaLisboa e na visão de Eduarda Abbondanza e de Mário Matos Ribeiro para o evento, que a fundaram em 1991, "sempre foi essa", garante a responsável. "Nesse aspeto, eles estavam à frente do seu tempo e perceberam que fazer uma semana de moda em Lisboa era celebrar a individualidade de Lisboa, da nossa cultura" e passar isso lá para fora. "Acho que isso continua a ser o nosso mote e aquilo que nos faz avançar todas as edições", confirma.

Apesar das conquistas, há ainda um longo caminho a percorrer – até porque "o mundo está a mudar drasticamente e a moda, como indústria, está a mudar com ele". Por isso, Joana Jorge diz que "temos de ser mais responsáveis, fazer boas escolhas, comprar menos e melhor, e apoiar o talento local" – algo do qual a ModaLisboa acaba por ser uma montra, assim como dos encontros das pessoas de diversos setores.

Esse encontro entre diferentes perspectivas, aliado ao trabalho incansável da organização e à colaboração com parceiros, tem permitido que a ModaLisboa continue a ser um evento relevante e inovador, mesmo perante desafios económicos e estruturais. No que diz respeito à próxima edição, a organização já começou a "a germiná-la". Por isso, é esperar seis meses para ver o que dali vai sair.