Aos 24 anos, Mariana Ribeiro tem três amores: as redes sociais, o marketing e a moda. Foi durante o ensino secundário que a agora criadora de conteúdos lançou uma marca de biquínis, que, embora "super amadora", era a concretização de um sonho — ter um negócio seu.

Agora, mais velha, experiente e madura, tem a sua própria marca, a Flair by MR, que vem juntar as suas três paixões. Esta marca de roupa ficou disponível em março de 2020, "precisamente no dia em que houve lockdown", conta-nos a influenciadora, que decidiu avançar mesmo assim "porque já estava tudo preparado". "Não sabíamos quando é que as coisas iam melhorar", recorda.

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Foi "realmente uma altura chata", porque "as pessoas ainda estavam muito sem perceber o que ia acontecer". "Agora vou comprar roupa para ficar em casa?", pensava o público, de acordo com Mariana, que admite que lançar a primeira coleção da Flair foi "difícil".

Licenciada em Economia pela Faculdade de Economia do Porto, Mariana Ribeiro considerou o curso algo "demasiado teórico". Depois de se licenciar, fez um ano de pausa para pensar que caminho seguiria. Durante esse ano, descobriu um gosto que desconhecia pelo marketing, começando a fazer publicações nas redes sociais sobre esta área à medida que aprendia mais.

"Comecei a criar conteúdos para as minhas redes sociais, como hobbie e sem muitos objetivos"

"Sou uma pessoa muito criativa, então comecei a tentar arranjar um escape daquele curso de que eu não estava a gostar. Comecei a criar conteúdos para as minhas redes sociais, como hobbie e sem muitos objetivos", elaborou. Não tardou a decidir tirar um mestrado em Gestão de Marketing na ESADE, em Barcelona.

Identificou-se com o plano de estudos e, como gostou imenso de fazer Erasmus durante a licenciatura, pretendia "continuar a ter uma experiência internacional". O mestrado durou um ano. "Lá fora, os cursos são mais desenvolvidos a nível de marketing digital, mais práticos. Queria muito a parte de usar ferramentas", explicou-nos sobre esta escolha, que se revelou acertada.

"Adorei, foi uma experiência incrível", assegurou-nos. Ao mesmo tempo, dedicava-se cada vez mais às redes sociais e cogitava a Flair. Criou um canal no Youtube, começou a seguir mais criadores de conteúdos, e encontrou potencial. Muitos cursos online depois, estagiou numa empresa de marketing em Barcelona para concluir o mestrado.

Findos os estudos, regressou para Portugal. Natural de Vila do Conde, optou por mudar-se para a capital e por se focar a 100% na Flair e nas redes sociais. "Estou numa fase de crescimento. Está a correr bem, e eu sei que é isto que quero fazer", admite a jovem, que desde sempre foi apaixonada por vendas e por negócios através da Internet.

"Faltava aquele estilo de fast fashion, mas diferente, confecionado em Portugal"

Quando imaginava a Flair, projectava um negócio diferente daquilo que já existia em Portugal. Queria criar uma marca mais direcionada ao público jovem. "O mercado das marcas portuguesas está focado num público mais maduro, peças mais adultas, mais acima dos 30 anos. Faltava aquele estilo de fast fashion, mas diferente, confecionado em Portugal", pensou.

Esse foi o mote para a marca de roupa online que, em setembro, adquiriu um novo rumo. Foi feito um rebranding, que resultou em alterações nos valores, na missão, nos objetivos, na imagem e no conceito da Flair — aplicando tudo aquilo que aprendeu no mestrado.

Mariana Ribeiro e a sócia tentam lançar duas grandes coleções ao longo do ano: uma de primavera/verão, em abril/maio, e outra de outono/inverno, em outubro/novembro. Em novembro do ano passado disponibilizaram a coleção Barcelona e, para esta estação, a Lisbonita. Barcelona, pois estava a viver lá e aprecia o estilo espanhol, que reconhece na Flair. "Foi uma fase da minha vida e a marca comunica muito com base na Mariana Ribeiro", adianta.

"Agora, mudei-me para Lisboa e pensei fazer uma aqui, porque marca novamente uma fase do meu percurso", acrescenta sobre esta coleção inspirada em Lisboa, que foi a mais bem sucedida até agora. "Foi um feedback que nunca tínhamos tido. Esta coleção marca pela diferença. Temos os sets, fizemos os nossos próprios padrões", adiantou.

As duas grandes coleções demoram mais tempo a conceber, pois contêm mais peças, desde os vestidos aos tops, os calções às saias. "Englobam quase um closet todo", refere Mariana Ribeiro. A produção é feita no norte e há dois showrooms que as clientes podem visitar para experimentar a roupa, mediante marcação: um em Vila do Conde e outro em Lisboa.

"Há pessoas a ir lá efetuar trocas, experimentam as peças, outro tamanho", explica a responsável, esclarecendo que a Flair tem uma política de trocas e devoluções. É uma solução para quando existe alguma hesitação em encomendar a peça por temer como vai assentar no corpo. "Normalmente, aquando dos lançamentos é quando temos mais pedidos. Na coleção Lisbonita tivemos muita gente a vir ver ao vivo, experimentar", afirma.

Além das duas grandes coleções, ao longo do ano vão efetuando lançamentos esporádicos. No último Natal, lançaram uma coleção só com vestidos apropriados à época das festividades (coleção This Christmas). Em abril apostaram em fatos de treino (coleção Cozy But Make It Cute) e, a 3 de agosto, numa coleção só com tops com brilhos para sair à noite (Por La Noche).

Esta mais recente coleção cápsula apenas tem partes de cima — no caso, seis tops. Procuraram as tendências, escolheram os tecidos com base no que está a resultar melhor no mercado, e avançaram. "Tem sido incrível. Toda a gente diz que a Flair está muito diferente do que era", confessa a influenciadora, que já tem o plano de coleções para lançar até ao final do ano definido.

Pretendem, com estas coleções, "tentar criar peças, conjuntos e padrões que só se comprem na Flair". Trabalham com freelancers no design das peças, no web design e no design das redes sociais. A confeção fica a cargo de uma designer de moda depois de os modelos ficarem definidos, algo que costuma demorar cerca de um mês, com todos os ajustes.

Aprovados os protótipos, passam para a modelagem e, daí, feito o controle de qualidade, produzem os primeiros tamanhos para a realização da campanha fotográfica, que acontece "normalmente com duas semanas de antecedência do lançamento, para depois começar a comunicação", revela a influenciadora digital.

As coleções são fotografadas por Márcia Soares e têm sempre Mariana Ribeiro como uma das modelos. A criadora da marca escolhe outras duas pessoas, idealmente "que se estejam a iniciar neste mundo da moda, das redes sociais", já que pretende "dar oportunidade a outras caras", pois sente que são sempre as mesmas nas marcas portuguesas.

Porém, na coleção Por La Noche as modelos foram cinco seguidoras e clientes da marca. Mariana notava que o seu público queria fazer parte da Flair e participar e, com esta iniciativa, conseguiu perceber melhor "quem está do outro lado, do que é que gostam e ter o feedback".

"Ainda não está nos planos, mas gostava de abrir uma loja física no futuro"

Mariana e a sócia têm "100% de controlo acerca de onde é que tudo é produzido e como". Esforçam-se por escolher sempre as opções "mais sustentáveis possível", recicláveis e com a menor quantidade de poliéster. O plástico é evitado, tal como o desperdício, "até no plano de corte", sendo que chegam a reaproveitar tecidos de coleções passadas que acabaram por sobrar.

Uma vez que estão numa pequena confeção e não numa fábrica, quase todas as peças são limitadas. "Compramos a quantidade de tecido que achamos que vamos vender e quando acaba não há mais", alerta. Os saldos costumam acontecer no fim das coleções (e atenção: a Flair vai ter promoções já no próximo mês).

As peças mais vendidas são as que Mariana Ribeiro partilha no seu perfil do Instagram, mostrando-se a usá-las. Embora muito do público consumidor da Flair advenha da influenciadora, a jovem já nota que começam a chegar clientes que não a seguem e que nem sequer a associam à marca.

O público alvo tem idades entre os "22 e os 26 anos". Um público que "gosta, quer apoiar marcas portuguesas e ser mais sustentável, mas ao mesmo tempo quer ter cor, ter coisas jovens, padrões". No futuro, a Flair vai ter biquínis e, idealmente, até uma loja física.

"Ainda não está nos planos, mas gostava de abrir uma loja física no futuro, além dos showrooms. Não necessariamente só Flair, pode ser uma concept", imagina Mariana, que também já tem algumas ideias de negócios "mais direcionados para a parte do marketing". "Expandir para fora, principalmente Espanha" também é um objetivo a atingir para esta marca que quer mostrar que a moda pode e deve ser divertida.