Quantas vezes não passou por um daqueles mercadinhos de rua e acabou por se apaixonar por uma das marcas que lá tinha uma banca? E quantas vezes não percebeu que seria difícil voltar a encontrá-la de forma presencial, por só ter negócio online?
O projeto The Portuguese Concept quis contrariar isso, reunindo, em lojas físicas, dezenas de marcas nacionais que até então apenas comercializavam pela Internet. A ideia é da autoria do casal Vera Török e Diogo Morgado. Ambos já tinham as próprias marcas e conheciam bem este obstáculo.
"O facto de também termos marcas dá-nos experiência e uma sensibilidade própria", considera Vera, há quatro anos responsável pela Mel Studio, um paraíso de joias. Diogo, que há três anos criou a Travelling Socks (com meias cujos padrões representam o melhor de cada país), está de acordo.
Como surgiu este santuário das marcas portuguesas?
Ambas as marcas "começaram a crescer e a correr super bem" e o próximo passo foi a "procura de espaços em Lisboa" para "fazer uma coisa diferente", assim como disse Diogo Morgado à MAGG. Serviram-se das marcas que conheceram nesses mercados em que também participavam e formaram a The Portuguese Concept.
Ao criarem esta concept store, queriam "reunir marcas mais emergentes, que ainda não são assim tão fáceis de encontrar em locais físicos", explicou Vera à MAGG. O objetivo? "Mostrar as marcas portuguesas tanto ao público português, que quer muito consumir o que é nacional, mas que não sabe bem onde encontrá-lo, como aos turistas, para que percebam que cá também temos coisas muito giras."
"Muitas das marcas não estão preparadas para ter lojas próprias devido ao investimento monetário e de tempo", argumenta Vera, que relembra que nas marcas de roupa, por exemplo, "as pessoas sentem que precisam de tocar e de experimentar", o que traz a necessidade de um espaço físico.
O primeiro espaço da The Portuguese Concept abriu em dezembro de 2019 no LX Factory. "Apanhámos a pandemia, mas correu sempre lindamente", garantiram à MAGG, acrescentando que adoram a "vida do LX", por ser "mais alternativo". Mas havia desvantagens, como o facto de ser uma loja pequena. "É ótimo para o público português, mas este nem sempre vai lá", acrescentam.
Assim, surgiu a vontade de expansão e, em setembro de 2022, abriram no Chiado, junto ao Terreiro do Paço. "Queríamos crescer, mas já não tínhamos espaço. Pensámos em abrir mais uma loja com o mesmo conceito, num sítio que pudesse apanhar mais público português. Chiado era a resposta mais óbvia e que fazia sentido", relembra Vera Török.
Que marcas estão presentes nestes espaços físicos?
O casal tinha exigências específicas e não dispensava "os detalhes caraterísticos da baixa lisboeta". Fizeram um rebranding, mantiveram a loja do LX Factory aberta, "exatamente com o mesmo conceito", e trouxeram todas as marcas que já tinham neste primeiro local, acrescentando outras novas, como a Cluoh, de acessórios em pele, e as marcas de roupa Monarte e Flair, da influenciadora digital Mariana Ribeiro.
"Eram marcas que já queríamos, mas não as conseguíamos ter", diz Vera, referindo-se às que já não cabiam na primeira loja. Agora, disponibilizam cerca de 20 marcas, com elementos decorativos, peças de roupa, acessórios e muito mais. Tentam que a disposição nas lojas seja organizada, coerente e que permita a inclusão do máximo de marcas possível, sem que esteja tudo amontoado. "É um desafio", reconhecem.
A nova loja, com conceito urban jungle, até uma árvore tem. Ao entrar, está uma secção mais dedicada para mulher. Também as marcas sustentáveis estão todas juntas, assim como aquelas com produtos para o sexo masculino. Como há marcas sazonais, vão trocando. A título de exemplo, se quiser encontrar swimwear, é melhor esperar pelos meses mais quentes.
"Gostamos que haja alguma rotatividade, novas coleções, novas estações. Todas as marcas que estão no LX Factory estão no Chiado, mas o inverso não acontece", refere Vera. A parceria que estabeleceram com a marca Seiva by Piramidal resultou na disposição de vários elementos decorativos que tornam o ambiente mais rústico (e que ajudam na criação da tal selva urbana).
A forma como o novo espaço está decorado acaba por atrair as pessoas, crêem. O facto de apostarem em produtos fáceis de entender e rápidos de adquirir também contribui para essa agilidade. "O importante é que se sintam confortáveis, manter tudo por secções, bastante apresentável e bonito. Tentamos fazer uma loja à nossa imagem, com o nosso estilo e com qualidade", elaboram.
"Numa venda de 200€, não queremos que seja de uma marca só. Para nós, é ideal que comprem de várias marcas. Depois, levam os cartões e podem encomendar online", acha Diogo. Os interessados podem ainda fazer a compra pelo site das marcas e pedir para a levantar em loja.
E como é feita a seleção das marcas? "Trabalharmos em conjunto é importante. Queremos que as marcas nos ajudem a trazer as pessoas cá", começa por referir Vera. "Preocupamo-nos em fazer uma boa curadoria das marcas. Temos umas mais pequenas, outras com 50 mil seguidores", refere.
São projetos mais "informais" e não tanto de designer ou com criações muito caras. Por norma, estão entre os 10 e os 150€, embora haja peças cujo valor está acima ou abaixo dessa baliza. Estão sempre duas pessoas na loja, uma dedicada aos pagamentos, na caixa, e outra ao acompanhamento e aconselhamento dos clientes, assim como nos elucidou Diogo.
A The Portuguese Store está inserida na empresa Bali Purpose. "O nome é aquilo que queremos fazer", revelou-nos Diogo, explicando, de seguida, que o casal é apaixonado por Bali, ilha indonésia. "Em 2023 vamos para lá viver algumas temporadas e trabalhar remotamente. Também vamos casar lá", diz Diogo. "Estamos a contar os dias", acrescenta Vera.
E foi também esta paixão que marcou a identidade do projeto. "Se queremos ir para Bali, vamos trazer Bali para Lisboa", comparam. Os espaços The Portuguese Concept vão continuar a funcionar da mesma forma. "As marcas têm-nos dado um ótimo feedback. Está a correr muito bem", asseguram-nos.
Para o futuro do projeto, está nos planos organizar alguns eventos e "expandir no online", mas não só: "Queremos ser uma referência no panorama nacional, o 'where to go' para comprar o que é nosso. E queremos continuar a ser casa para as marcas portuguesas".