Ao chegarmos ao recinto onde o desfile da Buzina se iria realizar este sábado, 11 de março, no âmbito da ModaLisboa, não sabíamos o que esperar. Uma coisa boa seria de certeza, sendo que Vera Fernandes, a criadora da marca, tem elevado a fasquia de tal forma que era impossível já não estarmos à espera das peças mais instagramáveis de sempre.

Sentámo-nos e esperámos que uma voz anunciasse o arranque do desfile, como tem sido feito em todos. E foi quando a canção "Bruises", de Chairlift, começou a ecoar no pavilhão que tivemos uma certeza: vai ser uma coleção animada, a puxar para o romântico e que, fundamentalmente, nos vai fazer sentir alguma coisa. E fez.

Não foram sentimentos levianos, até porque não conseguimos esconder a nossa expressão de surpresa ao olharmos para a primeira modelo – se houver registos fotográficos desse momento, denunciem-nos, se fizerem favor. A manequim usava a um vestido abaloado, cujo tom puxava para o magenta e que contava com a presença de um quarteto de girafas. Confuso? Sim. Mas calma, porque o facto de termos ficado surpreendidos é o que nos faz apreciar tanto a mestria de Vera Fernandes, que se foi manifestando no corpo das modelos que pisaram a passarelle de seguida.

As silhuetas espalhafatosas foram uma constante, fazendo com que cada peça não passasse despercebida. E este aspeto adensou-se cada vez mais quando as cores garridas começaram a entrar em cena – assim como os quartetos de girafas, que marcavam presença em várias das criações. Ficou claro, desde logo, que a Buzina quer voltar a dar um bom nome aos néons, já que do verde ao laranja, passando pelo magenta e pelo azul (e até uma mistura de vários destes tons em inúmeras peças) não faltaram cores garridas.

ModaLisboa. Será que os fashionistas acertaram nestas 5 perguntas sobre moda? Veja o vídeo hilariante
ModaLisboa. Será que os fashionistas acertaram nestas 5 perguntas sobre moda? Veja o vídeo hilariante
Ver artigo

"Onde é que poderíamos usar estas peças?", era a pergunta que nos ecoava na cabeça. Mas, num mundo em que as regras da moda deixaram de existir, pensámos: "bem, talvez possamos usar qualquer uma destas peças em todo o lado". Por via de dúvidas, fomos questionar a própria Vera Fernandes em busca de uma resposta – e foi aqui que tivemos a certeza desta afirmação.

"Eu visto o que me apetece, à hora que me apetece e quando me apetece. Portanto, assumirmos que temos um dress code é relativo", explica Vera Fernandes à MAGG. "Mas usava qualquer um deles para ir comprar pão", frisa, entre risos. De facto, não conseguimos imaginar maneira mais glamourosa de cumprir essa tarefa.

"Acho que tem que ver com o estado de espírito, com o nosso propósito e com aquilo que queremos transmitir quando saímos à rua. Tem sempre que ver com a situação e com aquilo que queremos transmitir quando estamos a vestir as peças", conclui a fundadora da marca.

Mas, afinal, em que é que a coleção foi inspirada?

A Buzina, pelo menos nesta coleção, foi autossuficiente. Trocado por miúdos, toda a inspiração de que Vera Fernandes necessitou estava na identidade da marca, cujos alicerces estão montados há sete anos. "Senti necessidade de mostrar a essência da Buzina, de onde é que viemos, como é que começámos. A Buzina começou assim: com volumes, com exageros, com folhos", afiança a criadora.

E todas estas propostas vieram no tempo certo. Uma altura da vida da marca que pressupunha uma pausa necessária. "É um parar para pensar, é uma reinterpretação de muita coisa que já foi feita. Já há muito que queria ter feito isto", continua, em conversa com a MAGG. "Mais do que que um ponto de situação, é para as pessoas perceberem onde estamos agora, para perceberem o nosso ADN", adianta.

"Quis causar isto nas pessoas, essa irritação, buscar algum sentimento, alguma vibração. Introduzir o néon foi precisamente isso – já que é para ser confuso, caótico e extravagante ao máximo, vamos abusar nas cores, que nunca tinha acontecido", acrescenta Vera Fernandes.

Uma coisa é certa: "Buzinificar" foi o mote, segundo a designer. O que quer dizer com isto? Então, "levar as coisas a um extremo", transformando-as à semelhança de quem as criou. E, verdade seja dita, considerem-nos santificados (ou "buzinificados", como quiserem), porque já não sabemos como é que é suposto ir ao pão sem a extravagância destas peças.

Espreite a coleção.