"A alegria é a coisa mais séria da vida". A frase de Almada Negreiros, proferida em 1932, atravessou décadas até chegar, pelas mãos de Francisca Nabinho, à ModaLisboa Base, que decorre até domingo, 5 de outubro. Jovem designer e finalista do Sangue Novo na edição do ano passado, a criadora trouxe para a passerelle uma coleção que se cose com linhas de manifesto, vitalidade e energia coletiva. E sim, é também moda pronta a vestir."Foi espetacular, foi uma grande descoberta, foi super experimental. Tivemos que trabalhar muitos materiais, ter muitas texturas, fazer misturas e, portanto, para mim, foi espetacular e adorei. Agora que tentei mostrar uma versão que é mais ready-to-wear, já estamos noutra fase e eu quero muito viver disto”, diz à MAGG, no rescaldo do desfile, que aconteceu esta sexta-feira, 3 de outubro, fazendo o contraponto da evolução das suas coleções desde a participação no concurso.

O salto para se apresentar como criadora, oficialmente, na ModaLisboa, veio de mãos dadas com uma maturidade diferente. “Através do styling, quis dar à coleção um lado mais autêntico e uma identidade muito forte, obviamente. A minha identidade vai ser sempre esta, vai ser sempre uma coisa de misturar e refrescar, movimento, ritmo, quero sempre que isso esteja sempre no processo na marca", acrescenta, dizendo que foi especialmente importante nesta altura, em que está a rumar para tornar esta paixão "mais sustentável a nível financeiro".No que diz respeito à inspiração literária de Almada Negreiros, esta assumiu-se como ponto de partida e, simultaneamente, fio condutor. “A frase diz tudo, não é? Quis definir isso como mote para esta coleção, sem dúvida", relata, dizendo que o objetivo é mostrar que a marca pode ser "divertida" e ter uma componente de boas energias, que deve ser experienciada coletivamente, algo que ficou patente na apresentação.

Por isso, se for fã de peças ecléticas, veio ao sítio certo. Pode esperar da linha de primavera/verão 2026 muita cor, geometria e ritmo (uma forma de alegria que também é resistência). Nos bastidores, a designer não esquece a sustentabilidade como fulcral para o seu modus operandi, sempre com foco "nos materiais naturais", como foi o caso desta coleção, sendo que vieram de uma "fábrica muito pequenina", ou das joias de cerâmica, que provam a sua atenção à matéria-prima.

Francisca Nabinho SS26
Francisca Nabinho SS26 Francisca Nabinho créditos: © ModaLisboa | Photo: Ugo Camera

E aqui entra a parte que mais importa a quem vê moda não só com os olhos, mas também com o corpo: os looks. Foram 16 no total, e todos parecem pensados para saltar da passerelle diretamente para o armário. Há uma honestidade rara na forma como a jovem designer trabalha o equilíbrio entre conceito e o que é usável e talvez seja isso que faz a coleção soar tão fresca: não sacrifica a ideia em nome da praticidade, mas também não cai no erro da moda inalcançável.Essa preocupação já a tinha levado a colaborar com o Layers, "o primeiro estúdio de styling 100% sustentável" (se passa muito tempo no TikTok, certamente que este arranque não lhe será estranho). E, mesmo reconhecendo os obstáculos, não baixa os braços. "Portugal é um País muito pequeno, às vezes há poucas oportunidades, as que existem, acho que vou agarrando. Mas vai-se fazendo, e é acreditando e continuando sempre a fazer que isto vai acontecer", reitera.

Sobre o futuro, Francisca Nabinho não hesita em dizer que quer consolidar-se no imaginário dos portugueses – e, quiçá, além-fronteiras. "Eu quero mesmo que a marca seja vista e sentida por mais pessoas, portanto acho que a presença na ModaLisboa é essencial. Eu gosto desta energia que se sente aqui, portanto vou continuar a apresentar", remata, levantando a ponta do véu em relação aos próximos capítulos da insígnia.

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