A ModaLisboa terminou este domingo, 8 de outubro, mas o nosso espírito ainda continua no Pátio da Galé, em Lisboa, onde o certame esteve a decorrer desde sexta-feira, 6. Temos de ser honestos: o tempo parou e os ponteiros do nosso relógio continuam a marcar as 19h30 (aproximadamente, vá), altura em que estávamos de olhos postos nos Best Youth, a banda portuense que abriu o desfile de Luís Carvalho.
Interpretando algumas das canções que deram vida aos desfiles do designer de Vizela, sente-se um ambiente de festa, já que aquilo que está em causa é uma década desde a primeira vez que as suas criações pisaram o solo da ModaLisboa. E tendo em conta o período conturbado que a moda de autor atravessa em Portugal, é um marco que deve ser assinalado com toda a pompa e circunstância.
"Enquanto designer, [Luís Carvalho] é exatamente a mesma pessoa, só que com mais 10 anos em cima", começa por dizer o criador, entre gargalhadas, no rescaldo da apresentação da coleção Shelter 2.0, que, como o nome denuncia de imediato, é uma reinterpretação da linha que apresentou neste mesmo certame há uma década – mas não descura que, com o passar dos anos, houve "um amadurecimento da marca" e da maneira como as peças são desenvolvidas.
Ainda assim, "mantém-se a mesma estética, o mesmo ADN", frisa o designer. E, dúvidas houvesse, Shelter 2.0 deixa isso patente – apesar de haver poucos (mas bons) fatos, há muitos casacos estilo bomber, com as silhuetas a que o desginer nos habituou, que pendem entre o fluido e o estruturado. O metalizado e o holográfico também estão de volta, bem como as riscas e um padrão estilo mármore que, exceptuando a paleta de cores, é o mesmo da primeira coleção e está presente em conjuntos de seda.
"É uma coleção que pode quase unir-se à primeira que apresentei", reitera, acrescentando que o facto de ter ido beber inspiração a algo que já existia acaba por ser mais desafiante, sendo que há o desejo de "manter a essência" dessa linha, mas, ao mesmo tempo, também o de a transformar "para ser mais atual e não se tornar repetitiva". E é de frisar que de repetitiva tem pouco, uma vez que, estas peças são para todos. Isto é, o designer debruçou-se sobre um público para o qual, em início de carreira, não trabalhava: o masculino.
Se é difícil sustentar uma marca de moda em Portugal? Luís Carvalho confirma-o – e acreditamos que até tenha usado o quantificador "muito" a meio da frase. No entanto, "quando se trabalha com amor, vale a pena o esforço", conclui. E porque amor com amor se paga, espreite os looks que nos apaixonaram nesta coleção.