Chegámos ao Pátio da Galé, em Lisboa, para o último dia de ModaLisboa, que acontece este domingo, 8 de outubro, de passo apressado. Isto porque estávamos, como sempre, em êxtase para experienciar o mundo através da lente colorida a que Vera Fernandes, a criadora de Buzina, já nos habituou. E nunca estivemos tão enganados em relação ao desfecho de um desfile.
Quando os ritmos frenéticos começaram a ecoar pelo recinto, passou-nos de imediato algo pela cabeça: não vem aí coisa boa, mas vem algo muito bom. Parece paradoxal, sim, mas nós explicamos para que não restem dúvidas – esperávamos uma coleção de arromba, mas que se afastava da identidade já estabelecida pela marca.
E, pelo menos nisso, não errámos, já que, na passerelle, as surpresas apareciam umas a seguir às outras. Dos materiais, que tanto podiam ser veludo como tule (e que são novidade para Vera Fernandes) às cores, desta vez bem mais pardacentas que os néons da edição anterior, passando pelas formas agressivas e austeras, foi uma coleção caótica.
Calma, que não dizemos isto no mau sentido. Aliás, a própria criadora confirmou-nos que o caos é, precisamente, aquilo que esteve no cerne da criação destas peças, fruto de um "processo de transformação muito grande" que a marca está a atravessar. "A coleção chama-se Babel e tem como base o caos", diz-nos, ainda emocionada, no rescaldo da apresentação.
Intitulada Babel, sinónimo de algazarra e de confusão, nunca um nome de uma coleção fez tanto sentido, já que às transformações antecede-se, inevitavelmente, o caos da mudança. "Eu tenho noção de que transformei algumas coisas propositadamente, mas eu acho que, por vezes, é preciso olhar para o caos e ver alguma mensagem, alguma luz de fundo", continua.
"Eu fiz o que me apeteceu", afiança Vera Fernandes, frisando repetidamente as palavras "caótica" e "intensa" para se referir a Babel, que também foi pensada para satisfazer as clientes, que as poderão usar de imediato. Sim, porque se achava que as criações da marca são destinadas à primavera/verão de 2024, desengane-se: elas são para ser usadas "já e agora", conclui a criadora.