A vida é feita da forma como reagimos aos obstáculos que aparecem no nosso caminho e, essencialmente, de escolhas. Este ano, Luís Onofre viu-se obrigado a fazer uma: apresentar a sua coleção de primavera/verão de 2025 na ModaLisboa, depois de uma ligação frutífera e duradoura com o Portugal Fashion, no Porto, devido à fase crítica que o certame do norte atravessa, resultante de uma crise de financiamento que afetou a viabilidade do evento.
"Não podia continuar nesta situação", diz o designer, que apresentou a sua nova linha de sapatos no domingo, 13 de outubro, na 63.ª edição da ModaLisboa, à MAGG, reconhecendo que o Portugal Fashion está a passar "por uma fase menos boa, se não muito complicada", algo que fez com que lhe fosse vedada a apresentação das suas novidades anteriores. "Eu acho que não há ressentimento por parte deles, acho que percebem perfeitamente a minha decisão", esclarece.
No entanto, esta mudança não foi apenas uma resposta à crise, mas também uma forma de ir ao encontro dos interesses dos clientes da capital. "Já havia uma apetência de muitos clientes meus de Lisboa, que gostavam que eu viesse apresentar as coleções a Lisboa por não terem oportunidade de ir ao norte", explica Luís Onofre, que viu nesta transição uma oportunidade de se reestruturar.
Este momento de transição coincide com um marco significativo na carreira do designer, a celebração dos 25 anos de marca. Luís Onofre reflete sobre os obstáculos da sua carreira, reconhecendo que "vê mais as dificuldades do que as vitórias". Para ele, ser designer em Portugal é como "um David contra Golias", com o domínio das grandes marcas e as "cópias baratas" a ultrapassarem a moda de autor – por isso, alerta para o risco da "monotonia", caso o público continue a apoiar apenas algumas insígnias.
Apesar do cenário conturbado por que a moda portuguesa se encontra a passar, nem por isso deixou de celebrar o quarto de século da sua marca com uma coleção que oferece pares para todos os gostos. Falamos de "Desire", uma ode ao poder e desejo femininos, na qual o criador, conhecido pelo seu estilo sofisticado e sensual, voltou a reforçar essa abordagem. "O objetivo é tornar a mulher o mais sexy possível, torná-la empoderada, que ela se sinta bem e confiante", sublinha.
Contudo, se há uma prioridade ainda maior do que essa naquilo a que o designer se propõe é, sem dúvida, o conforto. Esta é uma constante que tem marcado o seu ADN criativo desde o início da carreira. "O conforto está em primeiro lugar na minha coleção, depois o design, numa segunda fase", frisa. Isto é facilmente comprovado, se tivermos em conta que várias das suas criações têm, no salto, uma pedra, perfeita para que as caminhadas na calçada portuguesa deixem de ser um pesadelo.
Outro elemento que se destaca na coleção é a utilização de apliques de joalharia nos sapatos, uma técnica que aperfeiçoou ao longo destas mais de duas décadas. "Gosto muito de joalharia, por isso tento sempre dar o meu toque também com uma peça especial", revela, não descurando que aparecem de forma mais subtil nesta linha, piscando o olho a uma estética mais clean, que anda de mãos dadas com as tendências atuais.
No total, existem 44 propostas de calçado para dar mais vida (e sensualidade) às estações quentes do próximo ano. Há sandálias rasas, de salto – uns mais altos que outros – ou de cunha, com pedrarias e detalhes metálicos, e destacando cores como roxo, azul, verde, laranja, bordô ou o clássico preto, espreite as novidades.