Na passada quarta-feira, 18 de outubro, às 22h35, publiquei um story na minha conta de Instagram em que partilhei uma notícia da SIC Notícias que tinha como título: “Governo vai atribuir subsídio de desemprego a vítimas de violência doméstica”. Quando esta notícia me apareceu no feed do Instagram, pensei no facto de muita gente poder olhar para esta medida como uma oportunidade para conseguir sacar um subsídio de forma fraudulenta. Não conhecia a medida, nem os seus contornos, mas isso era irrelevante para o caso, porque o meu story não era sobre violência doméstica, mas sobre o fenómeno da criação de esquemas par se chegar a dinheiro a que não se tem direito. Naturalmente, quando digo isto, não estou a falar de pessoas que são efetivamente vítimas de violência doméstica, mas sim de pessoas que não são vítimas de violência doméstica mas irão procurar criar esquemas para aceder a este dinheiro. Burlões, portanto. Vivemos num país em que isto é muito comum, em que proliferam as baixas fraudulentas, em que há fraudes com fundos comunitários, com subsídios de reinserção social, em que há corrupção ao mais alto nível. Foi por isso que o meu comentário, aquando da partilha do story, foi: “Vamos ver os números de violência doméstica a disparar em 3, 2, 1…”. Naturalmente, números falsos de violência doméstica, e não verdadeiros casos de violência doméstica.

Story violência doméstica
Story violência doméstica

Na sequência deste meu story, uma responsável pela comunicação da APAV, de nome Raquel Segadães, resolveu partilhar o meu story na sua conta de LinkedIn tecendo todo o tipo de considerações e juízos de valor sobre mim, partindo, imediatamente, de uma interpretação errada do meu story. Não entendeu o sarcasmo, não percebeu que o story era dirigido aos burlões que usam esquemas para sacar dinheiro público indevidamente, e tratou de me insultar e promover o meu enxovalho público.

Escreveu coisas como “só me resta concluir que ele não quer saber das mulheres que são diariamente atacadas pelos seus maridos, namorados ou companheiros”. Ou seja, uma responsável da APAV não entendeu um story e, com base nessa interpretação errada, promoveu publicamente a ideia de que eu não quero saber das mulheres que são diariamente atacadas pelos seus maridos”. Mas disse mais. Para Raquel Segadães, o meu story sarcástico sobre burlões que se aproveitam de esquemas para sacar dinheiro público revela que eu sou uma pessoa que “não dá valor às vidas delas, aos seus direitos ou à sua subsistência”. Vou deixar de fora aqui a questão de se referir às vítimas como sendo exclusivamente femininas, discriminando os homens que sofrem com o mesmo problema, mas isso é outro tema.

Este post nesta rede social, que citava uma crónica que a advogada Leonor Caldeira escreveu para a Sábado sobre violência doméstica, foi amplamente comentado, gostado e partilhado no LinkedIn, uma rede social profissional, promovendo uma ideia que partiu de uma interpretação, e gerando uma perceção pública altamente negativa e nociva para a minha imagem. Vendo os comentários nesta publicação, bem como nas publicações partilhadas por outras pessoas, podemos ver centenas de comentários altamente ofensivos sobre mim, a minha família, os meus filhos, até.

Mais. Este texto escrito por Raquel Segadães, repito, responsável de Comunicação da APAV, foi amplamente partilhado na rede social X, onde teve um impacto muito maior, gerando centenas de partilhas e milhares de críticas em relação a mim, com todo o tipo de ataques pessoais, profissionais, familiares. Uma verdadeira corrente de cyberbullying que, repito, nasceu de uma interpretação errada que Raquel Segadães fez do meu story.

Mais. Pelo facto de eu ter visibilidade pública, mas sobretudo porque na base estava um texto escrito por alguém da APAV, várias revistas como o “Delas”, do grupo Global Media, ou a “Nova Gente”, entre outras, fizeram notícias citando as acusações de Raquel Segadães, usando expressões da própria dizendo que eu não quero saber das mulheres agredidas e vítimas de violência doméstica. Estas notícias foram partilhadas nas redes sociais das revistas, promovendo todo o tipo de comentários altamente degradantes para mim e para a minha família.

Ou seja, o que a responsável da APAV fez com a sua interpretação errada de um story que eu partilhei foi criar e promover uma campanha brutal de cyberbullying contra mim, um dos problemas abordados e discutidos no próprio site da APAV. Sobre este fenómeno, diz a APAV o seguinte: Cyberbullying é “espalhar informação falsa, assediar/perseguir, incomodar e/ou insultar através de SMS, MMS, e-mail, websites, chats, redes sociais”. Exatamente o que Raquel Segadães fez sobre mim. O que me resta nesta situação? Fazer queixa à APAV?

Antes disso, e ainda na sexta-feira passada, 20 de outubro, alertei, também na plataforma LinkedIn, a autora do texto para a forma errada como estava a interpretar o meu story, pedi-lhe que se retratasse, visto que estava a cometer um erro que estava a ser altamente nocivo para mim e para a minha família. Três dias depois, respondeu ao comentário público com outro comentário. Mesmo perante a evidência de que tinha feito uma interpretação errada do meu story, mesmo depois de lhe ter explicado os danos que me estava a causar com as suas afirmações injuriosas feitas com base em nada, das suas acusações infundadas e difamatórias, nada fez. Insistiu em tudo o que havia escrito, disse ser apenas “a sua opinião pessoal” e que a mesma nada tinha que ver com a APAV. Repito: opinião pessoal baseada em nada, já que não tem qualquer base que sustente as acusações de que eu “não quero saber das mulheres que são diariamente atacadas pelos seus maridos, namorados ou companheiros” e que “não dou valor às vidas delas, aos seus direitos ou à sua subsistência”.

Ainda na rede social LinkedIn, e nos comentários ao post, podem ver-se todo o tipo de insultos que me são feitos, como o facto de sendo parte de “uma corja machista” ou ter “uma personalidade de esterco”. Isto são quase elogios quando comparado com todo o tipo de insultos que me foram feitos em comentários nas redes sociais onde foi partilhada a opinião da senhora Raquel Segadães.

Os posts seguintes, o erro e o pedido de desculpas

À parte disto, e porque a notícia inicial da SIC Notícias me parecia estranha, fui, no dia seguinte a ter partilhado o story, procurar informação sobre o tal decreto-lei que iria ser aprovado e que passaria a atribuir o subsídio de desemprego às vítimas de violência doméstica. Li algumas notícias de jornais de 2022, na altura em que o Livre propôs a medida, mas nenhuma explicava ao certo em que constava. Encontrei, depois, o projeto de alteração à lei proposto pelo Livre, que tinha apenas três linhas e que dizia apenas que as vítimas de violência doméstica passaram a ter direito ao subsídio de desemprego. A interpretação que fiz deste documento foi a de que passaria a existir uma equiparação dos desempregados às vítimas de violência doméstica, o que me parecia uma medida desigual, já que passariam a ter direito ao subsídio todas as pessoas que efetivamente precisam do dinheiro, mas também as que não precisam. Na sequência disso, dei a minha opinião sobre o assunto num vídeo partilhado no TikTok. Para que a minha comunidade de Instagram o pudesse ver, partilhei um story com um link para esse vídeo onde explicava a minha posição sobre esta medida. Repito: tudo isto se passou já depois do artigo no LinkedIn partilhado por Raquel Segadães, ou seja, na base da sua argumentação não estava a minha opinião sobre esta medida, mas, sim, a sua interpretação (errada) de um story publicado no dia anterior.

No meu vídeo no TikTok, explicava que, na minha opinião, o dinheiro público devia ser aplicado de forma mais racional e inteligente, e que era fundamental investir muito na prevenção da violência doméstica, um crime terrível que flagela a nossa sociedade. E explicava de forma detalhada a minha opinião, nunca desvalorizando o problema da violência doméstica, bem pelo contrário.

No dia seguinte, e após o conselho de ministros, uma fonte do governo explicou um pouco melhor a medida que havia sido aprovada e eu percebi que a interpretação que havia feito da medida não era a correta. Imediatamente, fiz um novo post em vídeo na minha conta de Instagram, em formato Reels, a explicar que havia interpretado de forma errada a medida e que, percebendo melhor os seus contornos, sim, entendia que era uma boa lei, e que já não promoveria o desperdício de dinheiros públicos. Pedi desculpa por ter induzido algumas pessoas em erro, corrigi a informação, como qualquer pessoa honesta deve fazer quando se apercebe de que cometeu um erro.

Uma vez mais, estes episódios sobre a medida em si nada têm que ver com o story sarcástico que fiz dirigido aos que procuram esquemas para sacar ilegalmente dinheiros públicos. Nesse mesmo story, poderia estar escrito “violência doméstica” como “abandono familiar”, “crimes violentos”, “pessoas com menos de 1,50 metros” ou “vítimas de burlas informáticas”. Seria indiferente. O story não era sobre a temática em si, nada tinha que ver com a temática em si. Como já expliquei, foi um story sarcástico que visava criticar os que se aproveitam de eventuais fragilidades do sistema público para acederem a verbas às quais não teriam direito.

Tenho 47 anos, 28 anos de carreira como jornalista e criador de projetos editoriais, uma longa lista de ações solidárias para ajudar pessoas em situações de perigo e fragilidade social, que não divulgo porque não tenho de divulgar, sempre fui, sou e sempre serei um defensor e lutador pela igualdade de género, e não admito que uma senhora que não me conhece de lado algum ponha em causa a minha personalidade, honra e bom nome. Vindo de alguém que trabalha na APAV a situação ganha contornos ainda mais graves.

Quatro dias e muitas trocas de mensagens públicas depois, esta responsável da APAV continua sem admitir o seu erro, continua a promoção de uma campanha difamatória sobre mim, refugiando-se na "liberdade de opinião" que lhe é dada pela instituição onde trabalha. Certo. Liberdade de opinião é algo que não é compatível com o crime de difamação, com insultos e promoção de uma campanha que visa o enxovalho público de alguém.

Aguardarei pela retratação pública da senhora, a bem da credibilidade da Instituição que a mesma representa.