Quando aceitei o convite para passar um fim de semana na Quinta dos Machados, um turismo rural na zona de Mafra, tenho de confessar que a curiosidade era muita — já conhecia o empreendimento, mas queria descobrir como é que o espaço funciona num ambiente normal de ocupação.

Passo a explicar: fiquei alojada na Quinta dos Machados pela primeira vez este verão, a propósito do casamento de uma das minhas melhores amigas (que foi épico, já agora). A festa foi num sábado, muitos dos convidados ficaram alojados lá, mas a Quinta dos Machados tinha recebido um outro casamento na noite de sexta-feira.

Como resultado, as camareiras não tinham para onde se virar, as horas de check-in não foram respeitadas, e lembro-me perfeitamente de ser maquilhada num hall de entrada e de trocar de roupa nos balneários do spa, sendo que já só conseguimos colocar as nossas malas no quarto quando regressámos da igreja.

No entanto, e apesar desta menos boa primeira impressão, fiquei sempre com muita curiosidade em regressar em circunstâncias “normais”. Mesmo debaixo de pressão, o staff pareceu-me esforçado e preocupado em ajudar, e o pequeno-almoço merecia que eu tivesse experimentado mais do que a fatia de melão e os 15 copos de água que consumi no domingo de manhã a seguir à festa de casamento (#ressaca).

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Assim sendo, numa sexta-feira ao final do dia, rumei à Quinta dos Machados para um fim de semana de descanso. Para quem vive na zona de Lisboa e arredores, a curta distância — o espaço fica a cerca de 25 quilómetros da capital — é um dos pontos positivos desta unidade, que nos permite viajar depois de sairmos do trabalho e chegar ainda a tempo de jantar.

Estrada Nacional 8,
Barras
2665-006
Telefone: 261 961 279

A Quinta dos Machados tem 29 quartos de diversas tipologias (com 12 quartos com decoração temática, no edifício mais moderno da propriedade), duas casas com capacidade para quatro e cinco pessoas, spa, restaurante e piscina exterior.

Na propriedade de 15 hectares existe ainda um edifício destinado a eventos, como casamentos e festas, e um bosque incrível onde pode fazer caminhadas, piqueniques e passeios de bicicletas — tanto que o espaço é o mais recente bike hotel da região Oeste, com percursos e oferta de estruturas vocacionadas para os amantes das duas rodas.

Os doces caseiros, o pão de Mafra e a atenção aos mais pequenos

Ficámos alojados num quarto premium, de seu nome “Alma Portuguesa”, e com decoração a condizer — e um guarda-vestidos de madeira recuperado incrível que fica bem em qualquer casa.

Apesar da dimensão pequena do quarto (quando ficamos alojados na tipologia premium, é natural esperarmos algo mais espaçoso), a varanda de frente para o bosque e a banheira de imersão com uma gigante janela com a mesma vista fizeram-nos apaixonar por aquela “alma portuguesa” — e desejar que tivéssemos mais tempo pela manhã para um “banho de fada”, um preparado de mel e ervas relaxantes que nos é disponibilizado. Mas há muito para fazer e temos de seguir para o pequeno-almoço.

Sem me fazer acompanhar da ressaca da primeira visita, desta vez consigo observar ao detalhe toda a oferta que a Quinta dos Machados disponibiliza para a primeira refeição do dia. E o primeiro ponto positivo vai logo para a sala do restaurante, Cantinho dos Sabores (que também serve almoços, jantares e onde está o serviço de bar), ampla, com uma decoração contemporânea combinada com peças mais rústicas.

A oferta é o que podemos esperar de uma unidade de turismo rural, a dar primazia à qualidade e não à quantidade. Os clássicos estão lá, dos croissants folhados ao sumo de laranja, mas há pão de Mafra, sumos naturais de outras frutas e bolos caseiros (provámos o de chocolate e o bolo mármore), entre muitas outras coisas.

Mas a cereja no topo do bolo são mesmo as compotas caseiras, feitas na própria unidade — e ainda não nos esquecemos da de abóbora e coco, que combina na perfeição com queijo fresco.

De barriga cheia, tentámos reduzir as calorias com um passeio de bicicleta, e foi aí que encontrámos o primeiro ponto negativo deste fim de semana. A passar estes dois dias na companhia do meu marido e da minha filha de 2 anos, questionei um dos elementos do staff sobre as cadeirinhas que muitas vezes se anexam à parte traseira das bicicletas, exatamente para transportar as crianças.

“Não temos”, responderam-me, algo que não seria estranho não fosse esta uma unidade hoteleira a ganhar a distinção de bike hotel. Assim sendo, nada feito, e os passeios em duas rodas terão de ficar para uma próxima visita.

Depois de um almoço e de um passeio pela região (e uma visita à Adega do Miguel, restaurante em Ponte do Rol, que serve um ótimo cozido à portuguesa aos almoços de sábados), regressámos à Quinta dos Machados para um showcooking de pão de Mafra. Aprendemos a fazer a massa, um pouco da história do pão (começou a ser produzido em 1960 e é mais adocicado do que os pães comuns devido ao menor tempo de fermentação e à maior quantidade de água) e ainda conseguimos saborear o mesmo acabadinho de sair do forno a lenha.

Depois deste aperitivo, esperava-nos um jantar no Cantinho dos Sabores. Mas se a atenção aos mais pequenos tinha sido descurada na questão das bicicletas, o mesmo não aconteceu no jantar. Assim que chegámos à mesa reservada, não só existia uma cadeirinha de bebé para a minha filha, como louça e talheres apropriados,  lápis de cor e livros de colorir — e se são pais, sabem que estas atitudes nos ganham o coração.

A comida estava irrepreensível: abrimos as hostes com umas chamuças de queijo de cabra, alho francês e avelã (5€) e uns machadinhos com dip in de tártaro (4€). A primazia foi dada à carne, e experimentámos as bochechas de porco preto com puré de castanha e grelos (18€) e o supremo de frango com crosta de chouriço e cornflakes (15€).

Para terminar, e dividir, o bolo húmido de chocolate com crumble de São Tomé  (4€) entrou diretamente para o meu top de melhores sobremesas de sempre e justifica uma visita à Quinta dos Machados apenas e só para se deliciar com esta sobremesa.

O objetivo de uma massagem é relaxar — mas não foi isso que aconteceu no spa

O segundo (e último) ponto negativo deste fim de semana esteve relacionado com a minha experiência no spa que, na Quinta dos Machados, tem sauna, banho turco, jacuzzi, mini-ginásio e zona de relaxamento, bem como massagens mediante marcação.

Tinha uma massagem de 30 minutos marcada, apelidada Momento Zen (35€). Mas de zen teve muito pouco. Entrei na sala de tratamento com um atraso de cerca de 20 minutos em relação à hora marcada, ao que a terapeuta se desculpou pela azáfama das marcações — e foi aí que esteve o problema.

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O atraso não me incomodou, mas a agenda apertada estava a causar um stresse tal à terapeuta que me impediu de relaxar. Enquanto em muitas outras massagens o ambiente é de calmaria, em que as terapeutas quase que sussurram e é praticamente impossível ouvir-lhe os pés, a preocupação com o horário era tal que não deu mesmo para relaxar. Conseguia ouvi-la numa azáfama enorme, a andar de um lado para o outro.

Atenção: a massagem não foi má. Não acho que faça sentido uma massagem de 30 minutos ser de corpo inteiro, dado que não é possível dar a devida atenção a todas as zonas do corpo num tão curto espaço de tempo, mas acaba por ser uma ótima introdução a outros tratamentos ou um complemento a um momento de relaxamento (se não fosse a agenda apertada, lá está) — e o valor pedido é aceitável neste contexto.

No final da massagem, ainda me aconteceu algo de insólito. Geralmente, as terapeutas costumam tocar uma espécie de sino ou dizer algo para assinalar que o tratamento terminou. Desta vez, ouvi a terapeuta a lavar as mãos e a bater com a porta, enquanto eu permanecia de barriga para baixo na marquesa.

Passado uns cinco minutos, e comigo a estranhar a ausência, comecei a ouvir batidas na porta, sendo que ignoraram todas as vezes que referi que podiam entrar. “Bem, se calhar é para sair”, pensei eu, levantei-me e, ao abrir a porta, lá estava a terapeuta à minha espera. Há sempre uma primeira vez para tudo e, desta vez, a pressa era tão grande que nem se lembrou de me dizer que a massagem tinha acabado.

De qualquer forma, o balanço da estadia é claramente positivo e conseguiu apagar a má primeira impressão da primeira visita. É só arranjarem cadeirinhas para as bicicletas e mais terapeutas para dar vazão às marcações, e corre tudo às mil maravilhas.

Nesta época do ano, as estadias começam nos 85€ para duas pessoas num quarto clássico, e a partir dos 135€ na tipologia premium.

*A MAGG ficou alojada a convite da Quinta dos Machados.