Gosto de acreditar que sou uma pessoa compreensiva que acredita em algumas verdades absolutas. Por exemplo: nunca me conseguirão convencer de que óculos azuis espelhados são um bom acessório. Ou sandálias com pelo, já que estamos no tópico da roupa. Também nunca me irão converter à ideia de que Kristen Stewart é uma boa atriz, que o pão combina com Nutella ou que "A Forma da Água" merecia o Óscar de Melhor Filme. Não é teimosia — sou uma mulher de convicções.
Até à sexta-feira passada, 2 de março, tinha mais um tópico nesta lista: é impossível ter uma escapadinha perfeita com chuva. Se está a chover é impossível passear, se é impossível passear sou obrigada a passar o fim de semana enfiada no hotel. Arrepio de medo. A deambular entre o quarto e a piscina de roupão. Pronto, já estou a hiperventilar.
Infelizmente, o meu destino estava traçado. Segundo informação da app de meteorologia do iPhone, que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera confirmou, ia chover o fim de semana inteiro. Mais desagradável ainda, ia estar uma ventania desgraçada. E as minhas botas à prova de água tinham acabado de morrer na última tempestade. Não tinha por onde fugir — estava condenada a passar duas noites e três dias enfiada no Aqua Village Health Resort & Spa, perto de Oliveira do Hospital.
Tenho vontade de me esbofetear agora que escrevo estas palavras. "Condenada". Oh Marta, sabes lá o que dizes. Mas vá, dêem-me um desconto — tal como disse no início do texto, sou uma pessoa de convicções. Até prova em contrário, claro.
Inaugurado em setembro de 2016, o Aqua Village Health Resort & Spa foi o primeiro health resort do centro do País. Situado nas margens do rio Alva, a seis quilómetros de Oliveira do Hospital, o hotel de cinco estrelas tem 30 apartamentos com tipologias T1 e T2, todos com área de estar e kitchenette.
O espaço tem também três piscinas, duas delas com água aquecida, restaurante, sala de cinema, biblioteca. Ainda não acabámos: lá fora há ainda um parque desportivo e duas gotas (são literalmente duas estruturas com a forma de gota) nas árvores onde se fazem massagens.
A ligação à água está em toda a parte, desde as gotas que enfeitam as paredes da casa de banho até ao deslizar suave do rio. Não sei se a chuva a cair contribuiu para que tudo fizesse sentido naquele momento mas, no sábado, logo a seguir ao pequeno-almoço, dei por mim a descer a calçada em direção ao spa de roupão branco vestido. "Tornei-me numa 'dessas' pessoas", pensei. Quando os meus pés tocaram na água quente de uma das piscinas exteriores, porém, a frase completou-se na minha cabeça: "Sim, tornei-me numa 'dessas' pessoas. E não quero saber."
É difícil ficar aborrecido no Aqua Village. O meu dia de sábado foi passado a dar mergulhos na piscina exterior com água aquecida (saliente-se o aquecida: ao contrário do que acontece na maioria das vezes, estava mesmo quente) enquanto fitava a chuva a cair. Na piscina interior, a paisagem continuava maravilhosa mas foi nos mil e um botões que ativavam mil e uma torneiras que descobri a felicidade. Terapia de relaxamento através da água era um conceito que me dizia muito pouco — isto até levar com um jato de água nas costas e ficar com uma cara parecida com a do Homer quando pensa em comida. Do nada, ainda descobri um chuveiro com uns três metros de altura. Melhor do que isto impossível.
Num hotel à prova de chuva, porém, só tenho pena do acesso ao spa não poder ser feito pelo interior. Não é muito fácil subir uma calçada de pedra de chinelos quando chove torrencialmente. Apesar de haver guarda-chuvas à disposição dos hóspedes — assim que cheguei e saí do carro deram-me dois —, teria sido mais confortável entrar no spa pelo interior. Só que a disposição do Aqua Village não o permite, uma vez que é composto por oito edifícios separados. Bem, pelo menos posso dizer que já andei de roupão na rua com um guarda-chuva. Nem todos se podem gabar do mesmo.
Os apartamentos têm uma decoração simpática, mas ganham sobretudo pelo espaço e equipamentos. Tudo o que precisa está ali. E o que falta — no meu caso, um saca-rolhas — está à distância de um pulinho até à receção. Só nunca cheguei a perceber exatamente como é que o ar condicionado funcionava, mas admito que também não me esforcei assim tanto para chegar lá.
O pequeno-almoço é bastante completo. O sumo de laranja natural era ótimo, e não sei o que raio fazem com a Nutella, mas contrariamente ao normal, não é difícil de barrar nem fica pegajosa. Palminhas ainda para o leite creme — tinha o pior aspeto do mundo (a sério) mas foi o melhor que alguma vez comi. A minha única crítica vai para a demora na reposição de alguns produtos no sábado de manhã. Já cheguei um pouco tarde (eram 10h30, o pequeno-almoço termina às 11 horas), mas ainda estava dentro da hora de serviço e alguns produtos não chegaram a ser repostos. Foi o caso do pão — eu adoro pão e só havia carcaças e pão de forma. Eu queria o de sementes. Peço desculpa, isto afetou-me um pouco. Eu gosto mesmo muito de pão.
Não sei se teria aguentado uma semana sem sair do hotel. É pouco provável. Ainda assim, um dia pareceu-me demasiado pouco para aproveitar o spa. Depois de várias nomeações para prémios nacionais e internacionais, e de umas quantas vitórias, o Aqua Village Health Resort & Spa concorre este ano para um dos mais importantes: os World Luxury Hotels Awards, considerados os Óscares do turismo. Está nomeado para três categorias: Luxury Family Resort, Luxury SPA Resort, Luxury Mountain Resort. As votações abrem a 12 de março, e eu estou a torcer pela vitória. Isso e pela oportunidade de regressar — é que a semana ainda agora começou e eu já estou a precisar de um jato de água quente nas costas.
O preço médio por noite é de 175€ para duas pessoas.
A MAGG ficou alojada a convite do Aqua Village Health Resort & Spa.