1. Festas de revelação de género: de todas as modas idiotas, esta é capaz de ser a mais idiota de todas. O que é suposto ser um momento de alegria para os pais, para a família, para os amigos, torna-se toda uma performance teatral, com posicionamento estratégico perante uma câmara. Futuros papás e mamãs marimbam-se em quem está à sua volta e concentram-se no objetivo que realmente importa: obter as imagens mais impactantes, com recurso aos fumos, fogos, balões, bolos, animais tingidos ou de rosa ou de azul, dragões esvoaçantes que defecam um poio da cor associada às partes baixas da criança que ainda nem sequer nasceu e já está condenada a ter pais mentecaptos. É para o que estamos. E já nem vamos sequer falar dos 550 vídeos que pululam por toda a internet, de machões a explodirem em manifestações assustadoras de virilidade quando descobrem que o seu esperma produziu uma pilinha e não um pipi. Como se ter um filho macho fosse um certificado de macheza e ter uma filha fosse assim uma espécie de prémio de consolação. Teria graça se não fosse humilhante e medieval.

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2. Andar na rua com copos do Starbucks como se fossem latas de caviar Beluga: Vamos lá ver uma coisa. Eu também gosto de andar de copo de café na mão, geralmente d'A Padaria Portuguesa, porque é 200% mais barato do que aquelas mistelas diabéticas do Starbucks ou aquela água suja a que, com ironia, chamam café. Mas estamos em 2023, em Portugal, país da União Europeia, de onde mais facilmente (e com menos dinheiro) se vai a Paris ou a Madrid do que a Bragança (a não ser que vivam em Bragança ou nos arredores). Não estamos em 1997, quando ainda éramos pobrezinhos, morávamos longe e o máximo de cosmopolitismo a que podíamos aspirar era a feijoada na ponte Vasco da Gama. Dito isto... ainda há quem ache que está na moda fazer fotos de copo de Starbucks na mão como se estivéssemos em 1999 na segunda temporada de "O Sexo e a Cidade"? Eu gostava era de ver no meu feed malta a descer os Aliados de copo de galão na mão ou então em plena Rua Garrett, de bica numa mão e papo seco com queijo na outra. Isso é que era.

3. Fazer "comunicados" para o 35 seguidores, que são todos primos, tios ou colegas do trabalho: convençam-se de uma coisa. Vocês não são a Madalena Abecasis nem A Pipoca Mais Doce. A vossa vida não é assim tão interessante - embora vocês se queiram convencer disso, quando tentam que os vossos filhos reproduzam as poses fotográficas dos filhos das influencers e falham miseravelmente porque isto é coisa que requer treino e persistência. Mas estou a ser injusta. A vossa vida até pode ser interessante mas o facto de vocês se convencerem que são interessantes ao ponto de partilharem todos os pormenores da vossa vida torna-vos muito pouco interessantes. Estão a perceber? E isso passa também por terem tino e não fazerem diretos aos quais três pessoas assistem (duas delas para gozar convosco) e muito menos elaborarem extensos comunicados em stories, a anunciarem que vão divorciar-se, que se vão casar, que a Bia perdeu o primeiro dente ou que a vossa mulher vos encornou. Como diria o saudoso Rodrigo-Guedes-de-Carvalho-versão-Pandemia... "tenham noção".

4. Fotos estilo papparazzi. Pior! Fotos a "dormir": em tempos idos, eu fiz fotos de papparazzi. Políticos, celebridades, futebolistas, de tudo um pouco. E o trabalho que aquilo dava, minha gente, as horas de espera ao sol, ao frio, à chuva, não tinha nada de glamouroso. Sei bem que uma boa foto, tirada sem a pessoa se aperceber, consegue ter um impacto, um glamour, que uma foto de pose não tem (então se for uma papparazzo combinado ainda mais). A ironia disto é que os papparazzi são diabolizados mas toda a gente quer ter no seu feed uma foto que imite aquele estilo. "Ai, fui apanhada na rua!", "o quê, estavam a fotografar-me? Nem vi!". Quando vejo fotos deste tipo em feeds de famosos e sobretudo de anónimos só penso no desgraçado atrás da câmara (ou, em 99% dos casos, do telemóvel), geralmente uma amiga prestável, um marido aborrecido ou um filho com altura suficiente para tirar fotos que não façam o protagonista parecer um gigantone, a quem foi 'pedido' para ir para o outro lado da estrada, do passeio, da montanha, do aeroporto e "olha tira aí uma foto como se eu não tivesse a ver! Ficou gira?". Merece o céu, essa gente. Merece o céu. Abençoados. E, para finalizar, fotos a "dormir". Malta, é só estúpido. Parem com isso. A malta consegue ver o vosso braço. Parem.