Eu tenho excesso de peso. Quando quero ver mulheres com corpos parecidos com o meu meu, não ligo a televisão. Não tenho essa expectativa de ver alguém igual a mim na RTP, SIC ou TVI. Vou às redes sociais, onde posso escolher quem seguir e onde, no meio de tanta pressão para parecer tudo e mais alguma coisa, existem, de facto, mulheres com corpos parecidos com o meu. Existem modelos plus size, existem mães que mostram as estrias, as barrigas e os braços flácidos, existem mulheres que não se depilam, exibindo, orgulhosas, pernas peludas e buços.

Já na TV isso não acontece, muito menos nos três canais generalistas. É imposição do meio? Há falta de oportunidades para pessoas cujos corpos não se adequam a um determinado padrão? Ou são os telespectadores que não querem ver? Respostas únicas não há mas o que há é uma escassez de diversidade de formas físicas na RTP, SIC e TVI. Alguém se lembra de ver uma repórter do "Fama Show" anafadinha ou uma pivô que, mesmo que tenha começado com um corpo igual ao dos comuns mortais, não tenha progressivamente perdido peso?

Maria Botelho Moniz, que é tema de uma crónica absolutamente abjeta do ex-jornalista Alexandre Pais, é exceção. Maria tem o corpo de uma mulher como tantas outras mulheres (Maria não é gorda nem aqui nem em lado nenhum, acreditem que já a vi ao vivo).

E, no entanto, no meio televisivo, ela é exceção. Tal como Ana Guiomar, talentosíssima atriz, é a exceção. Os corpos de ambas saem fora dos cânones quase impossíveis de alcançar do entretenimento e nada disso belisca a capacidade de fazerem bem o que fazem. E, no entanto, não há mais. As protagonistas das novelas continuam a ser magras, os galãs continuam a ser musculados.

Os cabelos brancos continuam a ser um charme neles, absolutamente proibidos nelas. As rugas toleram-se quando se é homem ("é sexy") mas às mulheres só são permitidas quando deixam de ser "comestíveis" e passam a interpretar papéis de avó. Basta só ver o que aconteceu à personagem de Rita Blanco na novela "Por Ti". Uma mulher com quase 60 anos, com rugas e tudo, a envolver-se com um homem mais novo? Foi sol de pouca dura.

Rita Blanco e Diogo Martins em
créditos: SIC

Alexandre Pais foi alguém relevante no jornalismo num tempo em que quem decidia tudo nas televisões eram homens, independentemente do que as mulheres que os faziam ganhar milhões queriam ou não (não que o cenário tenha mudado muito entretanto, mas o mundo, felizmente, evoluiu). Alexandre Pais, como muitos homens que têm espaço de opinião em Portugal, perora sobre um tema que sabe que aquece as redes sociais e, claro, detesta Cristina Ferreira. E claro que o nome de Cristina Ferreira tinha de estar metido ao barulho nesta crónica. Ora dá-se o caso de Cristina nunca ter escondido o corpo, nunca ter feito tabu das flutuações de peso, nunca ter tido vergonha da barriga, das pernas, dos braços, do que é. E isso enfurece. Isso irrita. Isso deixa danados homenzinhos como Alexandre Pais, que sentem que já não controlam a narrativa. Porque, não se enganem, isto não é sobre peso. Isto é sobre poder.

É indiscutível que o que Alexandre Pais escreveu é abjeto. Mas também há um fedor a hipocrisia no ar nas críticas arrasadoras, nas afirmações públicas de igualdade e de respeito por toda a gente, de todas as formas, em todo o lado. Se assim fosse, se realmente houvesse essa aceitação, não haveria mais gente diferente na TV?

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