Desde que “Assim Nasce uma Estrela” chegou aos cinemas que começaram os primeiros zunzuns de um possível romance entre Lady Gaga e Bradley Cooper. Era impossível aquela química ser apenas ficção, diziam alguns fãs.
Quando a cantora anunciou o fim do noivado com Christian Carino, os zunzuns tornaram-se em especulações à escala mundial. Após a atuação nos Óscares, já toda a gente tinha a certeza de que aquilo era amor.
Apesar de Lady Gaga ter dito que seria incapaz de ter uma relação com Bradley Cooper, garantindo que eram apenas grandes amigos, e de o ator ter uma relação (e uma filha) com Irina Shayk, o público rendeu-se a esta alegada história de amor. Mas afinal porque é que isto acontece? Porque é que torcemos para que duas pessoas que não conhecemos fiquem juntas?
Quanto mais a realidade nos for confrontando com uma realidade adversa e hostil (nomeadamente a nível relacional), maior poderá ser a nossa tendência para idealizar as relações daqueles que não conhecemos"
"Desde pequenos que fomos aprendendo que nos contos de fadas e nas histórias de amor, o final chega com o 'E foram felizes para sempre'", explica à MAGG a psicóloga Rita Fonseca de Castro, da Oficina de Psicologia. Por mais que a vida nos vá ensinando que não é bem assim — por experiências próprias ou que vemos acontecerem à nossa volta —, há uma pequena parte de nós que continua a alimentar o imaginário dos finais felizes. Às vezes, até é pior.
"Quanto mais a vida nos for confrontando com uma realidade adversa e hostil (nomeadamente a nível relacional), maior poderá ser a nossa tendência para idealizar as relações daqueles que não conhecemos, como se isso nos desse uma 'prova' de que ainda vale a pena acreditar em finais felizes."
Ora o grande problema é que, na maioria dos casos, a informação que nos chega desses casais ou relações é enviesada. No caso de Lady Gaga e Bradley Cooper, explica, há uma confusão entre um casal ficcional e real. "Queremos tanto acreditar na imagem de um casal feliz — na ficção — que transpomos a sua existência para a realidade, esquecendo, por exemplo, este último aspeto."
A vontade de acreditar nesse tal amor perfeito é tão forte que acabamos a ignorar todos os sinais que nos indicam o contrário — como por exemplo os olhares apaixonados de Irina Shayk e Bradley Cooper na passadeira vermelha, ou o facto de Irina e Lady Gaga se terem abraçado após o anúncio da vitória do Óscar de Melhor Canção Original.
É "como se adoptássemos um mecanismo de atenção seletiva", continua a psicóloga. Estamos tão convictos de que estamos certos que percecionamos a realidade de forma incorreta. "Enviesamos os dados — 'aquele olhar foi mesmo de amor' quando, na verdade, pode ter sido um olhar de admiração, apreço ou amizade ou, em última instância, ensaiado para enriquecer uma 'performance' em palco."
Há uma parte de nós que quer acreditar que aquela história de amor é nossa
A história que criamos na nossa cabeça é de que aquele amor é puro e verdadeiro. De certa forma, enquanto torcemos por ele é como se estivéssemos a vivê-lo, nem que seja por um bocadinho.
"É como se a confirmação de que é possível, entre outras expectativas, viver um grande amor, encontrar a 'cara-metade', ser feliz numa relação, viver para sempre com a pessoa que se ama — ainda que seja apenas na ficção — contenha a capacidade de nos fazer acreditar em algo que podemos nunca ter vivido".
O alegado romance entre Bradley Cooper e Lady Gaga faz-nos viver algo que nunca vivemos, ou então algo que até vivemos mas receamos que termine. "Projetamos as expectativas e desejos que temos sobre o amor e as relações — que são, a um nível mais profundo e inconsciente sobre nós próprios — em personagens de livros, filmes, telenovelas ou séries."
"Vibramos quando uma história de amor tem um final feliz como se se tratasse da nossa própria história a resultar porque é isso que desejamos, de facto, que suceda."