"Olá, eu sou a Gina". É assim que se apresenta a nova sex shop online direcionada a mulheres livres. Dedicado ao prazer feminino e à normalização da genitália feminina, este e-comerce de brinquedos eróticos tem como objetivo lutar contra a desigualdade de género e a vergonha corporal.

A Gina foi criada este ano pela MOB Agency, uma agência de marketing digital com sede no Porto. Foi idealizada por Ivo Gomes, CEO e co-fundador, e pelo seu sócio, que não compreendiam o porquê de a masturbação e a sexualidade masculinas serem tema de conversa, mas transformarem-se em tabus no caso feminino.

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A agência é composta, na sua grande maioria, por mulheres. Quando um cliente os procurou para abrir uma nova sex shop, aperceberam-se de que seria "mais uma de tantas outras com uma predisposição masculina, uma visão a roçar o badalhoco, com nomes não muito apelativos".

O projeto Gina já estava na gaveta há algum tempo e foi aqui que se deu o clique para avançar. "Queríamos criar um sítio onde as mulheres sentissem que os produtos são feitos a pensar no prazer delas. Um sítio onde pudessem ir sem qualquer tipo de pudor e um ambiente seguro para experimentarem e conversarem sobre isso", explicou-nos Ivo Gomes.

Com esta nova sex shop online orientada para as mulheres, querem extinguir a forma negativa e pesada como são abordados os temas relativos à sexualidade e à genitália feminina. Um dos responsáveis pela Gina exemplifica, referindo a forma como a expressão "do caralho" é usada para descrever algo positivo, enquanto "tu és um conas" tem sentido pejorativo.

"Não existe motivo nenhum para que seja dessa forma. O genital masculino é positivo e o feminino algo negativo?", questionou, referindo a forma como falar da genitália masculina gera "muito menos impacto e choque". A criação da Gina vem tentar contrariar esta tendência, a começar pelo manifesto da marca.

Neste manifesto, a Gina deixa um apelo: "Dá voz à tua cona". "Foi a nossa vontade de democratizar as palavras e fugirmos dos eufemismos para falar de algo que não devia envolver tanto receio de ser dito", justifica Ivo Gomes, que, com esta sex shop online, quer criar uma "maior abertura para se falar deste temas".

Para já, os produtos são vendidos apenas online, mas uma loja física está nos planos para o futuro. Uma loja "que não seja a típica sex shop onde têm os produtos na parede" e na qual, por norma, se tem vergonha de entrar. Idealizam um espaço confortável, onde até se possa tomar um café ou participar em workshops.

Ao entrar no site da Gina é possível ver duas grandes divisões: tipos de prazer e partes do corpo. Criadas para "simplificar o processo" ao máximo, estão categorizadas, respetivamente, por anéis vibratórios, ar e sucção, dildos, plug anal, prazer partilhado e vibradores e ânus, clitóris, pénis, ponto G e vagina.

Os envios são 100% discretos, portanto, chegam a sua casa numa caixa castanha sem qualquer identificação de que o conteúdo provém de uma sex shop. Esta funcionalidade tem causado um "misto de sentimentos", pois querem que "isto com o tempo desapareça" para conseguir "acabar com o estigma". Para tal, estão a pensar dar a opção aos clientes de escolherem a caixa na qual seguem as compras.

Há acessórios de várias marcas à venda, sendo que a Gina ainda não tem brinquedos sexuais próprios. Para já, tem, em vez disso, merch: três t-shirts disponíveis em pre-order, cada uma a 29€ ("Sou uma cona talentosa"; "I came for the orgams, but I didn't came" e "Equality. Unity. Feminists aren't anti-men. We're pro-human"), e uma tote bag (a 9,99€).

Gina
créditos: Imagem cedida

A merch surgiu depois de um pedido nas redes sociais, tendo as peças sido escolhidas pelos seguidores da marca. O crescimento, conta-nos Ivo Gomes, tem sido orgânico. Uma das estratégias que mais prezam é a de "praticamente todos os dias" incentivarem os seguidores a abrirem-se, a partilharem testemunhos e a opinarem.

O intuito é criarem um "senso de comunidade" e mostrarem às pessoas que "não estão sós", estabelecendo uma relação de abertura e confiança para que se sintam ouvidas e representadas. Para tal, disponibilizam também no site um chat no qual cada um pode expôr as suas questões. "As pessoas depois voltam e dão feedback acerca de se gostaram dos produtos ou não", revelou o CEO da MOB Agency.

Gina, a amiga que todas as mulheres deveriam ter

O nome Gina foi inspirado na amiga próxima que todos deviam ter, a "amiga desbocada que fala de sexo como quem fala de cereais". Mas também foi escolhido para que "pudesse parecer uma tia de Cascais" e ainda "uma marca de luxo", tudo isto com o devido simbolismo.

A Gina foi recentemente distinguida com a prata no 24.º Festival do Clube dos Criativos Portugal (CCP). "Foi um momento muito giro. Um projeto interno que foi reconhecido como um dos melhores brandings a nível nacional e o manifesto como um dos melhores copy", frisa um dos responsáveis pela loja.

Esta sex shop online para mulheres quer gerar conversa, relativizar e "tornar as coisas mais leves". Querem que as mulheres deixem de sentir que estão a fazer algo de errado ao comprar produtos eróticos. Querem lutar contra a falta de representatividade da genitália feminina nas ilustrações e no mercado.

Para o futuro da Gina ambicionam, além da loja física, produtos próprios, desenhados pela agência, e também um maior "foco na instrução e educação destes temas". Para tal, encontram-se a desenvolver o blogue da Gina, que trabalhará a sexualidade e ficará disponível na próxima semana.

Além dos brinquedos sexuais, querem comercializar produtos ligados à saúde feminina e à higienização, como suplementos. Visam associar-se a causas e ajudar associações e, claro, mudar mentalidades e contrariar preconceitos. Embora se trate de um projeto mais voltado para as mulheres, os homens são uma parte crucial, já que, para se desmistificarem os tabus, é preciso que também eles encarem estes temas com uma nova perspetiva.