Começa com uma ligeira impressão, um desconforto quase impercetível. Para algumas mulheres o incómodo fica por aqui, para outras começa a aumentar. E a aumentar. E a aumentar. São as chamadas dores menstruais, aquelas que chegam todos os meses, conseguem ser verdadeiramente infernais mas não dão direito a faltas justificadas no trabalho.

Só que elas existem e, garante um estudo publicado esta quinta-feira, 27 de junho, o maior alguma vez feito sobre este assunto, têm influência direta na produtividade das mulheres. Com base numa investigação que reuniu 32.748 holandesas, com idades compreendidas entre os 15 e os 45 anos, o estudo concluiu que as dores menstruais tiram nove dias de produtividade num ano.

Segundo os investigadores, a primeira limitação é o facto de não ter sido efetivamente medida a perda de produtividade, baseando estes resultados nos relatos dos inquiridos. Em segundo lugar, a amostra foi adquirida através das redes sociais, o que pode ter atraído mulheres com sintomas menstruais mais debilitantes.

Vamos a números: 81% das mulheres holandesas disse ter sido menos produtiva em resultado dos sintomas menstruais, sendo que cerca de 14% (1 em cada 7, portanto) faltou ao trabalho ou à escola. 3,5% garantiu tê-lo feito durante todo o ciclo menstrual.

Em média, os investigadores concluíram que as mulheres estiveram ausentes do trabalho ou da escola 1,3 dias por ano. Quanto à perda de produtividade, era o equivalente a 8,9 dias por ano.

"As mulheres disseram que não eram tão produtivas quanto podiam no trabalho — precisavam de ir à casa de banho de hora a hora, ou tinham uma dor de cabeça e não conseguiam concentrar-se", disse um dos autores do estudo, Theodoor Nieboer, ginecologista no Centro Médico da Universidade Radboud, na Holanda, conforme cita a CNN.

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Continuamos sem falar sobre menstruação

De acordo com o estudo, apenas 1 em cada 5 mulheres dizia à entidade empregadora ou à escola que estavam doentes devido à menstruação. As mulheres com menos de 21 anos revelaram ser cerca de três vezes mais propensas a dizer a verdade do que as mulheres mais velhas.

Em vários países asiáticos já existe a possibilidade de pedir um licença menstrual. É o caso da Indonésia, Japão, Vietname, Coreia do Sul e China. Noutras partes do mundo, estas políticas de licença menstrual surgem com as empresas. No Reino Unido, por exemplo, o grupo Coexist permite às funcionárias tirarem folga, trabalharem a partir de casa ou mudarem de horário durante a menstruação.

Há mais: 68% dos entrevistados disseram desejar ter a opção de usufruir de um horário mais flexível para trabalhar ou estudar durante a menstruação.

"Apesar de quase duas décadas de século XXI, as discussões sobre os sintomas ainda conseguem ser um tabu", disse Theodoor Nieboer. "É preciso haver uma maior abertura sobre o impacto dos sintomas menstruais no trabalho, e as empresas precisam de estar mais abertas ao tema com as suas trabalhadoras".

De acordo com o ginecologista, os sintomas da menstruação continuam a ser subestimados. E a verdade é que eles contribuem para uma grande perda de produtividade. "No entanto, não devemos perder de vista o facto de que há muitas razões pelas quais os homens podem ser pouco produtivos no local de trabalho".