É uma glândula fundamental, embora muitos nem se quer lhe saibam o nome. E, no entanto, o número de portugueses que sofre de distúrbios na tiróide é revelador: um milhão. Ou seja, uma em cada dez pessoas. A estimativa é da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM), — que assinala a 10ª Semana Internacional da Tiróide entre 21 e 27 de maio, cujo Dia Mundial é esta sexta-feira, dia 25 — que alerta para a falta de conhecimento destas doenças, bem como da forma como estas se manifestam.

“Embora as doenças da tiróide sejam muito comuns, mais de 30 por cento dos portugueses desconhecem os seus sintomas”, afirma Celeste Campinho, Presidente da Associação das Doenças da Tiróide.

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Falta de concentração, falta de motivação, dificuldades para engravidar ou obstipação podem ser originados pela tiróide, mas são também sintomas facilmente confundidos com outras doenças.

Maria João Oliveira, membro do Grupo de Estudos da Tiróide da SPEDM, acrescenta que o rastreio da tiróide “ainda não é universal, contudo é recomendado nalgumas circunstâncias, como na história familiar de doença tiroideia, na presença de doenças autoimunes ou certos síndromes (Down), na história de radiação da cabeça e pescoço, na mulher que pretende engravidar, entre outras”, sendo o hipertiroidismo e o hipotiroidismo as doenças mais conhecidas.

Hipotiroidismo e hipertiroidismo são duas das doenças mais conhecidas causadas pelas alterações à tiróide, bem como os nódulos.

Os nódulos correspondem a uma situação clínica em que a tiróide pode estar aumentada de volume de forma difusa (bócio simples) ou com formação de nódulos (bócio nodular). Podem ser benignos ou malignos e, dependendo do tamanho e tipo, podem ser controlados ou removidos através de cirurgia, bem como avaliados mediante citologia, se necessário.

No hipertiroidismo, em que ocorre um excesso de hormonas tiroideias em circulação, existe um metabolismo mais acelerado de todo o organismo.

Esta doença manifesta-se por um aumento das dimensões da glândula (bócio); perda de peso apesar do aumento do apetite, palpitações (aumento da frequência cardíaca), irritabilidade, nervosismo, ansiedade, insónias, tremor das mãos, intolerância ao calor e hipersudação, queda de cabelo e alteração das unhas, diarreia, irregularidades menstruais e diminuição ou ausência de fluxo menstrual, fraqueza muscular, olhar fixo, vivo e/ou olhos proeminentes.

Já no caso do hipotiroidismo, pelo contrário, os níveis hormonais produzidos pela tiróide são insuficientes, comprometendo o normal funcionamento do organismo.

Os principais sintomas são um ligeiro aumento de peso, fadiga e cansaço fácil, aumento da sensibilidade ao frio, obstipação, pele seca, queda de cabelo e quebradiço, irregularidades menstruais, depressão, dores musculares e formigueiros.

O que é a tiróide?

“A tiróide é uma glândula localizada no interior do pescoço, que tem como função a produção de hormonas que regulam o metabolismo do nosso organismo”, conta à MAGG Margarida da Silva Vieira, endocrinologista.

Com ação na maioria dos tecidos e com uma função reguladora do metabolismo, a especialista explica que a tiróide “liberta duas hormonas, a T3 (tri-iodotironina ) e a T4 (tetraiodotironina)”, essenciais para o normal funcionamento do organismo, através do controlo/velocidade do metabolismo das células.

Estas hormonas, quando libertadas, “atuam em quase todas as células do nosso organismo e são essenciais à vida”, esclarece à MAGG Celeste Campinho, que acrescenta que “as hormonas tiroideias regulam a frequência cardíaca e a respiratória, a pressão arterial e o funcionamento do intestino. Podemos afirmar que as hormonas tiroideias regulam a velocidade de funcionamento das células, garantindo o equilíbrio do organismo”.

A tiróide tem influência no nosso corpo (quase) todo

Assim, envolvida em várias funções do corpo, a tiróide “pode afetar um conjunto grande de órgãos, como por exemplo, o fígado, o coração, o sistema digestivo, entre outros. Na verdade, os distúrbios na glândula tiroideia influenciam todo o metabolismo”, salienta Celeste Campinho.

Margarida da Silva Vieira acrescenta que, por exemplo, “a nível do pulmão, a tiróide é responsável pela resposta ventilatória da diminuição do oxigénio e aumento do dióxido de carbono”.

Segundo a endocrinologista, esta glândula também controla a função intestinal, regula a formação do osso (quando há uma função mais aumentada da tiróide, regula o depósito e a reabsorção do cálcio no osso), pode controlar a formação de tecido muscular e a velocidade deste funcionamento, bem como influenciar alterações do sistema reprodutivo (nas mulheres).

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No entanto, nem sempre é fácil descortinar os sintomas. “Embora o aumento de peso ou dificuldade de perda sejam associados a distúrbios como o hipotiroidismo ou hipertiroidismo, e a perda de energia e o excesso de irritabilidade também sejam sintomas, a verdade é que muitos destes sinais são inespecíficos, sobrepondo-se ao de outras doenças, que podem resultar do cansaço profissional e familiar”, afirma a presidente da ADTI.

Dores de cabeça e enxaquecas, alterações na menstruação e intolerância a ambientes frios ou quentes são outros sintomas de alguma disfunção na tiróide.

As mulheres são as mais afetadas

De acordo com dados da Associação Nacional da Tiróide, as mulheres apresentam quatro a sete vezes mais alterações na tiróide do que os homens e estima-se que cinco por cento das mulheres grávidas desenvolvam hipotiroidismo, doença que afeta até dez vezes mais mulheres do que homens.

Continuando a falar de dados, é também estimado que cerca de 160 a 175 milhões de mulheres no mundo vivam com algum tipo de doença da tiróide, sendo que metade ainda se encontra por diagnosticar.

Celeste Campinho realça à MAGG que a razão pela qual o sexo feminino é mais afetado pelas alterações da tiróide “não é evidente, mas pode estar associada a fatores genéticos, hormonais e ambientais”.

Diagnosticar uma doença da tiróide não é fácil

Nem sempre é simples diagnosticar uma doença relacionada com a glândula da tiróide, assume Margarida da Silva Vieira, “dado que não é hábito pedir de forma rotineira análises às TSH. Com a descrição de sintomas e queixas, o check-up pode ser a melhor forma de chegarmos a um diagnóstico”.

Celeste Campinho alerta que “sempre que o nosso corpo nos esteja a dar sinais de que algo não está bem, como o aumento ou a dificuldade em perder peso, excesso de irritabilidade, perda de energia, entre outros, é importante pensar que se deve recorrer ao médico de família para fazer um despiste”.