Numa altura do ano em que janeiro arrancou com muito frio e se assiste a um surto gripal capaz de entupir as urgências dos vários hospitais espalhados pelo País, há cuidados redobrados a ter quando se tem bebés em casa. É com eles que temos a principal preocupação de impedir que uma simples constipação possa tornar-se em algo mais grave, como uma bronquiolite aguda.
A bronquiolite aguda trata-se de um episódio de infeção das vias áreas baixas das crianças até aos 2 anos de idade que, em casos graves, pode levar a internamentos. Foi isso mesmo que aconteceu à filha de 6 meses da influenciadora digital Helena Costa que, esta quinta-feira, 16 de janeiro, revelou à revista "Nova Gente" a fase complicada por que passou com Mercedes.
"Depois de um bronquiolite aguda, é preciso um período de um mês para que o bebé não corra qualquer tipo de riscos e estamos agora nessa fase de não poder sair de casa e de elas estarem muito protegidas. Nunca pensei que a Mercedes pudesse vir a ser internada, mas percebi que não é assim tão raro. Havia lá muitos outros bebés internados, alguns ainda mais pequenos do que ela", revelou.
E continua: "É um processo de recuperação muito lento porque a tosse torna-se frequente, às vezes durante vários minutos, não conseguem comer, perdem o apetite e, portanto, há ali uma série de situações que vai acontecendo e que só mesmo com o internamento é que recuperam. Depois há a febre, o antibiótico. Não tem sido fácil."
Mas o que é a bronquiolite aguda e de que forma é que se desenvolve?
Segundo Fernando Chaves, pediatra do Hospital Lusíadas, em Lisboa, a bronquiolite aguda traduz-se "num processo infeccioso da área respiratória baixa, brônquios e brônquios secundários", que pode ser provocado por vários tipos de vírus. No entanto, o especialista diz à MAGG que o vírus mais comum que afeta crianças até aos 2 anos de vida chama-se sincicial respiratório.
"É um vírus que aparece nesta altura do ano, lá para meados de novembro e que se mantém mais ou menos até março. Durante esta época, há uma fase da população suscetível e que são todas as crianças até aos 2 anos de vida em que os miúdos podem apanhar imediatamente este vírus e isso desencadear num quadro clínico de bronqueolite", adverte.
Apesar disso, Fernando Chaves desvaloriza a ideia de que um diagnóstico de bronqueolite aguda possa decorrer de um caso de "constipações simples". É que embora a bronqueolite possa ser provocada por vários vírus, do qual o sincicial é o mais comum, a forma como este atua é muito diferente de uma constipação.
"O que acontece é que este vírus tem uma evolução clínica muito marcada. Nos primeiros três dias, assiste-se a um quadro de muito ranho no nariz da criança e a partir do terceiro dia o que acontece é como se o vírus apanhasse um elevador e descesse até ao pulmão do bebé", adverte.
E é essa movimentação que se torna responsável por desencadear na criança episódios de pieira, o termo médico usado para designar a falta de ar. No entanto, é importante que se entenda que um quadro de bronquiolite agude representa, acima de tudo, a presença de um vírus sazonal que dura entre sete a dez dias — com o agravamento máximo ao terceiro ou quarto dia de vida do vírus. Por isso, o pediatra Fernando Chaves diz que é imperativo que se diferenciem os vírus.
"Há que diferenciar um quadro de bronquiolite aguda de outros vírus que possam provocar o mesmo tipo de sintomas mas que já não são sazonais e que, por isso mesmo, são transversais ao longo do ano. São vírus diferentes e potencialmente até mais graves."
E explica: "Há crianças que têm outro tipo de patologias que não a bronquiolite aguda e que muitas vezes os pais não percebem e dizem que a criança teve duas ou três bronquiolites num inverno. E isso não é normal, até porque o bebé vai criando anticorpos contra aquele vírus daquele inverno específico."
Existem, portanto, outro tipo de vírus que devem ser diferenciados da bronqueolite aguda e que o especialista identifica como sendo os quadros de hiperreatividade brônquica ou de asma. E reforça que o diagnóstico de uma bronquiolite assenta na ideia de que é um processo infeccioso, viral, agudo e autolimitado porque dura, em média, sete a dez dias.
Mas porque a medicina não é uma ciência exata, o especialista diz que "o quadro clínico pode sempre variar consoante a agressividade do vírus e o estado do hospedeiro." Se o vírus atingir crianças mais pequenas, como recém nascidos, por serem crianças mais frágeis, isso pode levar a medidas mais drásticas como, por exemplo, o internamento.
Quais são os sinais a que deve estar atento? A falta de ar é um deles
Para Fernando Chaves não restam dúvidas: quando uma criança deixa de conseguir dormir, comer ou ingerir líquidos, tudo isso mostra que algo pode não estar bem. Se a isso se juntar episódios de cianose, que se traduz na coloração roxa ao redor da boca, e esforço respiratório, então as medidas de vigilância devem ser ainda mais apertadas — "especialmente em crianças até aos 6 meses de idade".
Mas embora existam várias guidelines para o tratamento, o pediatra garante que geralmente o vírus combate-se de duas formas: através da utilização de um broncospespamo, para dilatar os brônquios, e a progressão de secreções. Mas por vezes "são usadas medidas como a administração de corticoides por via oral."
Fernando Chaves não considera que sejam necessárias medidas de prevenção "muito especiais além daquelas que já são naturais nestas idades", mas recomenda que a criança seja seguida por um pediatra que possa responder a todas as dúvidas dos pais.
Numa fase já pós-doença, no entanto, o pediatra do Hospital dos Lusíadas diz que "salvo raras exceções, o bebé ficará bem após curar a doença" e desvaloriza a ideia de que no pós tratamento seja importante um período de quarentena para proteger a criança.
"Não faz sentido nenhum. A criança entra na doença, trata a doença e sai da doença e fica por aí. A bonqueolite aguda é uma doença autolimitada e depois disso a criança fica completamente tratada e não há necessidade de mais tratamentos. Há exceções, claro, em que os vírus são mais agressivos e provocam processos inflamatórios crónicos no pulmão, mas isso é outro assunto", conclui.