Toda a gente pode sofrer de ansiedade no dia a dia, seja quando vai falar em público, tem uma entrevista de emprego ou um exame importante. No entanto, há pessoas que vivem estas emoções de uma forma muito mais frequente e intensa — o que pode levar a que a ansiedade seja considerada uma patologia psicológica.

Olivia Remes, da Universidade de Cambridge, realizou um estudo onde descobriu as melhores estratégias para lidar com a ansiedade sem recorrer a fármacos. A investigação foi publicada esta terça-feira, 24 de abril, na revista académica "BMJ Open", e vai ser apresentada na próxima segunda-feira, 30, no Congresso Europeu de Neuropsicofarmacologia, em Paris.

Em primeiro lugar é preciso compreender a ansiedade

Os maiores sinais da ansiedade são o medo constante, a inquietação, a incapacidade de se focar na escola ou no trabalho e a dificuldade em adormecer ou dormir por algumas horas seguidas. Em situações sociais, a ansiedade pode fazer com que seja difícil conversar com outras pessoas, sentindo-se constantemente julgado.

Não há uma forma generalizada de ansiedade: em casos extremos pode levar a ataques de pânico, em que sente que está a ter um ataque cardíaco ou a perder o controlo sobre o seu corpo, noutros pode estar presente de uma maneira constante no dia a dia, quando a preocupação o consome ou fica com medo sempre que pensa no futuro.

Quando os seus sintomas são ignorados, a ansiedade pode evoluir para um estado depressivo. A saúde mental tem-se vindo a tornar um dos maiores problemas em Portugal. De acordo com a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, Portugal é o segundo país com a mais elevada prevalência de doenças psiquiátricas da Europa, com 23,1%, sendo apenas ultrapassado pela Irlanda do Norte.

O que é a ansiedade? Como se manifesta? Há cura?
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Faça as coisas mal

A maneira como lida com a sua vida tem um impacto direto na ansiedade que pode vir a sentir. Assim, se ajustar a maneira como está a lidar com as coisas, consegue controlar mais facilmente a ansiedade.

É esta a primeira sugestão do estudo realizado por Olivia Remes: fazer as coisas mal. Se sentir que a sua vida está a fugir ao seu controlo e que é difícil tomar decisões, ou começar novos projetos, "uma maneira de superar a indecisão ou de dar continuidade a esse novo projeto é 'fazê-lo mal'", explica num artigo publicado no site The Conversation.

A razão pela qual este conselho resulta bem é porque acelera a tomada de decisão e faz com que seja mais fácil agir. Normalmente todos querem fazer as coisas perfeitas ou esperar pelo momento ideal. Mas isso não existe e só faz com que seja mais difícil agir — o que vai colocar cada vez mais pressão e ansiedade na decisão a tomar.

"Isto não só vai fazer com que seja mais fácil de começar, mas também vai fazê-lo perceber que conclui as tarefas muito mais rápido do que antes. Com frequência também vai descobrir que, afinal, não está a ir assim tão mal e, mesmo que esteja, pode sempre fazer uns ajustes mais tarde."

Usar este modo de vida (fazer as coisas mal) dá mais coragem às pessoas para que tentem coisas novas e faz com que seja tudo mais divertido, principalmente porque não pensam, nem se preocupam tanto, com o resultado final. "É sobre fazer mal hoje e ir melhorando à medida que vai crescendo. Em última análise, é sobre libertação."

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Perdoe-se e espere pelo tempo certo para se preocupar

As pessoas com ansiedade são, geralmente, muito autocríticas. O conselho de Olivia é que seja mais gentil consigo mesmo, perdoe-se pelos erros que comete e não se critique: "se sentir que se envergonhou numa situação, não se critique: simplesmente perceba que tem esse impulso de se culpar a si mesmo, depois abandone esse pensamento negativo e redirecione a sua atenção de volta ao que estava a fazer".

Outra estratégia eficaz é esperar para se preocupar: "Se alguma coisa correu mal e se sentir compelido a preocupar-se, não o faça imediatamente. Em vez disso, adie a sua preocupação — guarde dez minutos do seu dia, durante os quais pode preocupar-se com qualquer coisa."

Se fizer isto vai perceber que as situações que desencadeiam a ansiedade inicial não são importantes, e já não se vai sentir assim quando voltar ao assunto mais tarde."Os nossos pensamentos passam muito rapidamente se não os alimentarmos com energia."

Encontre um sentido na vida ao ajudar os outros

Independentemente do quanto se trabalha e do dinheiro que se faz, não há nada mais saudável do que ter uma pessoa de quem se gosta e com quem se possa preocupar. Segundo o estudo, "não podemos ser realmente felizes até sabermos que outra pessoa precisa de nós e depende da nossa produtividade ou amor".

Isto não significa que precise de elogios de outras pessoas. Pelo contrário, pensar noutra pessoa vai fazer com que tire as atenções de cima de si (incluindo a ansiedade e preocupações constantes), pondo-a noutras pessoas e no seu pensamento sobre o que pode fazer para as ajudar.

"Estar ligado às pessoas tem vindo a revelar-se, regularmente, como um dos amortecedores mais potentes contra a saúde mental precária", afirma a estudante. Ao citar o neurologista Viktor Frankl, explica que "a questão é fazer com que essas pessoas percebam que a vida ainda está à espera de algo delas", ou seja, que alguém precisa delas. Isso vai fazer com que seja mais fácil suportar os momentos difíceis.

Ajudar outras pessoas pode ser tão simples como tomar conta de uma criança, ajudar idosos ou fazer voluntariado. "Mesmo que essas pessoas nunca percebam o que fez por elas, não é isso que importa, porque você saberá. E isso vai fazer com que perceba a singularidade e importância da sua própria vida."