O problema de escolher o melhor desodorizante está ao nível daquele com que nos deparamos no momento de escolher uma marca de iogurtes ou de cereais: nos supermercados, a oferta é vasta, talvez demasiado vasta. Mas, pior do que isso, é o critério de seleção que normalmente é adotado: escolhemos pelo cheiro que mais nos agrada. E, por vezes, quanto mais aroma houver, melhor.
Só que um bom desodorizante, explica à MAGG a dermatologista Manuela Paçô, é o contrário disto. No momento de escolhermos o desodorizante, há alguns aspetos que precisam de ser considerados, partindo do princípio que um bom produto é aquele que, não só é eficiente na sua tarefa, como garante que não maltrata, irrita e fere a pele.
Tendo isto em consideração, o que é que um desodorizante deve e não deve ter? No momento de analisarmos o rótulo, a que é que devemos estar atentos? E será a regra igual para toda a gente?
Quanto menos cheiro, melhor
Quando menos cheiro, melhor. Certo? “Um desodorizante não deve ser imensamente perfumado. É um aspeto importante porque o potencial de desenvolver reações alérgicas é logo muito maior”, explica.
A reatividade da pele da axila está relacionada com o ambiente húmido que “a pele fininha” e o “efeito prega” — pelo contacto permanente da pele com pele — criam. “A axila é uma zona húmida por natureza e por isso tem sempre pequenas fendas, microscópicas, por onde podem entrar moléculas que dão origem à reação alérgica. Isso faz com que a probabilidade seja aumentada.”
Ingredientes obrigatórios e a evitar
A composição ideal não será a mesma para todas as pessoas, porque há peles mais sensíveis do que outras. Mas há alguns pormenores que são transversais. Além de dever conter uma quantidade reduzida ou nenhuma de perfume, deve também, devido ao ambiente peculiar desta zona do corpo, “garantir que tem qualquer substância emoliente, ou seja, que amacie a pele.” A camomila, adianta, também é uma vantagem na composição de um desodorizante, porque “tem efeito calmante na pele.”
Por outro lado, os parabenos, como acontece noutros produtos de cosmética, também são sempre de evitar, uma vez que, devido ao contacto continuado com a pele, podem provocar reação alérgica.
Roll-on, stick ou spray?
E isto remete-nos para a forma como se aplica o produto: “É de longe preferível usar roll-on ou em stick, face aos spray [que, além de altamente poluentes, não têm substância emoliante, sendo muito mais agressivos para a pele]”.
E os sais de alumínio?
Mas é preciso falar também dos sais de alumínio, presentes nos anti-transpirantes ou anti-perspirantes — que já foram associados ao cancro da mama, pela acumulação da substância, mas sem confirmação científica. Contrariamente aos desodorizantes, que apenas controlam os odores, com estes produtos, há também uma diminuição da quantidade de suor produzida naquela zona do corpo.
Em excesso, estes sais são “altamente irritantes para a pele”, ferindo-a. Isto “abre caminho para infeções, para eczemas irritativos e portanto não devemos usar um produto que o contenha em excesso.” Mas isso não significa que estes sais sejam “obrigatoriamente maus”, até porque há pessoas que, por transpirarem de forma muito abundante, precisam. Além das especificidades da pessoa em questão (uma pele mais sensível pode não suportar muito bem), a dose, explica, é que importa, sendo que num destes produtos nunca deverá ultrapassar um valor que ronde os 7%.
Mas, então, com os anti-transpirantes acumulamos suor no corpo? Não, não existe um bloqueio. “O suor é eliminado por outra área da pele”, diz a dermatologista.
O alúmen é um bom substituto
No entanto, já existe um substituto para estes sais, que a dermatologista recomenda, sobretudo para quem tem uma pele mais reativa: “Há uma substância natural que substitui os sais de alumínio que é a pedra de alúmen — tem efeito desodorizante e anti-transpirante, mas de uma forma que não é agressiva. Não estão descritas reações alergias", diz, acrescentando que produtos com este ingrediente estão disponíveis em lojas vulgares de produtos naturais.
Todos os produtos orgânicos fazem bem?
Por outro lado, a aloe vera, amplamente utilizada nos tratamentos para a pele, não é ideal. Apesar de os efeitos anti-inflamatórios, não é recomendada a sua utilização como parte da composição deste produto: “É uma substância que, tal como parabenos, pelo efeito de utilização continuado pode levar à ocorrência de alergias.”
A cosmética orgânica, ressalva, não é toda igual nem ideal. “Há coisas muito boas e outras que não são”, diz. “Nos produtos orgânicos, há substâncias que são naturais e que também podem provocar alergias. Quando um doente me fala nisto, o que eu lhe peço é me mostre a composição do produto.” Não é o facto “de ser natural que não o torna prejudicial”, diz. E dá um exemplo prático: “Se eu me picar numa urtiga, que é natural, fico com uma reação do tipo urticária.”
No final disto tudo, o que é, afinal, o ideal? “Uma pessoa que não tenha problema nenhum deve optar por um roll-on ou stick. Em segundo, deve começar com um produto que seja neutro e que não seja anti-transpirante", explica. “Se com o desodorizante não ficar satisfeito porque continua a cheirar a suor pode passar para anti-transpirante, procurando aqueles que tenham pedra de alumén e substâncias calmantes como a camomila.”