Um novo estudo descobriu que traumas na infância causam cicatrizes físicas no cérebro, e aumentam o risco de depressão grave. Publicado no "The Lancet" esta quinta-feira, 21 de março, a investigação encontrou uma ligação "significativa" entre adultos que sofreram maus tratos em crianças e um córtex insular menor, uma parte do cérebro que se acredita que ajuda a regular a emoção.

Pela primeira vez, cientistas conseguiram relacionar as mudanças na estrutura do cérebro a experiências traumáticas do início da vida e a problemas de saúde mental na vida adulta. O estudo concentrou-se principalmente num fenómeno conhecido como "cicatrização límbica", que as investigações anteriores sugeriam estar ligado ao stresse.

Liderado pelo médico Nils Opel, da Universidade de Münster, na Alemanha, o estudo envolveu 110 pacientes internados no hospital com transtorno depressivo grave, monitorizados durante os dois anos seguintes. Os doentes foram submetidos a um questionário detalhado de trauma infantil, que, retrospetivamente, avaliou incidentes históricos de abuso físico, negligência física, abuso emocional, negligência emocional e abuso sexual.

Nils Opel explicou ao "The Telegraph" que, "dado o impacto do córtex insular em funções cerebrais, como a consciência emocional, é possível que as mudanças que vimos tornem os pacientes menos responsivos aos tratamentos convencionais". Falou ainda do futuro, em que as “pesquisas psiquiátricas devem, portanto, explorar como é que as nossas descobertas podem ser traduzidas numa atenção, cuidado e tratamento especiais, que poderiam melhorar os resultados dos pacientes".

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Os resultados do estudo sugerem que a redução na área do córtex insular, devido à cicatrização límbica, poderia tornar a recaída futura mais provável, e que os maus tratos na infância são um dos maiores fatores de risco para depressão grave. 

Todos os participantes do estudo, com idades compreendidas entre os 18 e os 60 anos, estavam em tratamento hospitalar.