Os acidentes acontecem e muitas vezes causam o pânico, pelo que há que saber o que fazer nestas alturas de stress. No verão, as crianças passam mais tempo na rua, e são tantos os potenciais perigos. Uma simples brincadeira pode terminar numa ida às urgências.
Os traumatismos dentários são muito comuns nos meses mais quentes, já que os pequenos fazem mais atividades exteriores como andar de bicicleta, de patins, frequentam o parque infantil e até dão uns mergulhos na piscina. Só que muitas vezes acabam por cair e bater com a boca em cheio no chão ou noutro obstáculo.
O que deve ser feito na sequência de um destes acidentes, que podem resultar na perda total de um ou mais dentes, na respetiva deslocação ou quebra? Falámos com uma médica dentista de modo a perceber como é que os pais devem agir perante uma fratura dentária, conseguindo minimizar os danos e garantindo um tratamento eficaz.
Vera Janeiro formou-se no Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz e começou a exercer em 2008, na MALO CLINIC de Lisboa, onde se encontra até hoje. Com prática exclusiva em Odontopediatria e Dentisteria, testemunha "imensas fraturas" dentárias em crianças ao longo do verão.
Apesar de estes percalços também acontecerem aos adultos, decorrem "maioritariamente" em crianças em idade pré-escolar, entre os 2 e os 3 anos de idade, fase em que ainda não têm grande coordenação motora ou controlo suficiente nas suas deslocações, conta-nos a Vera Janeiro.
Estas fraturas costumam acontecer nos dentes da frente e podem ser de três tipos: intrusão, quando os traumatismos levam a que o dente entre na gengiva, extrusão, quando o impacto grande faz com que parte do dente caia, e avulsão, quando sai por completo da boca. Há vários passos a seguir quando os mais pequenos embatem contra uma superfície e danificam a dentição.
1. Manter sempre a calma
Segundo esta médica dentista, as crianças devem ser aconselhadas a manter a tranquilidade face ao sucedido, pelo que também quem as rodeia deve, pelo menos, aparentar estar calmo, "por mais difícil que seja". Se os pais estiverem visivelmente nervosos, vão passar esse estado à criança.
Embora seja uma situação chocante e desesperante, de nada serve a histeria que muitas vezes ocorre. Há que manter a cabeça fria de modo a conseguir tomar as decisões corretas, entender o que se passou e seguir os passos corretos para evitar as piores consequências.
2. Identificar se o dente fraturado é de leite ou definitivo
As crianças começam a ter a dentição definitiva a partir dos 6 anos, de acordo com o que nos explicou Vera Janeiro. Embora em ambos os casos seja recomendada uma avaliação por parte do médico dentista, "a de leite implica uma especial atenção".
Isto porque existem dentes definitivos a formarem-se perto. "Se houver um movimento da peça dentária, esse pode afetar o local onde se está a formar o dente definitivo e trazer consequências para a sua formação", como nascer com algum defeito ou marca, alerta a dentista da MALO Clinic.
3. Acautelar todos os fragmentos dentários
"Caso seja uma fratura, é importante tentar procurar o pedacinho de dente que partiu, porque muitas vezes pode ser reaproveitado e colado ao dente anterior", elucida Vera Janeiro. Este passo significará "uma consulta muito menos morosa", já que "é melhor ter um dente natural do que fazer uma restauração".
Se o dente sair por completo da boca, apenas é possível reimplantá-lo no caso de ser um dente definitivo e "se for feito o quanto antes". Este é unido aos dentes que o rodeiam "para ganhar alguma estabilidade". "Se for um dente de leite não dá para reimplantar", sublinha a dentista.
4. Transportá-los devidamente
Ao encontrar os pedaços do dente que caíram (ou mesmo o próprio dente), deve mantê-los na sua posse e levá-los até ao consultório, mas tal não pode ser feito de qualquer forma. Vera Janeiro aconselha a manter os fragmentos em soro ou em leite.
"De forma a não desidratar e a tentar mantê-lo com as caraterísticas o mais naturais possível", justifica a médica dentista. Só assim conseguirão colá-lo. E atenção: não deve "nunca segurar o dente pela raiz". Em vez disso, pegue nele pela coroa, ou seja, "pela parte mais branca".
5. Obter ajuda médica o mais rápido possível
O tempo é fulcral para o desfecho de um traumatismo dentário. "Quanto mais rápido fizermos esta intervenção, mais garantias temos de que o dente se vai manter na boca da criança", garante Vera Janeiro. "Há muitos prognósticos e muitas consequências que podem ser evitados se o tratamento for feito rapidamente", reforça.
O ideal, esclarece esta profissional, é obter ajuda médica até 60 minutos depois de ocorrer o traumatismo. Ao ultrapassar esta janela temporal existe um maior risco de não ser possível voltar a colocar o dente que caiu na boca da criança, procedimento que seria ideal.
6. Saber descrever como aconteceu o acidente
Quando os pais chegam à consulta com o médico dentista, devem ir prontos para descrever, até ao mais ínfimo pormenor, como tudo aconteceu, já que cada detalhe pode, efetivamente, fazer a diferença na intervenção, tal como nos explicou a Vera Janeiro.
Desde o que ocorreu a onde e como a criança bateu, tudo importa. "Se era um solo liso ou arenoso, pois pode haver areia e contaminação da ferida", exemplifica a médica dentista, esclarecendo que só com toda a informação disponível podem proceder aos cuidados necessários.
7. Seguir certos cuidados depois da intervenção
No caso de um dente sofrer uma fratura e ser posteriormente restaurado ou colado, o paciente deve "evitar mastigar e trincar" com esse mesmo dente, pois pode haver risco de uma nova fratura. "Coisas extremamente duras" como maçãs e peras não são aconselháveis.
Em vez disso, a criança deve fazer uma dieta mole durante algum tempo, para que o dente consiga "ganhar estabilização". A higiene oral regular tem de ser mantida, embora com "um pouco menos de força". "Muitas vezes, como dói, os pais têm receio de estragar o trabalho que foi feito, o que é pior, porque pode causar uma infeção a posteriori", salvaguarda a dentista.
8. Alertar para a prudência no futuro
As crianças devem continuar a brincar, mas conscientes dos perigos que correm. De modo a evitar este tipo de situações (ou a sua repetição), é fulcral que os pais não deixem que os filhos corram à volta de piscinas ou que mergulhem de cabeça para piscinas com pouca profundidade.
Para evitar consequências maiores ou irreversíveis devem também usar as proteções necessárias quando praticam desportos mais radicais, podendo até utilizar protetores bucais para proteger os dentes de qualquer impacto, aconselha esta médica dentista da MALO Clinic.