Se tem filhos pequenos, é natural que as idas às urgências ou ao médico já façam parte da sua rotina. Entre otites, inflamações de garganta, constipações e gripes, são várias as doenças que atacam os miúdos. E nas meninas, principalmente na fase entre os 3 e os 14 anos, existe uma preocupação acrescida — falamos das vulvovaginites, infeções ligadas ao desequilíbrio da flora vaginal e aos descuidos com a higiene íntima.

“Alguns estudos chegam a afirmar que 94% das causas ginecológicas das idas às urgências das meninas correspondem a vulvovaginites”, afirma Joana Martins, médica pediatra no Hospital Dona Estefânia, na apresentação do Lactacyd Girl, um novo produto de higiene íntima para meninas a partir dos 3 anos.

De acordo com a especialista, as raparigas entre os 3 e os 14 anos são um grupo etário de risco para estas infeções, dado que “têm um pH da vagina mais alcalino, um nível baixo de lactobacilos e uma mucosa mais frágil, que não tem muco a proteger — a mulher tem o corrimento normal que é um fator protetor, mas as meninas não têm, naturalmente, esse corrimento”.

Joana Martins também explica que “a própria anatomia da vulva da menina faz com que os grandes lábios sejam muito pequenos, não conseguindo tapar completamente os pequenos lábios”, ficando assim a zona vulvar mais “exposta às agressões físicas”. As meninas também não têm pelos púbicos, que “estão lá para algum efeito”.

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Todos estes fatores contribuem para que as meninas tenham um ambiente favorável ao crescimento de bactérias patogénicas, e que sejam vítimas mais fáceis de infeções como as vulvovaginites, cujos sintomas clínicos incluem comichão, ardor, dor, irritação, desconforto vulvovaginal e corrimento vaginal anormal.

O que causa as vulvovaginites na infância?

Existem vários fatores no dia a dia de uma menina que podem contribuir e muito para o surgimento destas infeções, que são muitas vezes confundias com infeções urinárias.

“Os pais não sabem o que é uma vulvovaginite e, quando as meninas se queixam de dores ao urinar (porque a urina escorre pela vulva e arde), pensam logo que a filha tem uma infeção urinária e vão para as urgências com o intuito de a curarem com antibiótico. Mas, nessas situações, o melhor que se pode fazer é olhar e pedir para a zona genital da menina ser bem analisada”, explica Joana Martins.

De acordo com a especialista, no caso de uma vulvovaginite, a vulva fica “perfeitamente vermelha e muito brilhante”, sendo esta uma situação muito “dolorosa, que arde muito” e que é preciso tratar.

“Nestas circunstâncias, é um bocadinho tolo irmos atrás de uma infeção urinária quando temos uma coisa tão evidente à nossa frente”, afirma Joana Martins, que salienta que “qualquer pediatra pede um exame à urina, que normalmente regressa sem qualquer alteração, e enviamos a menina para casa com indicações especificas de higiene íntima”.

Joana Martins é médica pediatra no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa

Mas quais são as causas destas infeções? Segundo a pediatra, a fralda é um dos fatores: “Mesmo depois dos 3 anos, numa altura em que as crianças já vão à casa de banho sozinhas, existem muitas que ainda usam fralda para dormir. E estas são um fator húmido, sujo e, no caso das meninas, em permanente contacto com a vulva, sendo assim um fator de risco para o desenvolvimento de vulvovagintes em si próprias”.

A limpeza insuficiente depois das idas à casa de banho são outro fator, dado que as meninas “querem ser autónomas e limparem-se sozinhas”. Mas fazem-no “de trás para a frente” e potenciam o desenvolvimento destas complicações.

Os banhos de imersão são algo que também entra para este conjunto de fatores de risco: “Um banho prolongado, com gel de banho, com um pH um pouco mais alcalino, faz com que as meninas percam as camadas protetoras e desequilibrem a flora vaginal”, salienta a pediatra, que também alerta para o papel dos antibióticos como potenciadores das vulvovaginites.

“É possível observar uma sazonalidade muito particular nas vulvovagintes das meninas. No inverno, altura em que se consomem mais antibióticos, surgem as infeções secundárias a seguir à toma destes fármacos. Isto acontece porque estes medicamentos matam bactérias indiscriminadamente e matam também os lactobacilos na zona genital, oferecendo assim terreno fértil para as bactérias patogénicas se desenvolverem.”

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Depois desta época do ano, começa o calor e, com a chegada do verão, existe outro pico de vulvovaginites. “Temos uma tríade complicada: são os fatos de banho sempre húmidos em contactos com a pele, a areia (corpos estranhos) e a permanência dentro de água”, salienta Joana Martins.

Saiba como prevenir estas infeções

O primeiro passo para evitar as vulvovaginites é uma higiene íntima diária sem falhas. “Devem ser utilizados produtos adequados para o efeito, sem sabão, sem parabenos e com um pH na gama mais ácida para proteger as poucas colónias de lactobacilos que existam na zona genital das meninas”, informa a pediatra Joana Martins.

A especialista refere também que os banhos de imersão prolongados devem ser evitados, e que as idas à casa de banho sejam monitorizadas sempre que possível, para que a limpeza seja efetuada de frente para trás.

A roupa interior deve ser 100% de algodão, e também é benéfico que seja dada primazia a roupas largas e com fibras respiráveis. “Eu sei que as miúdas gostam de usar leggings, que são giras e práticas, mas são peças péssimas para a saúde da zona íntima”, alerta Joana Martins, que explica que, no verão, devem usar-se calções e saias, para “arejar a zona do períneo”.