O corpo vai afundando-se na cadeira durante o dia do trabalho. Encolhemos os ombros por causa do frio. Levámos a mala sempre demasiado pesada. É um facto: a maior parte das pessoas não tem a melhor postura e isso, quase que inevitavelmente, leva a dores de costas.
Para perceber o que nos leva a ter esta má postura e que implicações é que isso pode ter na saúde, a MAGG falou com um especialista que explica que o problema não está apenas nas horas que passamos sentadas à secretária.
"Ainda antes da postura, o problema começa logo pelo excesso de peso, uma vez que está provado que pode potenciar o aparecimento de dores da coluna, em particular da coluna lombar", refere o ortopedista Luís Teixeira, médico no Spine Center, Hospital da Luz em Coimbra.
Uma vez que quase metade da população portuguesa tem excesso de peso e quase um milhão de adultos sofre de obesidade, de acordo com a Fundação Portuguesa de Cardiologia, é de prever que este fator tenha uma grande expressão no número de pessoas que tem problemas na coluna, para o qual contribui também o sedentarismo. O especialista explica que a falta de exercício físico não só tem implicações no que toca à elasticidade, como à flexibilidade das vértebras.
Mas há mais: "Cada vez mais temos atividades sentadas e más posturas ao computador por períodos de tempo prolongado". O especialista lembra que este problema ganha outra dimensão principalmente quando os equipamentos não são ergonómicos, ou seja, não estão adequados à estrutura do corpo humano, em particular as cadeiras, as próprias secretarias, a distância do computador e computadores colocados muito baixos que condicionam a coluna cervical".
Algumas das profissões que mais condicionam a saúde da coluna são todas aquelas que envolvem um maior esforço físico, como os profissionais de construção civil e os enfermeiros que têm mobilizar doentes, ou aquelas que implicam uma mesma posição longos períodos de tempo, como é o caso dos cirurgiões ou dos camionistas.
Falta ainda falar de uma outra vertente que, ao contrário das profissões que podem trazer problemas diferentes, é transversal a quase todas as pessoas: o uso de telemóveis, tablets ou outras tecnologias portáteis. Isto porque, de acordo com o ortopedista Luís Teixeira, o uso destes equipamentos leva a um posicionamento da coluna vertical que pode condicionar grandes contraturas no pescoço, na região escapular ou das omoplatas.
E porquê? Porque "a cabeça, numa posição normal, reta, condiciona um peso sobre a coluna cervical de cerca de 5 a 6 quilogramas. Numa flexão de cerca de 25o, este peso pode ser três vezes maior. Portanto, a posição é muito importante", refere o especialista.
É de pequenino que se torce a coluna, mas também que se previne
As consequências de um mau posicionamento da coluna podem refletir-se maioritariamente na idade adulta, mas quer nesta idade, ou na juventude, há várias formas de prevenir o impacto das atividade do dia a dia na coluna.
Como? O ortopedista Luís Teixeira deixa cinco sugestões.
Não deixe arrastar o problema
Situações como excesso de peso ou micro traumatismos de repetição, podem levar ao desgaste dos discos intervertebrais — que no limite podem condicionar o aparecimento de hérnias discais ou alterações ao nível de articulações mais posteriores da coluna, uma das principais causas de dor.
Quando já passamos a fase de prevenção e a dor leva a problemas mais sérios, pode ser necessário fazer uma cirurgia. "De uma forma muito genérica, podemos afirmar que quando existem dores que são intratáveis, alterações de sensibilidade ou motoras, são talvez os principais fatores que condicionam a sugestão para intervenção cirúrgica", refere o oncologista Luís Teixeira.
O especialista refere ainda que fraturas, traumatismos, tumores, ou infeções podem levar à intervenção cirúrgica, tal como o facto de o corpo resistir ao tratamento com medicamentos ou o aparecimento de alterações neurológicas.
Contudo, se antes a cirurgia à coluna poderia causar algum receio por parte dos doentes, com a evolução do tempo e da medicina, surgiram novos métodos cirúrgicos para a coluna.
O que é a cirurgia minimamente invasiva?
O nome já agrada tanto aos ouvidos como à coluna, isto porque a palavra "minimamente" é um indicio de que a intervenção é pouco intrusiva.
"Hoje, através pequenas incisões de 1 a 2 cm com dilatadores, uns tubos próprios, permite-nos fazer o mesmo tipo de procedimento [do que antigamente], com perdas sanguíneas muito pequenas, com taxas de infeção muito mais baixas, com uma enorme segurança e com uma recuperação muito maior", explica o ortopedista Luís Teixeira, comprando as antigas cirurgias em que os doentes tinham de ficar entre 6 a 8 dias internados, ao passo que hoje, por exemplo numa cirurgia a uma hérnias discal feita de manhã, o doente pode retornar a casa ao fim do dia.
É por isso um processo muito mais rápido, confortável, menos riscos de infeção, menos dores no pós operatório e uma reabilitação muito mais rápida.
Há ainda um outro tipo de intervenção — a cirurgia por neuro navegação — uma técnica de colocação de implantes que consiste na utilização de uma TAC intraoperatória para introduzir parafusos e implantes em tempo real por meios informáticos avançados de aquisição de imagem. Os cirurgiões recorrem a este método em casos como hérnias discais ou fixações da coluna quando existem fraturas.
"A neuro navegação é uma das técnicas que pode ser aplicada seja em cirurgia aberta, seja em cirurgia minimamente invasiva, só que é muito mais usada em cirurgia minimamente invasiva porque a cirurgia por neuro navegação permite a colocação de implantes com uma enorme segurança", refere o especialista.
Esta segurança reflete-se nos números: as taxas de segurança de colocação de implantes passaram dos 95% para os 99,5% de segurança, o que representa uma percentagem de implantes mal colocados entre inferior a 0,5%, de acordo com o ortopedista Luís Teixeira.
"Antigamente muitos implantes tinham de ser retirados ao final de alguns anos porque havia algumas rejeições. Atualmente os materiais são muito biocompatíveis. São materiais cada vez mais próximos da representação daquilo que são as estruturas biológicas humanas", adianta o especialista.
Em ambas as técnicas pode ser necessária a administração de uma anestesia, também ela mais avançada e segura do que há alguns anos.
Todas estas tecnologias vão exigir ainda algum conhecimento e investimento uma vez que as "não estão ao acesso de todos os cirurgiões da coluna, porque nem todas as unidades hospitalares, sejam elas públicas ou privadas, têm estas metodologias à sua disposição".
O ortopedista Luís Teixeira acrescenta que no que diz respeito aos cirurgiões, a curva de aprendizagem de uma maneira geral não é muito longa, com exceção das técnicas invasivas, cuja destreza técnica envolve um maior número de anos e esforço dos profissionais.
"70 a 80% das pessoas podem ter uma queixa de coluna sem que isso signifique obrigatoriamente doença"
O ortopedista Luís Teixeira refere que em muitos casos uma dor na coluna pode ser algo normal, não devendo ser razão para alarmismos. "Depois dos 20 anos, cerca de 70 a 80% das pessoas podem ter uma queixa de coluna sem que isso signifique obrigatoriamente doença. Devem recorrer, seja a um médico de medicina geral, ou a um médico especialista da área, no caso de terem dores com características especificas", como é o caso de dores continuas, ou de alterações sensitivas ou de mobilidade.
Muitas destas dores podem então dever-se ao mau posicionamento da coluna, que em grande parte são o reflexo de profissões que implicam que as pessoas estejam sentadas durante todo o dia.
É por isso mesmo que o ortopedista Luís Teixeira deixa mais quatro sugestões.