A mamoplastia de aumento é uma das cirurgias plásticas mais procuradas pelas mulheres e "sem dúvida, um dos procedimentos que é mais realizado". Este é um facto comprovado por Luísa Magalhães Ramos, especialista em Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Estética. Mas aquilo que à primeira vista pode parecer apenas e só uma questão de imagem ou vaidade, é muitas vezes algo mais intrínseco e com uma forte ligação à autoestima e saúde mental das pacientes que procuram esta operação.
"A grande maioria das mulheres que faz esta cirurgia é por uma questão de autoestima. Achamos muitas vezes que é por vaidade e por futilidade. Não é que seja futilidade, mas é mais do que uma questão apenas de imagem. É uma mudança de vida e muito mais do que uma operação", refere a especialista em entrevista à MAGG.
"Chegam mesmo com questões do foro psicológico, do foro emotivo, da sua autoestima. São pessoas que sofrem verdadeiramente com este problema. E, por vezes, aquilo que nós vemos fisicamente não é diretamente proporcional ao sofrimento que aquela pessoa possa ter a nível psicológico. Podemos até achar 'olha que maminha bonita, pequenina e não sei o quê', e aquela mulher está num sofrimento horrível, porque para ela, de alguma forma, aquilo não corresponde ao conceito, ao ideal que criou daquilo que é uma mama, o volume e sofre horrores. Mas também há outras mulheres que aceitam isto de forma natural e que não se preocupam com o assunto", salienta a cirurgiã, que tem três clínicas em Portugal, em Lisboa, no Porto e em Cascais.
A cirurgia que muda vidas e que vai muito além de só "querer umas mamas maiores"
Para além da mamoplastia de aumento ser uma das cirurgias plásticas mais realizada por mulheres, é a que tem uma maior taxa de satisfação. "De acordo com os últimos estudos publicados, anda aproximadamente à volta dos 97%", refere Luísa Magalhães Ramos, que é testemunha dessa mesma satisfação. "Há uma frase que eu ouço imenso a seguir à cirurgia da mama, que é 'a doutora não imagina como mudou a minha vida'."
Mas importa referir que há diferentes contornos e abordagens quando falamos da cirurgia da mama. "Se nos referirmos ao uso de implantes, sim, continua a ser uma das cirurgias mais procuradas. No nosso caso, aqui na clínica, trabalhamos com mulheres um bocadinho mais maduras, do que com mulheres extremamente jovens. E trato sobretudo de mulheres que foram mães, que perderam volume na mama e que vêm à clínica com o objetivo de repor o volume que entretanto perderam", salienta a médica.
Nestes casos, para além de uma perda de volume a seguir a uma gravidez, também pode ocorrer uma atrofia da pele. "A mama fica um bocadinho mais descaída e pode ser necessário combinar esse aumento do volume com um lifting mamário. No fundo, é subir a mama e preencher, um procedimento chamado mastopexia, que é uma cirurgia que utilizamos efetivamente para reposicionar as estruturas", diz Luisa Magalhães Ramos.
"Obviamente que isto é um problema que afeta imenso as mulheres que já foram mães. Já quando falamos de uma mamoplastia de aumento simples, ou seja, de uma mulher que não está satisfeita com o volume das suas mamas, porque não se desenvolveram, porque são pequeninas, porque são desproporcionais para a sua estatura, aí sim estamos a falar de um aumento do mamário clássico."
"Depois, para além disso, ainda temos também a questão das malformações, que são mulheres, neste caso mulheres mais jovens — e neste caso operamos mais cedo —, que têm grandes assimetrias. Por exemplo, imagine uma mama que cresce muito e outra que não cresce nada. E ainda o caso das mamas tuberosas, que são mamas que crescem em forma de tubinho, que não têm uma forma redonda, que normalmente têm uma aréola desproporcional. Isto para explicar que a mamoplastia de aumento ou recurso a implantes acaba por cobrir uma série de situações que vão muito para além da questão de querer ter só umas mamas maiores", realça a especialista.
Os riscos existem — e a decisão deve ser informada
No entanto, o facto de a grande maioria das mulheres ficar contente com o resultado da cirurgia, isto não quer obviamente dizer que seja uma situação isenta de riscos e a decisão deve ser bastante pensada. "Sim, grande parte fica muito contente com o resultado, existindo, claro, outras mulheres que mudam de ideias e que depois não gostam, não se sentem confortáveis. E claro que há riscos associados aos implantes, e outros associados a uma cirurgia, fazendo com que esta seja uma decisão tomada de forma informada", diz Luísa Magalhães Ramos.
"A mulher tem que conhecer os riscos a que está sujeita e ter noção que, ao longo da sua vida, em algum momento vai ter que trocar os implantes e submeter-se a uma nova cirurgia", refere a médica, que adianta que é impossível afirmar quando é que os implantes têm de ser trocados.
"Os implantes no mercado têm vindo a ser alvo de melhorias sucessivas, melhorias técnicas, com o objetivo de, precisamente, diminuir o risco de contratura, que no fundo é a indicação médica mais frequente para a troca. Neste momento, estamos a trabalhar com materiais relativamente recentes, a usar materiais que supostamente são melhores do que os anteriores. O objetivo é que os materiais atuais até durem mais do que os materiais que se usavam há uns anos. Agora, quanto tempo é que vão durar, quanto tempo é que vão estar, não se consegue mesmo responder a essa questão. A única coisa é que, muito provavelmente, ao longo da sua vida, a mulher vai ter que os trocar."
É também necessário separar o tipo de riscos. "Temos os mais imediatos, que são os riscos associados ao processo cirúrgico e à recuperação. Pode haver um hematoma, que é um bocado de sangue que se acumula à volta do implante. Pode haver uma infecção, alterações de sensibilidade da pele. Mas isto são riscos, digamos que, imediatos. E depois há os riscos mais tardios, divididos também em dois", salienta a médica.
Por um lado, existem os médicos, que sucedem no caso de uma ruptura ou contratura do implante, "em que nesse caso é mesmo necessário trocar", diz Luísa Magalhães Ramos, que acrescenta que é impossível prever "o que é que vai provocar uma ruptura, uma contratura, que é a vulgar rejeição".
"Mas depois há aqueles casos, que são os mais frequentes dentro dos chamados riscos médicos, em que efetivamente até está tudo bem com o implante propriamente dito, não há nenhum motivo clínico para a troca do implante, mas a mulher já não gosta do resultado que tem. Passaram 10 anos, se calhar foi mãe, amamentou, engordou, emagreceu, houve atrofia, a mama descaiu, ou seja, tudo isto faz parte do ciclo de vida da mulher. A mama é um órgão que na mulher sofre muito com as flutuações e com as diferentes fases da vida. E depois, obviamente, é preciso ajustar. Não são necessariamente indicações médicas para trocarmos o implante, mas aí sim é uma indicação estética e também de autoestima, porque a pessoa, mais uma vez, não se sente bem com ela própria."
Há uma idade certa para colocar implantes? E interferem com a amamentação?
Na opinião de Luísa Magalhães Ramos, a idade mínima para fazer uma cirurgia da mama, na grande maioria dos casos, são os 18 anos — mas a especialista até acredita que as mulheres devem esperar mais.
"No caso de correções de malformações congénitas, de assimetrias graves, pode-se equacionar, obviamente, fazer até antes dos 18 anos com o apoio de um pediatra, de um psicólogo, etc., Mas isso aí são malformações. De resto, é preciso perceber que que quanto mais cedo a mulher tomar a decisão de colocar implantes, mais anos vai viver com eles e mais anos viverá também eventualmente com as consequências dos mesmos, e se calhar mais vezes terá de os trocar ao longo da sua vida", salienta a médica, que recomenda que, no caso de mulheres que pretendam engravidar, a cirurgia só deve ser efetuada após esta fase da vida.
"Acho que é sempre preferível fazer após a gravidez e após a amamentação, exceto nos casos em que, de facto, isso provoca uma falta de autoestima tão grande, que os benefícios de esperar já não se justificam perante um cenário em que a mulher se sente mal psicologicamente. Quando tenho no consultório mulheres em idade fértil, questiono sempre se têm programada alguma gravidez a curto ou médio prazo. E se me disserem que sim, daí a seis meses, por exemplo, a minha resposta é adiar. Agora, às vezes, acontece ter mulheres que me dizem de facto ainda querem ter filhos, mas que se sentem completamente desconfortáveis, que não conseguem ter uma relação íntima com um parceiro, não estão confiantes. Nesses casos, é melhor fazer logo."
Salvo raros casos, os benefícios de esperar por depois de uma gravidez para colocar implantes prendem-se com o aspeto da mama — dado que a gestação e amamentação pode implicar perda de volume, forma, descair a mama, etc —, e não com riscos associados à amamentação.
"Tem que ver com as mamas ficarem esteticamente diferentes, ou seja, não há nenhum problema médico. Claro que, seguramente, existirão exceções, mas a grande maioria das mulheres amamenta sem qualquer problema. Agora, podem ficar um bocadinho mais descaídas, com menos volume, mas também depende do que foi a gestação. Uma mulher engordar oito ou 10 quilos numa gravidez é completamente diferente do que se engordar 30", esclarece Luísa Magalhães Ramos.
"Não adianta tentarmos demover as mulheres daquilo que querem"
Quando as mamoplastias de aumento começaram a surgir como tendência no que diz respeito às cirurgias plásticas, era inegável que víamos tamanhos muito grandes, por vezes excessivos para o corpo das mulheres, resultando em mudanças muito drásticas. Atualmente, o cenário parece outro e acabamos por observar resultados que parecem mais naturais. No entanto, na opinião de Luísa Magalhães Ramos, não se aplica tanto uma tendência de naturalidade, mas o que está em causa é a informação a que as mulheres têm acesso.
"Acredito que as pessoas estão mais permeáveis a ouvir uma opinião sobre os riscos de terem implantes grandes. Hoje em dia já se fala mais dos riscos e das complicações, e nomeadamente de outras questões que são abordadas, como a doença do implante de silicone, por exemplo. Acho que, atualmente, as pessoas pesquisam mais, leem mais, portanto qualquer mulher que faça uma pesquisa online sobre volumes de implantes, vai encontrar informações que lhe vão dizer que quanto maior for o implante, maiores os riscos. Quando depois vêm à médica, e explicamos que um implante maior vai descair mais, os tecidos vão ficar mais finos, vai sentir mais o implante, vai precisar de cirurgia de revisão para levantar o implante mais cedo do que o expectável, já leram isso em algum lado e talvez estejam mais permeáveis a aceitar um tamanho mais pequeno."
Por outro lado, a cirurgiã é a primeira a salientar que os desejos das pacientes devem ser respeitados. "Na minha experiência, não adianta tentarmos demover as mulheres daquilo que querem fazer em relação ao seu corpo, desde que não seja algo assim extremamente exagerado, ou que seja prejudicial de um ponto de vista médico. Cada mulher gosta de uma coisa diferente. Eu gosto de mama pequena. Mas há muitas mulheres que gostam de mama grande, e acredito que, dentro do razoável, temos o direito de autodeterminação do nosso corpo. Tento ouvir as pacientes, perceber quais são as expectativas da mulher que está à minha frente, se é possível fazer ou não, se consigo atingir o resultado que ela quer ou não. Claro que tenho também de explicar o risco que corre ao escolher um implante muito grande ou fazer determinado tipo de opção, mas, no fundo, também deixar que haja aqui uma margem para a decisão da própria mulher, porque temos direito a mandar no nosso corpo. Para as mulheres, quando decidem fazer esta cirurgia, estão a tentar realizar um sonho. Portanto acho que há uma certa obrigação minha de tentar corresponder ao sonho que a minha doente tem."
Os diferentes tipos de implantes
"Não há só um modelo de implante. Há muitos, com projeções diferentes, com alturas, com larguras, com bases, com uma série de coisas", refere a especialista da clínica LMR, que salienta que é preciso adaptar o tipo de implante e a técnica cirúrgica a cada mulher e aos seus desejos.
E existem implantes mais seguros do que o outros? "Depende do tipo de corpo de cada mulher. Para uma mulher o implante mais seguro pode ser o implante A e para outra mulher o implante mais seguro pode ser o implante B. Porque elas pretendem, ou têm corpos diferentes, ou têm problemas diferentes, ou têm questões diferentes para resolver. Não há um implante universal que nós possamos afirmar que é o melhor do mercado", diz Luísa Magalhães Ramos.
"Há alguns implantes que claramente têm características que para aquela mulher vão ser melhores do que outros. Temos implantes microtexturizados, temos implantes com revestimento poliuretano, temos implantes que são 30% mais leves, e continua. Não usamos os mesmos implantes em todas as doentes, ou seja, adequamos. Obviamente que se vamos colocar um implante de 200 ml, se calhar não recomendo um implante B-Lite, que são os tais que são mais leves, porque efetivamente em termos financeiros acaba a ser um investimento bastante grande. O volume de 200 ml é um volume perfeitamente aceitável, e portanto o benefício de colocar um implante que é mais caro para ter menos 30% de peso neste volume, não justifica. Tem de haver um bocadinho de bom senso. Agora se estamos a falar de um implante de 500 ml, garantidamente que vou recomendar um implante B-Lite. Os implantes têm diferentes características e essas características têm que ser adaptadas ao problema da mulher que vem, ao problema, à idade, à estrutura física."
Quanto às mulheres que procuram esta cirurgia, Luísa Magalhães Ramos coloca a bitola na faixa etária dos 25 aos 45 anos. "Nas nossas clínicas, a grande maioria está nessa faixa etária, sendo ainda mais comum entre os 30 e os 40 anos", diz a médica.
E talvez o facto de serem mulheres em idades mais financeiramente independentes a procurar a cirurgia tenha uma relação direta com os custos, dado que não é uma operação barata, nem conta com a ajuda de comparticipações ou sistemas de seguros (salvo exceções de malformações ou reconstruções). Falamos de valores mínimos a rondar os 4000€, e que podem ir até 7000€ ou 8000€, dependendo do tipo de implantes utilizados.