No que diz respeito às mulheres, sabemos que o clítoris e o ponto G são dois dos principais pontos de estimulação sexual e que brinquedos como o famoso Satisfyer Pro 2 — de que tanto se falou nos diretos "Como É Que o Bicho Mexe", do anfitrião Bruno Nogueira —, é capaz de fazer milagres em segundos. Mas e quanto aos homens? O que lhes dá prazer na masturbação? Recorrem a estimuladores sexuais? Porque é que raramente ou nunca não se fala sobre este tema?
Foi isso mesmo que a MAGG foi descobrir. Colocámos estas questões ao urologista e especialista em sexologia clínica Nuno Monteiro Pereira, que afasta o facto de o tema ser um grande tabu e considera até que "a masturbação feminina é capaz ainda de ser mais tabu do que a masculina".
"A masturbação masculina é, digamos, uma prática extraordinariamente frequente e que começa logo na adolescência precoce, ou seja, com a puberdade, quando o rapaz se apercebe de que começa a ter ereções espontâneas, matinais", refere o especialista. Contudo, ainda que haja ereções anteriores, só "a primeira ejaculação determina o início da puberdade" nos rapazes, ao passo que nas raparigas isso acontece na menarca, ou seja, na primeira menstruação.
É ainda na puberdade que, devido à explosão hormonal de testosterona, aumenta também o desejo sexual, o que faz com que os rapazes se deem conta de que a masturbação dá prazer. Uma vez que começa a ser praticada na intimidade e na fase da descoberta, "como é um ato sexual solitário, às vezes há a noção de que não é frequente, mas é", diz o especialista, para justificar que não se trata necessariamente de um tabu.
E embora afaste essa ideia, Nuno Monteiro Pereira reconhece que esse tabu existe e que pode estar relacionado com o contexto histórico. "Continua a haver ainda uma noção, às vezes incutida pela própria família e pela cultura, de que é um bocadinho pecaminoso", revela. Isto porque, no século XIX, o ato de masturbação nos homens "chegou a ser considerado a causa das doenças futuras, não só sexuais, como inclusivamente mentais", explica o especialista e membro da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica.
Ao longo do tempo, estas ideias foram caindo por terra e além de a masturbação ser "um ato absolutamente normal, fisiológico", a ciência encarregou-se de mostrar que há vários benefícios na masturbação, tanto físicos, como mentais.
Quando a masturbação excede os limites. "Está a crescer o medo tremendo que os homens têm das mulheres"
Antes de perceber quais os benefícios, é preciso entender o que é que acontece quando os homens não se masturbam. Quer na puberdade, quer na vida adulta, em caso de não haver masturbação, há "ereções espontâneas noturnas, que acabam por ser até desconfortáveis", especialmente nos jovens, que têm uma grande produção de esperma e, consequentemente, "o volume faz dor testicular", afirma Nuno Monteiro Pereira.
Assim, a masturbação, acaba por representar um alívio físico, mas também mental — e aqui entramos noutro campo do bem estar. "Foi associado que a masturbação dava algum alívio de tensões mentais, a nível cerebral. Portanto, acaba por ser necessário", afirma o especialista.
Por estas razões físicas, mentais, mas também fisiológicas, a maioria dos homens masturba-se desde a puberdade, salvo raras exceções, como por motivos religiosos ou por receio.
Quanto à fertilidade, em nada a masturbação influencia uma maior ou menor capacidade de reprodução. "Um homem pode ser infértil e ter uma sexualidade ejaculatória absolutamente normal. Claro que se tiver problemas de ejaculação, provavelmente haverá infertilidade, mas o inverso não se confirma", refere o urologista.
Este ponto traz-nos dois conceitos que é preciso distinguir: aquilo que é uma ereção, "o aumento de volume peniano", de uma ejaculação.
"A ereção é habitualmente fruto de uma estimulação erótica, mas existem as ereções não eróticas, as da noite", que acontecem todas as noites e "sem ter nada que ver com sonhos eróticos", diz Nuno Monteiro Pereira. Aquilo que acontece é que durante a noite que se dão as oxigenações do pénis — "que na maior parte do seu tempo está flácido, o que significa que está mal oxigenado" —, que resultam em ereções, dando vitalidade ao pénis.
É isto que explica o facto de, com a idade e a possível ocorrência de disfunção erétil — incapacidade persistente de obter ou manter uma ereção que permita uma atividade sexual satisfatória —, quando um homem perde as ereções noturnas, o pénis "em seis a 12 meses fica reduzido a metade do tamanho por falta de oxigenação noturna".
Já a ejaculação, é um mecanismo complemente distinto do ponto de vista cerebral, que normalmente resulta de uma estimulação erótica ou ocorre espontaneamente durante a noite, caso o homem não se masturbe ou não tenha atividade sexual com ejaculação.
Ainda que a masturbação faça bem à mente e possa ser de algum modo saudável para a vida sexual em casal, a automasturbação (aquela que é praticada individualmente pelos homens sem a companhia de um parceiro ou parceira) deve ser vista e praticada com conta peso e medida. "O exagero da masturbação pode ser patológico. Ou seja, pode-se criar um hábito em que o foco é apenas o pénis e a masturbação. Perde-se a noção de que a sexualidade, em princípio, é a dois", alerta o especialista.
Isto acontece muito em homens dominados pela timidez, principalmente homens heterossexuais. "Está a crescer, e não a diminuir, o medo tremendo que os homens têm das mulheres", afirma Nuno Monteiro Pereira.
Os pontos de maior prazer
Nas mulheres, o clítoris é a zona que merece maior atenção no ato da masturbação, e é nele que se foca o mundo diverso de estimuladores sexuais que existe atualmente.
Já nos homens, o modo mais comum de masturbação é espremer a chamada haste peniana com a mão fechada, contudo, "depende muito", revela o urologista. "Há muitos homens que se masturbam nas zonas mais erógenas, junto ao freio do pénis", uma vez que a glande é a zona com mais ligações nervosas. Quanto aos movimentos, existem variadas formas: manual, roçar ou recorrer a uma almofada para simular uma parceira, por exemplo.
E apesar de Nuno Monteiro Pereira reconhecer que os homens "têm quase sempre prazer na masturbação, exceto quando se torna uma coisa quase automática", há zonas nas quais o toque podem gerar desconforto. Particularmente nos mais jovens, o freio do pénis é de tal maneira excitante, que os homens evitam tocar porque pode ser desagradável", afirma o especialista.
E brinquedos sexuais? Serão os homens adeptos destes aparelhos? De acordo com o especialista em sexologia, a função dos brinquedos sexuais nos homens não é comparável àquela que tem nas mulheres. "É menos interessante e menos útil", afirma, acrescentando que normalmente são usados por "uma população que tem uma atividade predominantemente masturbatória e que não progride para uma coisa de casal". Ainda assim, os vibradores parecem ser os mais eficazes.
Já a aceitação dos brinquedos sexuais em contexto de casal acontece, segundo o especialista, porque "a parceira está lá", brinca. "Podem entrar nesses jogos, mas há outros mecanismos de excitação masculina. Embora hoje em dia haja uma diversidade enorme", termina.