É urgente falar de saúde íntima, desmistificando e consciencializado para a necessidade de uma maior abertura no diálogo na sociedade portuguesa. É que além de prevenir complicações, é também uma forma de “empoderamento feminino”.
As palavras são de Catarina Furtado, apresentadora de televisão e presidente da Associação Corações com Coroa que, esta quinta-feira, 20 de outubro, marcou presença na conferência Saúde Íntima Sem Tabus, organizada pela Lactacyd, a marca que conta já com mais de 60 anos de história e experiência em higiene íntima. O evento, que se realizou em parceria com a associação sem fins lucrativos Corações com Coroa, em Lisboa, contou ainda com a presença de Liliana Filipa, produtora de conteúdo, e a atriz Carla Andrino.
Numa conversa leve, informativa e sem preconceitos, partilharam-se experiências e conhecimento sobre um tema que continua a gerar algum desconforto entre homens e mulheres. Adivinhou? Falamos da saúde íntima, claro.
“A minha mãe sempre teve muitos cuidados de higiene íntima”
Para o arranque da conversa, as oradoras começaram por abordar o momento em que tomaram consciência da importância de adotar uma higiene íntima regular e correta. A primeira a tomar a palavra foi a criadora de conteúdo Liliana Filipa que, nas suas palavras, disse ter crescido “naturalmente” com este hábito. E isso, diz, deve-o à mãe.
Não só por estar habituada a “ver o frasquinho [de higienização da zona íntima] no bidê”, partilhou entre risos, mas também por ter tido esse acompanhamento da mãe. “Sou uma sortuda porque cresci com isto. Sempre vi a minha mãe a seguir estes passos”, disse para uma plateia atenta. “Sou uma privilegiada”, continuou, “porque a minha mãe sempre teve muitos cuidados de higiene íntima. Sempre me falou de menstruação ou de ginecologia…” No fundo, diz, o tema sempre “foi muito banal lá em casa”. Como devia ser, acrescentamos.
De uma geração anterior, Catarina Furtado, partilhou uma experiência inversa ao nunca ter visto este tema abordado durante a sua adolescência. “A minha mãe sempre foi uma pessoa muito aberta em relação a vários temas, até porque era professora de Ensino Especial. Mas no que tocava a saúde íntima, não” demonstrava abertura, começou por dizer a apresentadora. A sua aproximação ao tema, e a importância de se falar dele com abertura e sem preconceitos, veio com o primeiro contacto com o seu ginecologista.
Apesar disso, e em entrevista à MAGG já depois do evento terminar, não esconde que a desinformação fez com que, durante a adolescência, deixasse de lado alguns cuidados específicos. “Tudo isso fez com que deixasse de usufruir verdadeiramente da minha saúde íntima”, acrescentou.
Durante o evento, a atriz Carla Andrino também contribuiu com a sua perspetiva, explicando que, mesmo acompanhada por um ginecologista, só passou a utilizar produtos de higiene íntima “depois de ter conhecido a Lactacyd”. Até esse momento, diz, “pensava que só se usava quando se tinha um problema”.
“Não fomos educados a falar sobre saúde íntima”
Sem pausas, o debate continuou com uma reflexão sobre a pergunta para um milhão de euros.
Afinal, porque é que continua a ser um tabu falar de saúde íntima? Segundo Catarina Furtado, isto é um reflexo de “anos e anos de machismo em que a mulher não tinha autonomia corporal”. Em entrevista à MAGG à margem do evento, Catarina Furtado reforçou a sua mensagem, lamentando, que o tema continue por desmistificar num País que mantém “um índice de desigualdade gigante”.
Durante o evento, Liliana Filipa tomou a palavra para concordar com a apresentadora. “Não fomos educados a falar sobre saúde íntima e, para mim, é uma coisa que devia ser partilhada e trabalhada pelos media”.
Uma mudança onde “os homens também estão incluídos”
Apesar de tudo, numa coisa parece haver consenso: o caminho para a mudança está a ser feito. Nas palavras de Carla Andrino, isso traduz-se na vontade de “desbloquear” e “informar, informar e informar”. Afinal, continua, “informação é poder”. Catarina Furtado concordou. “Quanto mais falarmos sobre isto, mais independência ganhamos.”
O trabalho tem de ser feito em, “primeiro lugar, junto das escolas”, mas também em empresas. Por isso mesmo, Furtado considera que todas as empresas deveriam ter, “no seu ADN, cursos de formação, por exemplo, para a igualdade de género.” Neste trabalho em comunidade, “os homens também estão incluídos”. Não só para se tornarem mais conscientes sobre o tema, mas também para se tornarem parte do progresso.
Corações com Coroa no combate à “pobreza menstrual"
A poucos minutos do fim, a apresentadora e presidente da Associação Corações com Coroa fez uma reflexão sobre o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido e que “já empoderou mais de 550 mulheres”. A associação sem fins lucrativos trabalha na inclusão, no combate à desigualdade de género e no empoderamento de mulheres, através de atividades e palestras junto das escolas.
Já no final deste debate, a apresentadora apresentou à plateia que a parceria com o projeto #TodasMerecemos, uma iniciativa que vai ao encontro do tema do evento. O movimento das atrizes Isabel Abreu e Joana Seixas visa desmistificar a menstruação e combater a “pobreza menstrual", um fenómeno que, partilhou Catarina Furtado com a MAGG, “também existe em Portugal”.
Pobreza menstrual traduz-se pela incapacidade económica que muitas mulheres têm na aquisição de produtos para a higiene íntima pessoal, como pensos higiénicos, tampões ou cuidados de limpeza.
Além deste combate, a associação faz um trabalho junto das escolas, onde procura consciencializar e normalizar as dores, o desconforto e o cansaço sentidos durante a menstruação, que deixam “muitas mulheres incapacitadas”, explicou em entrevista.
O papel da Lactacyd
Consciente de que a higiene íntima de muitas mulheres continua a ser feita com gel de duche ou produtos inapropriados, a Lactacyd procura, através de eventos e campanhas, explicar a importância dos cuidados específicos e que respeitem a flora vaginal. De modo a apoiar este processo e a fazer parte da evolução, o evento encerrou com a doação de 1% do lucro das vendas de julho e agosto à associação Corações com Coroa.
Catarina Furtado partilhou durante a talk que o valor revertido será uma “ajuda para chegar a mais pessoas” e uma forma de impulsionar o projeto #TodasMerecemos “a chegar a mais escolas”.