Um enfarte de miocárdio levou a atriz e humorista Maria Rueff a ser internada no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Tudo aconteceu esta terça-feira, 26 de novembro, e, de acordo com a revista "TV 7 Dias", até ao momento sabe-se que a atriz foi internada de urgência no hospital e submetida a um cateterismo — exame em que é introduzido um cateter numa artéria da virilha ou do antebraço e que chega até ao coração — e já se encontra fora de perigo.
Maria Rueff tem apenas 47 anos. A idade surpreendeu aqueles que acompanham a atriz. Como é que um enfarte acontece num adulto com apenas 47 anos? Uma idade jovem, tendo em conta que a idade média dos enfartes do miocárdio em Portugal acontece entre os 75 anos, no casos do homens, e os 85 anos, no caso das mulheres.
Foram várias as questões que se levantaram depois de ser conhecido este episódio que levou ao internamento da atriz. Foram essas mesmas dúvidas que esclarecemos com o Presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC), Victor Gil, e começámos por uma muito simples.
O que é um enfarte?
"É uma situação que resulta da brusca interrupção do fornecimento de oxigénio e de nutrientes ao músculo cardíaco devido à obstrução de uma artéria coronária", começa por explicar Victor Gil, professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Com a obstrução da artéria, as células do músculo deixam de ter os elementos de que precisam para operar e acabam por morrer. Por isso, o enfarte pode traduzir-se na morte de células.
E porque é que também ouvimos falar de enfarte quando se trata de um AVC (Acidente Vascular Cerebral)? Por uma razão muito simples: trata-se do mesmo processo, a morte das células, mas enquanto que no AVC dá-se um enfarte cerebral, no caso do miocárdio aquilo que acontece é um enfarte cardíaco em consequência de doença coronária, que consiste na insuficiência das artérias coronárias, de acordo com a Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC).
"A idade por si só é um fator de risco"
Os fatores de risco são muitas vezes conhecidos e transversais a várias doenças, mas nunca é demais alertar sobre os mesmos — até porque são eles que garantem a prevenção do enfarte.
"Podem ser o sedentarismo, a alimentação menos cuidada e o colesterol elevado, o tabaco, o excesso de peso e a diabetes, a hipertensão. Ou seja, todos estes fatores de risco, com um peso maior ou menor, podem contribuir para o enfarte", enumera o especialista Victor Gil.
Fatores como a obesidade podem condicionar o processo de acumulação de gordura nas paredes das artérias, que num determinado momento podem fazer com que essas placas de aterosclerose no interior das artérias rompam, formando-se um trombo, ou seja, um coagulo de sangue.
Já o tabagismo, que também contribui para uma situação de enfarte, parece ter tido alguma influência no caso da atriz Maria Rueff: "Não vou contar detalhes, mas parecia mesmo que estava preocupado com pessoas da geração dele que fumam. E falou inclusivamente de Maria Rueff", disse Manuel Luís Goucha esta quarta-feira, 27 de novembro, à colega Maria Cerqueira Gomes durante o programa "Você na TV" enquanto falavam de uma conversa que o apresentador tinha tido com o humorista Herman José sobre o internamento da atriz.
"Dá que pensar. Uma coisa até pode não ter que ver com a outra neste caso, mas o que é certo é que quem fuma está mais sujeito a este tipo de problemas", continuou Manuel Luís Goucha.
Além destes fatores, o presidente da SPC, Victor Gil, fala ainda sobre a genética. Esta pode também representar um fator de risco, mas que neste caso já não é possível prevenir — embora todos os fatores anteriores contribuam para o agravamento da situação.
"À medida que vai avançando, a idade por si só é um fator de risco. Agora os enfartes que acontecem com pessoas menos idosas são enfartes em que os fatores de risco são maiores, de tal maneira que nós [especialistas] quando dizemos que a história familiar é negativa, dizemo-lo quando ocorre enfarte de miocárdio em antecedentes da nossa família antes dos 60 ou 75 anos de idade", explica.
Apesar de em Portugal não existirem estudos que sustentem a ocorrência de cada vez mais enfartes numa idade considerada precoce, o especialista Victor Gil refere que há vários indicadores nesse sentido. No entanto, há já um estudo publicado em fevereiro pela empresa National Center for Biotechnology Information, que já apresenta números significativos sobre o aumento de situações de enfarte em idades cada vez mais jovens.
O estudo incidiu sobre uma população de mais de um milhão de adultos que tiveram um primeiro episódio de enfarte e revela um maior número de casos em adultos entre os 45 e 59 anos (80,8%) em relação a idades compreendidas entre os 18 e os 44 anos (19,2%). Além disso, o estudo também revelou um aumento de enfartes numa idade precoce nas mulheres com diabetes.
A que sinais deve estar atento?
A prevenção passa por evitar os riscos: "O tabaco é completamente evitável. A hipertensão é evitável. O não deixar que a obesidade tome conta de nos é evitável. A prática de exercício físico regular, uma alimentação saudável, etc.", exemplifica o especialista Victor Gil.
Mas há mais coisas que pode fazer para evitar um enfarte ou minimizar o seu impacto: estar atento aos sintomas.
"Oiça o seu coração. Porque há sintomas em que até pode não ser nada, mas é preciso estar atento. E é preferível pedir ajuda e não haver nada do que pedir ajuda tarde", diz o presidente da SPC. É que dependendo da quantidade de músculo cardíaco afetada pelo enfarte, uma ajuda demasiado tardia pode trazer consequências graves.
"Se a pessoa é tratada muito cedo e rapidamente, idealmente nas primeiras duas horas, e chegar a um centro de intervenção onde a artéria possa ser desobstruída, as consequências podem ser muito pequenas a longo prazo, ou até nulas".
Para fazer uma intervenção a tempo, o especialista indica a que sinais deve estar atento: "O principal sinal é o aparecimento de dor no peito com características opressivas, muitas vezes acompanhada de náuseas, de agonia ou sensação de dificuldade em respirar. Numa situação com estas características deve pensar na possibilidade de ocorrer um enfarte", adianta o cardiologista Victor Gil.
Quando sente algum destes sintomas, o médico aconselha a ligar de imediato para o 112, e não dirigir-se a um centro de saúde ou pedir ajudar a um vizinho, porque isso só faz tardar a intervenção precoce.