Afinal, o que são as hemorroidas? Como podem ser tratadas? E são mais comuns em homens, mulheres ou não há essa diferenciação? E a que sintomas devo estar atento? São mais prováveis de surgir durante a gravidez? Tudo questões válidas para as quais a humorista Beatriz Gosta e a enfermeira Carmen Ferreira têm resposta pronta.

É que embora 50% da população apresente sintomas associados à doença hemorroidária, a verdade é que ainda há algum desconforto e pudor em falar sobre o tema.

Sabia que todas as pessoas têm hemorroidas? E como se pode tratar? Algumas perguntas e respostas (sem tabus)

Foi precisamente com o objetivo de desconstruir o assunto, e falar dele de forma aberta e sem preconceitos, que Beatriz Gosta e a enfermeira Carmen Ferreira se juntaram para uma conversa informal e descontraída em que responderam a perguntas dos seguidores deixadas na plataforma Maternidade Sem Dor.

Durante a conversa, que decorreu a 21 de abril, falou-se um bocadinho de tudo — a começar por factos. É que, na verdade, todas as pessoas têm hemorroidas. Quem o diz é a enfermeira Carmen, que as descreve como "veias normais que existem no canal anal" e que têm o objetivo de participar "na contenção das fezes".

Os vários tipos de hemorroidas e os seus sintomas

Mas há dois tipos de hemorroidas: as externas e as internas que podem ter vários graus. A diferença está na sua localização.

As hemorroidas internas são aquelas "que estão localizadas no canal anal, acima do ânus", enquanto as hemorroidas externas são aquelas "localizadas debaixo da pele, à volta do ânus e fora do canal anal", explica a especialista Carmen Ferreira.

"Quando se diz que se tem hemorroidas, isso significa que, habitualmente, elas são de origem sintomática. Nestas circunstâncias, falamos de doença hemorroidária", continua.

Em Portugal, segundo explicou a enfermeira Carmen Ferreira durante a conversa com a humorista Beatriz Gosta, acredita-se que "cerca de 20% da população com mais de 50 anos sofra desta patologia", sabe-se que não existem "diferenças entre sexos" e que tendem a surgir "na terceira década de vida, atingindo um pico entre os 45 e os 65 anos".

Mas e quais são os sintomas? Segundo Carmen Ferreira, os sintomas de doença hemorroidária começam a fazer-se sentir quando "as hemorroidas aumentam de volume". "Isto pode acontecer devido a um aumento de pressão no canal anal, provocado pela obstipação, ou, no caso de mulheres grávidas, pelo peso do feto sobre a área retal e anal", explica.

No caso se hemerroidas externas, os sintomas a que deve estar atento são a "comichão ou irritação à volta do ânus, dor e desconforto ou sangramento". Nestes casos, há a possibilidade de as hemorroidas criarem "coágulos de sangue, chamados trombos ou hemorroidas trombosadas".

No que toca às hemorroidas internas, a enfermeira destaca como principais sintomas episódios de dor e irritação durante os movimentos intestinais, ou seja, "quando as fezes passam pelo local onde as hemorroidas se desenvolveram", ou hemorragia.

Além disso, Carmem Ferreira alerta para a possibilidade de as hemorroidas internas se exteriorizam "causando um prolapso hemorroidário".

Esta exteriorização, diz, "pode causar dores fortes" se for total.

Fatores de risco e gravidez. O que causa as hemorroidas?

Quando o assunto são as hemorroidas, sabe-se que há alguns fatores que contribuem para o seu aparecimento como a gravidez, a prisão de ventre, parto, trabalhar muitas horas sentado, beber pouca água, não fazer exercício ou até ficar muito tempo sentado na sanita depois de evacuar.

A explicação é simples. É que estes fatores "podem aumentar a pressão na zona do períneo e favorecer alterações da circulação sanguínea". Tudo isso, explica Carmen Ferreira, pode fazer surgir aquilo que conhecemos como doença hemorroidária.

"Mas estar grávida é sinónimo de poder vir a sofrer com hemorroidas?". Esta foi uma das perguntas feitas por vários utilizadores às influenciadoras digitais Beatriz Gosta e Carmen Ferreira e a resposta é "nem sempre" — embora seja comum.

A enfermeira Carmen Ferreira explica. "É comum devido ao peso do bebé no períneo e por alterações da circulação sanguínea que são muito características na gravidez por questões hormonais". Isto significa que, embora não seja sempre certo que uma mulher grávida venha a sofrer com hemorroidas, estão mais suscetíveis a isso.

"Quando vamos à casa de banho e fazemos umas fezes mais duras, pode haver sangramento. E se acontecer numa mulher numa gravidez, elas podem ficar muito assustadas. Mas esse sangramento pode não ter que ver com alterações na gravidez, ou com a parte uterina, mas sim com a parte hemorroidal", diz a enfermeira Carmen Ferreira durante a conversa com Beatriz Gosta.

Quanto a tratamentos para as hemorroidas durante a gravidez e o pós-parto, a enfermeira recomenda alguma atenção ao uso de corticoides e dá maior importância a outros fatores como a alimentação e a posição adotada durante a evacuação.

"Devemos ter uma elevação nos pés de cerca de 15 a 20 centímetros e inclinar os cotovelos na direção dos joelhos", explica. Nesta posição, diz, "o ângulo do reto ajudará as fezes a sair com menos pressão para os músculos do ânus", aliviando a sensação de dor durante a evacuação.

Como aligeirar os sintomas?

Nisto não há dúvidas: o tratamento para as hemorroidas dependerá sempre da gravidade da situação. Mas Carmen Ferreira explica que no sintomas mais ligeiros a situação pode ser combatida diminuindo o esforço durante a evacuação e aliando a isso um aumento de ingestão de líquidos e fibras — como frutas, vegetais, pão e cereais.

Mas há outros métodos. Um banho de imersão quente, por exemplo, "oferece algum alívio", permitindo que a dor e o inchaço diminuam e que, consequentemente, os "nódulos das hemorroidas desapareçam". O mesmo é válido para a aplicação de gelo que tem um efeito analgésico "desde que não esteja demasiado frio para não prejudicar a mucosa" do ânus, explica Carmen Ferreira.

Outra das recomendações da especialista é a correta lavagem após a evacuação. E a ordem é importante. "A limpeza é fundamental, assim como a ordem. Primeiro [deve lavar-se] à frente, e só depois atrás. A lavagem não impede, por si só, a origem de hemorroidas, mas impede que andem 'bichezas' por aquela zona. É uma boa dica", afirma.

Sabia que todas as pessoas têm hemorroidas? E como se pode tratar? Algumas perguntas e respostas (sem tabus)

Há, também, opções terapêuticas como a aplicação de medicamentos como pomadas, que ajudam no alívio dos sintomas. Nestes casos, o Procto-Glyvenol pode ser uma solução a considerar no tratamento das hemorroidas internas e externas que não está sujeito a receita médica, não tem corticoides na sua composição — podendo ser usado por grávidas e atletas — e ajuda a reduzir a sensação de dor, comichão e ardor graças a um anti-inflamatório e um anestésico.

O Procto-Glyvenol deve ser usado duas vezes por dia, durante a parte da manhã e durante a noite, até os sintomas perderem a sua intensidade.

Quando se registar uma diminuição dos sintomas, a aplicação do creme deve limitar-se a apenas uma vez por dia e sempre via retal. Em caso de dúvida, deve consultar sempre o seu médico ou farmacêutico.

Sexo anal. Sim ou não?

Este é um dos grandes mitos associados às hemorroidas. Ao contrário do que se possa pensar, a origem das hemorroidas não está, de todo, relacionada com a prática de sexo anal.

"A situação que mais vezes conduz à doença hemorroidária é a obstipação levando a que as veias hemorroidárias dilatem, inflamem e possam formar procidências em torno do ânus. Situações como a diarreia prolongada e outras que aumentem a pressão dentro do abdómen — como a gravidez, a tosse crónica, ou fatores profissionais — também podem originar a doença hemorroidária", reforça a enfermeira Carmen Ferreira.

"Então, o sexo anal não é causador de hemorroidas?", pode estar a perguntar. A resposta é não. "Desde que usem uma boa lubrificação, está tudo ok. O sexo anal não vai provocar nem originar hemorroidas", explica.

No entanto, se antes da prática já sentir alguns sintomas, o sexo anal pode exacerbá-los devido à pressão feita na mucosa do ânus.

Nesta fase, diz a enfermeira Carmen Ferreira, deve fazer-se "uma pausa da prática" e retomá-la apenas "quando os sintomas estiverem mais controlados" e não existir a presença de dor. Ao retomar, deve ser usado "lubrificante à base de água que vai ajudar a diminuir um eventual desconforto".

O importante, no entanto, é que o tema seja abordado com leveza porque, nas palavras de Carmen Ferreira durante a conversa com Beatriz Gosta, esta é uma coisa que, provavelmente, "todos nós vamos ter". "Não é exclusivo das mulheres, nem dos homens. Há uma tendência, ali na fase da gravidez e do pós-parto, mas mais à frente, noutra fase da nossa vida, também pode haver. Até desportistas podem ter por causa do impacto [que é exercido nas veias daquela região", conclui.

Pode ver a conversa completa aqui.

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