Menopausa, esse marco assustador na vida de uma mulher. Os padrões da menstruação alteram-se, os ovários, gradualmente, deixam de libertar óvulos e a produção de estrogénio, uma hormona sexual feminina, começa a cessar. Com isso, vêm transformações no corpo da mulher, alterações de humor e alguma sensações inesperadas. Este processo biológico não tem data marcada e vai aparecendo, mais ou menos subtilmente. A idade para a menopausa, período que corresponde à última menstruação, pode surgir entre os 40 e 58 anos — ainda que existam casos mais precoces.
Mas será que o pânico deste tempo tem de ser idêntico ao de Samantha Jones, no filme “Sexo e a Cidade”, que, desesperadamente, procura soluções que a impeçam de ver a sua libido diminuir? Não — até porque nem sempre isto acontece. Este é um dos mitos associados à menopausa que a MAGG esclareceu junto da ginecologista Paula Ambrósio. Há mais alguns. Ao todo apresentamos-lhe 9.
1. A menstruação para de repente, do dia para a noite
É falso. “Na grande maioria dos casos, há flutuações, com alterações menstruais nos meses ou anos que antecedem a chegada da menopausa. Aquele que era o padrão normal da mulher, altera-se”, explica a ginecologista. Assim, a menstruação pode vir várias vezes, poucas vezes, em maior quantidade ou em menor quantidade.
“Por exemplo, há uma mulher que pode estar um ou dois meses sem menstruar e depois menstrua”, aponta a especialista. Sobre a interrupção repentina, “há pessoas a quem isto acontece, mas são a minoria.”
2. Todas as mulheres que passam pela menopausa sentem as ondas de calor repentinas
Nem todas. “As ondas de calor repentinas são causadas pela diminuição do nível de estrogénio e, acima de tudo, pela sensibilidade a essa diminuição”, diz. Aquilo que leva a este efeito secundário ainda não tem um entendimento muito definido. Apenas se sabe que “acontece porque se dá uma desregulação térmica”, que umas mulheres suportam melhor do que outras.
Mas o mais comum é o aparecimento desta sensação. É para isso que apontam as conclusões de um estudo de 2014, da Universidade da Pensilvânia, em que, nos resultados, 3% das mulheres não sentiam ondas de calor, face aos 70% e 80% que sentiam ondas de calor suaves ou mais intensas, respetivamente.
3. Essas ondas de calor têm de ser suportadas — não há solução
Falso. "Há soluções. Há várias estratégias”, começa logo por apontar a ginecologista. Dentro das hipóteses, há as medicamentosas e as não medicamentosas.
Sem recurso a nenhuma terapêutica, Paula Ambrósio refere o “ioga, exercício físico ou técnicas de meditação.” Fala ainda em suplementos alimentares como aqueles que contêm soja ou pólen e ainda sobre como, nesta altura da vida, as mulheres se devem vestir. “Devem usar mais camadas de roupa. Até porque depois do calor, dá-se uma sensação de frio imenso.”
Sobre as tais soluções medicamentosas, Paula Ambrósio fala da terapêutica de substituição. “Em termos de tratamento, o mais eficaz é o hormonal porque é o que vai equilibrar os estrogénicos — mas isto tem de ser sempre feito com aconselhamento médico. Alguns antidepressivos também ajudam a controlar as ondas de calor.”
4. Há alimentos que mulheres na menopausa podem ingerir
Verdade. “Tudo o que tenha soja. A soja acaba por ter um efeito quase hormonal, porque se comporta um pouco como os estrogénios”, diz. Por outro lado, alerta, “tudo o que sejam coisas picantes, comida quente ou álcool devem ser evitados, porque potenciam estes afrontamentos.”
5. Os afrontamentos são os únicos sintomas da menopausa
Não. “Além deste, um dos mais comuns é a atrofia vulvovaginal ou o síndrome genito-urinário", que consiste em secura vaginal e numa bexiga com menos tolerância — há mais necessidade de ir à casa de banho — que tende a surgir após a menopausa.
De acordo com a Sociedade Portuguesa de Ginecologia, caracteriza-se pela "secura vaginal, irritação e flacidez da mucosa, diminuição da libido, dores durante o ato sexual e associação com incontinência urinária de urgência."
Além disso, há ainda alterações dos padrões normais do sono, “seja porque acordam cheias de calor, seja porque têm insónias matinais e acordam muito cedo de manhã.”
A isto, somam-se as alterações de humor, como resultado da diminuição da produção de estrogénio — que, no fundo, é aquilo que acontece a muitas mulheres quando estão na fase da tensão pré-menstrual (TPM):” Ficam mais irritadas. Os estrogénios têm recetores em todos os órgãos — do cérebro, aos osso ou bexiga — e são altamente estimulantes — servem para animar tudo. Quando baixam, acontece o inverso.”
6. As hormonas de substituição são perigosas
Depende. “As terapêuticas têm sempre riscos e benefícios. É fundamental que as pessoas percebam, junto de um médico, se podem ou não fazer terapêutica”, diz Paula Ambrósio. “Quem tem necessidade deve fazer, mas há pessoas que não devem, como quem tem doenças cardiovasculares ou cancros hormonodependentes — a terapêutica pode potenciar mais estas doenças.”
7. A menopausa mata o desejo sexual
Não. “Pode diminuir o desejo sexual em alguns casos, mas noutros acontece o contrário — há muitas mulheres que descobrem e exploram a sua vida sexual nesta altura.”
Há vários fatores a interferir nisto: pela diminuição de estrogénio, é possível que a produção de testosterona — hormona sexual masculina que as mulheres também têm — aumente, o que pode resultar em mais desejo. Além disso, há um à vontade maior. “Há pessoas que ficam descontraídas por não terem risco de engravidar”, diz. “Depois, também há pessoas que podem ter desejo, mas pela secura vaginal sofrem horrores.”
8. A menopausa vai fazê-la engordar
Não. A culpa não é integralmente da menopausa, mas, antes, de um conjunto de circunstâncias pouco favoráveis ao corpo da mulher: por um lado, é na idade em que a menopausa tende a aparecer que o metabolismo basal (forma como organismo queima calorias, mesmo em repouso) desacelera; por outro, pela diminuição das hormonas sexuais femininas, a gordura começa a ser distribuída de forma diferente — em vez de ir para as zonas mais características da mulher, começa a acumular-se, por exemplo, na barriga.
“Por isso é que a imagem da mulher muda imenso”, diz. “Comer menos, mais exercício e, se for possível e necessário, terapêutica hormonal”, acrescenta, numa alusão às soluções para contornar o problema.
9. A menopausa é algo que as mulheres devem temer
“Seguramente que não. É sinal de que a mulher viveu o suficiente para chegar lá. É uma inviabilidade, um evento incontornável e temos de saber lidar com ele da melhor forma.”