Ainda ninguém se preocupava com as palhinhas, já Catarina achava surreal a pilha de sacos de plástico que acumulava sempre que, ainda em miúda, ia com a mãe às compras.
Convenceu a família a fazer compras num mercado local, para onde já ia preparada de casa. "Comprei um daqueles carrinhos de rodas e toda a gente gozava comigo. Diziam que era coisa de velha, mas eu não queria saber, além de ser mais prático, conseguia pôr tudo lá dentro sem ter que recorrer a sacos desnecessários", conta à MAGG. Tudo isto começou há mais de dez anos, altura em que a gratuitidade dos sacos no supermercado e a falta de consciência ambiental fazia com que fossem poucos os que procurassem alternativas ao que o comércio oferecia.
E foi assim que, ainda sem saber que um dia ia fazer disto uma missão, Catarina começou a viver de uma forma mais sustentável e a cortar da sua vida aquilo que lhe parecia desnecessário. Podíamos estar aqui apenas a falar do plástico, mas não. Em 2014, com um emprego estável, decidiu que essa mesma estabilidade não era para si. Despediu-se e rumou a Londres, onde continuou a trabalhar como arquiteta. E foi aí que se deu a verdadeira mudança.
"Às vezes é bom ir para fora para ver que Portugal não é assim tão mau em algumas coisas", salienta Catarina. Se cá já ficava chocada com o desperdício, lá a realidade foi outra. "A fruta era toda embalada em plástico, comem tudo em regime de take away e as embalagens que daí ficam acabam muitas vezes no chão", relata, "era o pesadelo do plástico".
Começou a fazer lá o que já fazia em Portugal: comprar em mercados locais ou em supermercados biológicos, sempre munida de soluções que não passassem pelos sacos de plástico. Além disso, começou também a fazer produtos de cosmética em casa, para fugir às substâncias menos naturais que compõem aqueles que estão à venda no supermercado.
Começou a reunir tanta informação que decidiu criar uma conta de Instagram, a que deu o nome de "Mind the Trash" e na qual partilhava dicas para evitar desperdício e publicava algumas das suas receitas de cosmética.
Do instagram à marca
Na hora de regressar a Portugal, Catarina percebeu que cá, apesar de não deitarmos tanto lixo para o chão como em Londres, não tínhamos ainda no mercado algumas das alternativas que para si já faziam parte do dia a dia. "Lá, por exemplo, conseguia comprar champô em recipientes que não eram de plástico e fazer o refill em lojas", conta. Em Portugal, começava-se a dar os primeiros passos para uma maior consciência ambiental e Catarina decidiu que passava também por si a força para que essa caminhada fosse mais rápida.
Com o namorado da altura, Christian Andersen, criou uma marca, usando o nome que já tinha escolhido para a conta de Instagram e passou a vender online produtos ecológicos e sustentáveis. "Começou por ser uma necessidade minha, uma vez que eu queria continuar a usar alguns dos produtos que usava em Inglaterra e cá não havia", explica. Mas depressa percebeu que havia mais gente tão ou mais interessada neste tipo de mercado e prova disso está no facto de, hoje em dia, aos 31 anos, ter abandonado a arquitetura para conseguir dar resposta a tanta procura.
Na loja online tem produtos para a cozinha, casa de banho, produtos de higiene e até de decoração. As palhinhas de inox, a pasta de dentes em frasco de vidro e o fio dentário feito de cardamomo são os três produtos mais vendidos da loja. Mas há muito mais: pensos higiénicos reutilizáveis, copos menstruais, desodorizantes sem químicos, escovas de dentes de bambu, sacos de rede para armazenar frutas e legumes, saco do lixo biodegradáveis, loiça de madeira ou garrafas de vidro.
Catarina faz questão de que todo o processo de encomenda passe pelas suas mãos. "Não fazia sentido ter toda a preocupação em comprar estes produtos para que depois fossem distribuídos por uma empresa que os embalasse em plástico". Na Mind the Trash, tudo é testado — "Não vendo nada que eu não usasse", garante Catarina —, embalado à mão e empacotado em caixas de cartão reutilizáveis.
Por agora, e apesar de ter já ter disponíveis para venda mais de 90 produtos, a loja vai manter-se apenas online. Além disso, Catarina continua a utilizar as redes sociais para dar dicas, aconselhar determinada loja com práticas de desperdício zero ou também para denunciar aquilo que continua a ser feito de errado na maioria delas. E mesmo no site da loja, há um espaço para blogue, que esta ativista usa para espalhar uma mensagem pintada de verde. Sabia, por exemplo, que há ingredientes nas pastas de dentes convencionais que podem, na melhor das hipóteses, provocar diarreia, ou que existe sal à venda em Portugal cuja análise revelou a presença de partículas de plástico? Pois, é exatamente essa reação de espanto que Catarina quer continuar a provocar para que,tal como ela, mais gente passe à ação.