Soa a Netflix e parece a Netflix, mas na verdade chama-se Libreflix. Apesar das várias semelhanças, como o facto de oferecer aos utilizadores uma grande variedade de conteúdos, o Libreflix nada tem a ver com a gigante norte-americana. A plataforma brasileira nasceu em agosto de 2017 com o propósito de democratizar o acesso à cultura, permitindo o streaming em vídeo de filmes, séries e documentários totalmente gratuitos — sem adesões ou subscrições.
Ao contrário de outras plataformas de streaming piratas, o Libreflix é completamente legal e seguro. E diz Guilmour Rossi, estudante e fundador do serviço, que a ideia surgiu com a "necessidade de um canal que reunisse, de forma simples e amigável ao utilizador comum, produções audiovisuais que pudessem ser transmitidas gratuitamente pela web sem ferir nenhum direito autoral."
O acesso ao serviço é tão simples como entrar na página oficial, escolher um conteúdo e reproduzi-lo. Não há necessidade de perder tempo desnecessário a criar uma conta, embora o possa fazer se assim o desejar — basta que preencha dois simples campos: o do nome e o do e-mail. O catálogo, embora esteja ainda em expansão, conta já com algumas produções de renome como "Freenet", "3%" ou "Metrópolis".
Outra das grandes diferenças entre a Netflix e o Libreflix é o facto de o projeto de Guilmour permitir que criadores independentes possam ver as suas obras publicitadas, e facilmente acessíveis a milhares de utilizadores, na plataforma online.
"Pode não parecer, mas há um grande número de criadores que têm interesse em disponibilizar as suas produções de forma gratuita na internet", e diz que este projeto tem como objetivo promover não só a divulgação e distribuição de produções originais, mas também garantir que os criadores possam vir a ter algum retorno.
Mas existem algumas restrições no conteúdo aceite pela plataforma. Guilmour explica que é necessário que uma produção que deseje estar presente no Libreflix tenha uma licença que autorize a sua partilha e reprodução por terceiros. Além disso, é importante a "não existência de discurso de ódio" na narrativa, ou a garantia de que o seu formato se aproxima do de um filme — seja de curta ou longa metragem.
É grátis e legal — mas quão seguro é?
Costuma-se dizer que quando a esmola é muita, o pobre desconfia. É que, de facto, existem várias plataformas online que oferecem o mesmo tipo de serviço que o Libreflix, com a desvantagem de ser ilegal e (provavelmente) nada seguro para os utilizadores.
Essas plataformas piratas funcionam em regime de quid pro quo — enquanto o utilizador recebe conteúdo grátis e ilegalmente partilhado, a empresa responsável pelo serviço está a recolher a sua informação pessoal. Desde palavras-chave a hábitos de pesquisa e navegação que depois são vendidas às marcas que o invadem com anúncios de publicidade intrusivos.
Guilmour não tem dúvidas que continua a existir esta armadilha no mundo da tecnologia onde "grandes empresas oferecem os seus serviços de forma gratuita enquanto se apoderam dos dados pessoais dos seus utilizadores". Mas diz que o Libreflix é diferente e que esse tipo de práticas vão de encontro a tudo aquilo que o projeto representa. E há como comprová-lo.
"O nosso software é de código aberto, o que permite que outras pessoas — exteriores ao projeto — possam fazer uma vistoria e julgar por eles mesmos", continua, e reforça que a única informação que o sistema recolhe é o nome de utilizador e o e-mail. Os únicos dados necessários para um registo, sempre opcional, no serviço.
Para o futuro, o estudante brasileiro pretende melhorar o serviço e oferecer mais e novas condições para os criadores que decidam hospedar o seu conteúdo na plataforma. Além disso, promete apostar na melhoria das aplicações para smartphones que diz "continuar a ser o principal meio de acesso à internet" no Brasil.
O programador não esconde que este projeto é uma resposta direta aos vários conflitos que têm vindo a assolar o Brasil nos últimos anos. "Deu-se um golpe de estado em 2016 com a retirada da presidente Dilma Rousseff do cargo com o intuito de implementar um governo que nunca seria aprovado pelo voto popular."
"Nesse sentido, o Libreflix vai contra todos os males que este novo governo representa — o encerramento do Ministério da Cultura, o perdão às dívidas de empresas de telecomunicações que querem ferir a neutralidade da rede, a diminuição do ensino das artes, sociologia e filosofia nas escolas. Enfim, tudo aquilo que estabelece a ideia de uma cultura, e sociedade, menos 'libre'", remata.