“A Herança” é a nova aposta da estação de Paço de Arcos que estreou esta segunda-feira, 27 de janeiro. O nome da novela não deixa espaço para dúvidas: a trama anda à volta de uma herança (e que rica herança). Há algo mais português do que uma família que anda quase à cabeçada por causa de um testamento? Pois, também achamos que não.
Vamos a algum contexto. Patrícia Tavares dá vida à protagonista, Sofia Martins, uma mulher pobre e muito trabalhadora. Perdeu a casa onde morava e a oficina que geria com o marido, depois deste a abandonar quando a filha era criança. A filha, Beatriz Morais, interpretada por Bárbara Branco, acabou por fugir aos 16 anos por causa de um amor. Típico.
Sofia vive então com a afilhada, Teresinha, interpretada por Laura Dutra. Ambas as personagens complementam-se na perfeição. Têm tipos de humor ligeiramente distintos e que tornam algumas cenas bastante cómicas e trazem leveza ao enredo.
Mas bem, lembram-se da parte da herança? Então, a vida de Sofia muda quando esta arranja um trabalho temporário a limpar os picadeiros durante o Concurso de Saltos Nacional de Ribeira Fria. É aqui que conhece Raúl Novais, personagem de Virgílio Castelo, que é o presidente da Novais, a fábrica de papel da família. Assim que Raúl vê Sofia, pensa imediatamente que esta é Idalina, a mãe de Sofia. E porquê? Porque deve ser de família. É que Idalina também foi abandonada pelo marido, que neste caso é Raúl. A diferença entre a filha e a mãe é que, no caso de Idalina, a bebé ainda nem tinha nascido.
Depois é a típica história do rico que quer muito ajudar a pobre, mas, neste caso, por ter peso na consciência por a ter abandonado e nunca a ter assumido como filha. Mas voltando umas cenas atrás. Quando Raúl vê Sofia, tem um flashback da despedida de Idalina. E é Patrícia Tavares que interpreta também a mãe da sua personagem, com recurso a Inteligência Artificial (e metam artificial naquilo).
A atriz ficou efetivamente mais nova, mas com um rosto tão fino que mais parecia um extraterrestre. Podiam só ter contratado uma atriz parecida a Patrícia Tavares, mas não, assim sempre podem dizer que são super inovadores e atualizados. Sempre de olho nas tendências.
Reviravolta, herança e tal. Então, à velocidade da luz, Raúl coloca Sofia a trabalhar na fábrica, sem esta saber que ele é na verdade seu pai, e decide alterar o testamento (o homem devia estar mesmo a prever que ia bater as botas, tendo em conta que tomou a decisão tão rápido e pensou logo no testamento).
Sofia, que antes nem era mencionada no documento, acaba por ficar com a Casa da Andorinha e a totalidade da fábrica Novais, incluindo todos os seus ativos, instalações, equipamentos e operações comerciais. Caos instalado na família Novais, que nem sabia da existência desta filha e ainda teve de lidar com o facto de ficar sem a fábrica.
E é assim que o primeiro episódio começa, com a leitura do testamento. Quem fica notoriamente mais revoltada com a partilha dos bens é Pilar Novais, personagem de Mariana Monteiro. Pilar faz jus ao nome, beta até dizer chega (Pilares do mundo, não nos cancelem). É diretora financeira da fábrica e o seu maior desejo é que o filho, Bernardo, interpretado por Rui Pedro Silva, seja o sucessor do avô quando este se reformar (ou morrer, que é o que acaba por acontecer logo).
Efetivamente Bernardo, que tem apenas 20 anos, acaba por ser promovido e começar a ser preparado para daí a um mês ou dois assumir a Direção de Produção da Novais. Mas isto não acontece do nada. Raúl ouviu um telefonema de Vicente Viana, personagem de Ricardo Pereira, no qual este dizia que queria conquistar Pilar para ficar com a empresa. Vicente é engenheiro na Novais e acredita que a fábrica deveria ser da sua família, visto que a sua mãe sempre o fez acreditar que o pai construiu a empresa. Numa discussão entre ambos, Raúl revela que, na realidade, o pai de Vicente trabalhou para si com o dinheiro que este investiu.
Vicente é o grande vilão da novela. Charmoso, manipulador e não olha aos meios para atingir o fim. Molda-se perfeitamente ao ambiente para ludibriar quem quer que seja.
A primeira cena da novela é uma preview da última cena do primeiro episódio. Raúl morre ao cair de um cavalo. Mas o que descobrimos no final é que quem causa o acidente é Vicente, que ficou ressabiado por terem descoberto o seu plano maléfico e de bónus ainda ter sido despedido. A cena da morte faz lembrar uma cena de “Velocidade Furiosa”, mas do género carro versus cavalo. Vicente persegue e acaba por se meter à frente de Raúl, que seguia a cavalo.
É a protagonista, Sofia, que encontra o homem deitado no chão. Segue-se uma cena cliché de novela, na qual o quase morto revela um segredo com imensa dificuldade na fala: “Desculpa, minha filha”.
No meio deste que é o enredo principal, há outras histórias. Como a de Beatriz Martins, a filha de Sofia. Fugiu de casa por causa de um amor que se revelou tóxico. É hostess de um bar e o namorado tem o que parece ser um laboratório de físico-química escondido. Beatriz quer deixar a relação, mas o namorado não a deixa dado que ela sabe demasiado sobre os seus negócios obscuros.
Morte, abandono, drogas, reencontro, cavalos (muitos cavalos) e paixonetas. Tudo isto apenas no primeiro episódio. E sim, paixonetas, porque, como não podia deixar de ser, já tivemos um pequeno vislumbre de uma possível relação amorosa da protagonista. No picadeiro, Sofia conheceu Gonçalo Pereira, personagem de José Mata, e nota-se a léguas que este, eventualmente, vai assumir o papel de par amoroso de Sofia.
No que diz respeito a considerações finais, esta trama tem todos os ingredientes necessários para ser uma verdadeira novela, que desperta várias emoções. E este primeiro episódio dá-nos todos os contextos necessários para os restantes.
Se é a história mais inovadora de sempre? Não. Se é péssima e o primeiro episódio chegou? Também não. A qualidade está lá e a representação também. Não nos surpreendeu por aí além, mas “A Herança” prende ao ecrã. E isso é meio caminho andado.