Polémica, irreverente, humorística e perigosa. É assim que a crítica define "Who Is America?", a nova série de quem toda a gente está a falar e que conta com a autoria de Sacha Baron Cohen ("Borat"). Tanto o é que, com apenas três episódios, já levou à demissão de um político norte-americano que decidiu participar nas entrevistas ou interações com o humorista.
Nesta nova série, o humorista britânico faz aquilo que o caracterizou em trabalhos anteriores, como "Da Ali G Show", e que o catapultou para a fama. Veste a pele de outras personagens e tenta, através de estratégias mesquinhas de manipulação e argumentação, levar políticos e figuras mediáticas a humilharem-se publicamente. E o melhor é que consegue, muito devido ao facto de os convidados sentirem necessidade de propagar a sua ideologia a todo o custo.
A série da Showtime, casa de outras produções muito conhecidas como "Dexter", "Segurança Nacional" e "Californication" foi capaz de tornar tudo isto possível sem gastar dinheiro em qualquer tipo de iniciativa publicitária. Não só porque só precisava de ser polémica para garantir a adesão do público, mas também porque assim preservava a identidade das várias personagens de Sacha Baron Cohen e não alertava os possíveis alvos do humorista.
E foi assim que este conseguiu algumas das partidas mais hilariantes, mas também mais polémicas. Num dos episódios, Sasha Baron Cohen veste a pele de Erran Morad, um suposto especialista israelita em contraterrorismo, para uma sessão de treino e de defesa pessoal com Jason Spencer — representante do Partido Republicano no Estado de Georgia, nos EUA.
Durante a sessão, Morad diz que se encontra nos EUA para demonstrar o seu apoio ao direito à posse de arma de todos os cidadãos norte-americanos, e também para conseguir o apoio do Congresso ao seu programa chamado "Kinder Guardians", que se traduz na ideia base de que as crianças deveriam aprender a manusear armas de fogo desde muito cedo. É claro que nada disto é real, e tem como único objetivo levar o político a dizer e a fazer coisas ridículas.
Durante o treino, Morad alerta para a possibilidade de Jason Spencer vir a ser raptado por membros do Estado Islâmico devido ao seu estatuto. "Tem meros segundos para chamar a atenção, tal como faria numa verdadeira situação de rapto onde precisaria de alertar as pessoas para o que está a acontecer", diz o especialista.
"Na América, temos uma palavra proibida começada por 'n' [nigger]", diz antes de dar início ao exercício. E depressa Jason Spencer começa a gritar a palavra "nigger" enquanto Sasha Baron Cohan simula uma situação de rapto. Mas não se fica por aqui e, no exercício seguinte, Morad mostra que a maneira mais fácil de intimidar um terrorista é mostrando-lhe o rabo já que estes têm receio de ser catalogados como homossexuais.
Jason Spencer acede, baixa as calças e tentar roçar o rabo no especialista enquanto grita "América". Mal sabia, claro, que estava a ser gravado e as consequências que resultariam dali. Um dia depois de o episódio ter estreado, a 24 de julho, foi obrigado a demitir-se devido ao escândalo que protagonizara e às mais de muitas críticas de figuras ligadas à política.
Mas a polémica continuou com o mais recente episódio, que estreou domingo, a 29 de julho. Sasha Baron Cohan entrevistou Roy Moore, republicano e juiz no estado de Alabama, que ficou conhecido depois de ter sido acusado por várias mulheres de assédio sexual e pedofilia durante a sua candidatura ao senado norte-americano, em 2017.
Durante o episódio, o humorista (disfarçado de Morad), diz ter desenvolvido uma nova ferramenta capaz de detetar predadores sexuais através de uma enzima produzida pelo suor. Cohen passa a ferramenta — que se assemelha a um vulgar detetor de metais — por Roy Moore e é neste preciso momento que se instaura o caos visto que o aparelho apita várias vezes.
"A máquina deve estar com algum problema e isto não quer dizer que seja um pedófilo, obviamente", mas o desconforto do republicano era tal que acabou mesmo por abandonar a entrevista visivelmente perturbado. Estava feita mais uma partida com o intuito de atacar o caráter da pessoa que tinha à frente, ao chamar diretamente Roy Moore de pedófilo e predador sexual. Tudo isto em televisão.
E a verdade é que é neste contexto que as personagens de Sasha Baron Cohan funcionam melhor, quando servem como oposição a uma ideologia ou a uma forma de estar que, naquele momento, se encontra representada por um só indivíduo.
Para a revista "IndieWire", a série mostra o lado selvagem do humorista britânico e diz que é uma produção capaz de destruir carreiras políticas. Facto que é especialmente notável nos momentos em que Cohen sabe que conseguiu apanhar uma figura muito importante em declarações chocantes, polémicas, ou simplesmente incompatíveis com a posição que ocupa, e que por isso continua a insistir no exagero para que os intervenientes se humilhem ainda mais.
"Who Is America" estreou a 15 de julho e, em Portugal, é transmitida pelo canal TV Séries todos os domingos às 21h30.