Para cada grande produção como “A Guerra dos Tronos”, há cinco ou mais séries que passam despercebidas e que não são conhecidas ao ponto de se tornarem assunto de conversa em jantares de amigos. “The Americans”, terminado em 2018 e considerado pela crítica como um dos melhores (e mais desconhecidos) títulos dos últimos anos, é só um exemplo.
Todas as semanas, a MAGG traz-lhe uma sugestão imperdível na nova rubrica “A série que ninguém está a ver”, com o objetivo de dar a conhecer algumas das produções com menos visibilidade — mas que merecem tantos ou mais elogios como outras populares. Depois de "Fariña", a nova sugestão é "Ozark", uma das melhores séries da Netflix que regressou para uma terceira temporada numa história cheia de reviravoltas que envolve esquemas mesquinhos, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas.
Mas embora seja uma das séries originais da Netflix com maior qualidade, em termos de escrita e realização, é pouco comentada em Portugal. A explicação, uma de muitas, pode dever-se ao facto de, pelo menos por cá, as pessoas verem menos séries do que aquelas que dizem que veem.
Se analisássemos as horas totais de visualização de quem diz ver muitas séries, provavelmente chegaríamos à conclusão de que o período de consumo foi preenchido com reposições ou repetições de produções que já viram antes.
Há um conforto associado ao que é conhecido, ao que já se viu, e isso implica que a atenção necessária não seja tão elevada como seria se fosse uma série nova. Não é por acaso, embora não seja o único fator, que séries como "Friends" ou "The Office" sejam as mais vistas da Netflix em 2018.
É mais fácil investir tempo no que nos é familiar do que numa coisa nova e potencialmente complexa, especialmente em alturas de maior stresse em que estamos menos disponíveis para perder tempo em frente a um ecrã.
Mas de volta a "Ozark". Desde a estreia, em meados de 2017, que a série é geralmente descrita pelos críticos como "demasiado escura" e a que mais se aproxima de “Breaking Bad”. Curiosamente, e porque o meio tem destas coisas engraçadas, conta com dois protagonistas que não estavam interessados em regressar à televisão (ou, pelo menos, ao formato episódico da televisão) — Jason Bateman e Laura Linney.
Jason Bateman aceitou porque, além de representar, podia evoluir enquanto realizador e produtor (oportunidade que voltou a repetir em "The Outsider", da HBO). Já Laura Linney tinha curiosidade em ver como é que o colega, mais conhecido pelos seus papéis de comédia, se transformava num papel denso e dramático. E nenhum dos dois desilude.
A história acompanha a família Byrde que é obrigada a mudar-se para uma localização remota dos EUA depois de contrair uma dívida enorme a um cartel mexicano durante uma operação de lavagem de dinheiro. Há perseguições, mortes bizarras, planos fantásticos e vilões larger than life. A escrita é tão precisa que a equipa de produção aprendeu, com um agente do FBI, a lavar dinheiro para que tudo fosse o mais autêntico possível.
Aos poucos, vamos assistindo à perda da bússola ética e moral das personagens que há muito que deixaram de apenas tentar sobreviver e viram no poder uma sensação deliciosa. Faz lembrar alguma coisa?
Há uma espécie de Walter White em cada um destes protagonistas e é difícil pensar numa série que, recentemente, tenha sido capaz de deixar os espectadores com aquela sensação desconfortável de aperto no peito semelhante à que sentimos quando, em "Breaking Bad", Hank (Dean Norris) descobre que Walter White (Bryan Cranston), seu cunhado, é na verdade Heisenberg — o produtor de droga mais perigoso, eficiente e bem sucedido do Novo México, nos Estados Unidos.
Com um bom argumento, boas prestações e reviravoltas incríveis que nunca chegam a ser aborrecidas ou forçadas, "Ozark" consegue criar um enredo claustrofóbico e pesado em que parece que os argumentistas escreveram a história de maneira a se porem no beco sem saída só pelo prazer de tentar sair, com coerência, do dilema que criaram.
A terceira temporada, composta por dez episódios, segue a mesma linha e é capaz de ser a melhor da série até agora numa altura em que as pessoas estão em casa, precisam de se distrair, e não há muito mais para ver além das novas temporadas de "Westworld" e "The Plot Against America", ambas da HBO.