"Numa prisão em que os reclusos comem as sobras dos que se encontram nos pisos superiores, um homem tenta levar a cabo mudanças para que ninguém passe fome". É assim a descrição do filme espanhol "A Plataforma" na Netflix que aparentemente parece um drama casual com uma moral de solidariedade, mas afinal não é bem assim.
Durante 1h34, há horror, thriller, no filme de estreia do realizador Galder Gaztelu-Urrutia que explora o comportamento consoante o estrato social, que aqui surge com a metáfora de uma plataforma. O filme só chegou à Netflix a 20 de março, mas já é o mais visto em Espanha, onde foi primeiro lançado nos cinemas a 7 de novembro, e nos Estados Unidos, conforme anunciado pela produtora Basque films.
Portugal vai pelo mesmo caminho, uma vez que a plataforma anuncia que este domingo, 29 de março, está já no Top 3. Mas afinal o que faz com que este filme esteja já com uma classificação de 7 no IMDb?
Este conta a história de um homem que acorda ao lado de um estranho numa sala que tem apenas duas camas, um lavatório e um buraco no chão e no teto. Esses buracos permitem ver outras salas iguais, todas elas com dois residentes, nos andares de cima e de baixo. É por estes buracos que, diariamente, desce uma plataforma cheia de comida. A plataforma começa a descer no piso 1 e está repleta de comida. Vai descendo pelos mais de 200 pisos e a cada paragem os residentes retiram a comida que querem. A cada mês, há uma troca e os residentes são colocados noutro nível de forma absolutamente aleatória. Num mês podem estar no piso 6, onde ainda conseguem comer tudo o que quiserem, ou podem ir parar ao 202, onde já não chega qualquer comida, o que os obriga a ficar um mês sem comer, ou a terem de recorrer ao crime, para sobreviverem.
O filme aborda, metaforicamente, a estratificação social, e o desprezo que os que estão por cima demonstram pelos que estão por baixo, ainda que saibam que muito provavelmente irão trocar de estatuto daí a algum tempo. Todos os que vivem na plataforma sabem que se comerem apenas aquilo de que precisam, a comida chega para todos, mas ninguém é capaz de pensar no coletivo, já que não existe quem estabeleça a ordem pela força. A viver apenas a depender uns dos outros, o resultado é a fome e a morte.
Talvez esta seja uma das razões do sucesso do filme, já que aborda dois temas que neste momento nos são muito próximos: a reclusão e a necessidade de racionar alimentos, de pensar não apenas em nós mas também nos outros, no coletivo.
Contudo, a crítica não recebeu o filme da melhor maneira: "Uma mistura macabra de filme da meia-noite e comentário social, a imagem é excessivamente evidente, mas inegavelmente eficaz, oferecendo choques de género e mensagens amplas na mesma medida", salienta o crítico do "The New York Times" conforma se pode ler no site "Rotten Tomatoes" — onde o filme é avaliado em 73% de 100% pelo público.