Para cada grande produção como “A Guerra dos Tronos”, há cinco ou mais séries que passam despercebidas e que não são conhecidas ao ponto de se tornarem assunto de conversa em jantares de amigos. “The Americans”, terminado em 2018 e considerado pela crítica como um dos melhores (e mais desconhecidos) títulos dos últimos anos, é só um exemplo.

Todas as semanas, a MAGG traz-lhe uma sugestão imperdível na nova rubrica “A série que ninguém está a ver”, com o objetivo de dar a conhecer algumas das produções com menos visibilidade — mas que merecem tantos ou mais elogios como outras populares. Depois de "Gomorra", a nova sugestão é "The Boys", a série da Amazon Prime Video que idealiza um mundo onde os super-heróis são umas bestas que, em vez de protegerem os inocentes, matam, violam e roubam. 

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Para quem gosta de métricas, vamos a isso: no IMDb, a série está avaliada com uma pontuação de 8,7 (em 10), que resulta da junção das opiniões do público e dos críticos. No RottenTomatoes, um agregador de críticas sobre séries e filmes, a crítica internacional dá-lhe 84% (numa escala de 0 a 100%).

Em suma, é uma das produções mais bem avaliadas de 2019 e que muito provavelmente lhe passou ao lado, talvez por fazer parte do catálogo da Amazon que continua muito pouco conhecido em Portugal. Mas é lá que pode ver outras grandes produções como "The Marvelous Mrs. Maisel" e "Fleabag" — que limpou os Emmys.

De volta a "The Boys", podíamos fechar o texto com a garantia de que esta é a melhor série de super-heróis atualmente em emissão. Mas não só não teria piada, como seria muito simplista. É que embora aqui haja pessoas enfiadas em fatos de licra justa com capas, máscaras e outros adereços pomposos dos livros de banda desenhada, estes "heróis" são umas autênticas bestas.

Os vários anos da cultura pop ensinaram-nos, entre outras coisas, ideias que hoje são tidas quase como verdades absolutas e universais. E uma delas diz que os super-heróis supostamente não matam, porque representam o que melhor há em cada um de nós. Mas os desta história matam, violam e roubam sem se preocuparem com as consequências. Porque não as há.

E o primeiro episódio faz questão de mostrar exatamente o que podemos esperar dos restantes: um casal está de mãos dadas e a namorar no meio da rua quando, de repente, a mulher é atravessada — literalmente — por um super-herói cujo poder especial é o de conseguir correr à velocidade da luz.

O chão enche-se de sangue, tripas e membros enquanto o super-herói, por sua vez, segue caminho como se o que acabou de acontecer tivesse sido apenas um ligeiro inconveniente de pouca importância.

É depois deste acontecimento traumático que o namorado, interpretado por Jack Quaid, se junta a um grupo de vigilantes que tem como objetivo caçar e punir todos os super-heróis que abusam dos seus poderes e saem sempre impunes e idolatrados pela sociedade.

A série é extremamente gráfica, adulta, explícita e muito crítica de uma sociedade tipicamente capitalista e mediática do século XXI, que fez do super-herói um produto, uma marca, que se vê obrigada a vender. Tal como uma marca, a sua relevância no mercado está diretamente associada aos níveis de popularidade que vai conseguido junto das pessoas.

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É que embora estes "heróis" sejam criminosos, têm de se sujeitar a pequenas demonstrações públicas de heroísmo — salvando inocentes, impedido um assalto ou travando uma catástrofe. Mesmo que seja tudo encenado.

E embora a subversão do conceito do super-herói em banda desenhada (a série é uma adaptação dos livros do escritor Garth Ennis que, curiosamente, nunca gostou de heróis em fatos de licra) não seja nova, na televisão é uma novidade.

Especialmente porque não há super-heróis corruptos atualmente no meio, mas também porque mostra como o suposto arquétipo do bem consegue ser tão deformado e corrompido ao ponto de nos fazer questionar: "Será que a história pode ficar mais mórbida, violenta e injusta?". E a resposta é que, tal como a vida, sim, pode. E fica.

A primeira temporada de "The Boys" conta com oito episódios e já está disponível no catálogo da Amazon Prime Video. O sucesso da série foi tal que já está confirmada uma segunda, ainda sem data de estreia anunciada.

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