Não estava à espera que "Ana com A" fosse uma surpresa tão agradável. Janeiro tem sido um mês particularmente calmo no que diz respeito a séries — pelo menos para aqueles que as devoram mais rápido do que pão com chouriço acabado de sair do forno —, por isso foi com alguma relutância que me atirei para o primeiro episódio da série canadiana inspirada num livro de 1908. O que é que posso dizer? Estava desesperada.

O primeiro episódio voou. O segundo também. De repente, tinham passado quatro dias e eu estava no último episódio, com um sorriso estúpido no rosto e os olhos cheios de lágrimas. "Ana com A" revelou-se uma espécie de "Uma Casa na Pradaria", com todos os elementos que nos fizeram apaixonar por esta série quando éramos miúdos. Mas porque estamos no século XXI, e mais particularmente na época do "Me Too" e da luta pela equidade, "Ana com A" consegue ser ao mesmo tempo feminista, falar de bullying, racismo e preconceito.

Caramba, não faltam sequer personagens homossexuais. Considerando que a história se desenrola no século XIX, mais particularmente numa cidade fictícia situada na fechada e retrógrada Ilha do Príncipe Eduardo, uma província canadiana, é para lá de surpreendente.

Mas vamos à história. Inspirada num romance da escritora L. M. Montgomery, publicado em 1908, "Ana com A" conta-nos a história de Anne Shirley, uma orfã de 11 anos que vai parar por engano à casa de dois irmãos de meia idade, Matthew (R. H. Thomson) e Marilla (Geraldine James). Eles queriam um rapaz que os ajudasse nas tarefas da quinta, acaba por lhes sair uma rapariga destrambelhada, sonhadora, tagarela e muito imaginativa.

Decorem este nome: Amybeth McNulty. A atriz irlando-canadense de apenas 18 anos foi a escolhida entre cerca de 1.800 raparigas de três continentes que fizeram a audição para o papel de Anne Shirley. A forma como interpreta o papel é surpreendente: da intensidade emocional que coloca nos diálogos, às vezes verdadeiros monólogos, à luz que advém do seu olhar, a atriz é simplesmente maravilhosa. A série é boa, sem dúvida. Mas não seria tão viciante se não fosse Amybeth.

Nota do editor: ainda por cima a miúda é gira, engraçada e tem uma página de Instagram onde mostra várias imagens dos bastidores da série. É seguir.

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Uma série que luta contra a misoginia

Estamos perante uma série verdadeiramente dramática, portanto prepare os lenços. Bastante mais obscura e intensa do que a trama original — que, afinal, era na sua essência um livro infantil —, a primeira temporada é marcada por momentos de alta tensão, onde até o mais frio dos corações é incapaz de ficar indiferente.

Mas depois há uma evolução inesperada. O drama continua lá — mantenha sempre a caixa de lenços por perto —, mas a história encarrega-se de nos levar por caminhos que nunca esperámos ver desbravados numa série deste género. Lembra-se da comparação com "Uma Casa na Pradaria", certo? Pois bem, de repente temos isso, mais personagens homossexuais e mulheres a lutarem pela equidade.

Sem nunca esquecer que estamos no século XIX, a introdução destes temas é feita de forma muito meticulosa. E, em alguns casos, vemos as próprias personagens a debaterem-se com estas questões. Fará sentido descriminar alguém só porque tem a pele mais escura? Será que o papel da mulher deve ser, apenas e só, o de cuidar da casa, do marido e dos filhos? E porque é que o amor tem de escolher géneros?

Lucas Jade Zumann interpreta o papel de Gilbert Blythe, um rapaz que Ana consegue odiar tanto como amar

No Rotten Tomatoes, "Ana com A" tem uma nota de 90% em 100% por parte da audiência, contra os apenas 62% dos críticos. Por outras palavras, os supostos entendidos do assunto não acharam a série nada de mais, o público adora. Tanto que não conseguem superar que a terceira temporada seja mesmo a última.

Depois de muitos comentários e apelos nas redes sociais — tanto que o termo "Queremos AnnE" chegou a estar nos assuntos mais comentados no Twitter —, chegou a petição.

"Pessoal, todos nós adorámos a terceira temporada, mas há muito mais respostas que queremos ter e ver", lê-se na petição criada há dois meses. "Vamos esperar que esta petição chame a atenção da Netflix e que eles decidam renovar a série para uma quarta temporada."

Sobre este último ponto não fazemos a menor ideia do que vai acontecer, mas a verdade é que já lá vão mais de 140 mil assinaturas. E o número não para de aumentar, sobretudo graças aos brasileiros. "Ana com A" é particularmente adorada no Brasil, o que fez com que a protagonista gravasse um vídeo em exclusivo para a Netflix Brasil. Depois de agradecer todo o amor dos fãs, deixa uma mensagem em português.

Enquanto aguardamos novos desenvolvimentos, é passar pela Netflix e ver o que é que "Ana com A" tem para oferecer. Siga o nosso conselho: veja. Não se vai arrepender.

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