Está prestes a chegar mais um documentário ao catálogo da Netflix. Baseado no caso de agressão sexual que parou Espanha em 2016, “Não Estás Sozinha: A Luta Contra La Manada”, foi realizado em segredo durante três anos e meio, segundo o “El Correo”, e aborda outros casos de violência contra as mulheres que se interligam com este.
Com estreia a 1 de março, o documentário é narrado por Natalia de Molina e Carolina Yuste, duas atrizes espanholas, e tem como ponto de partida a agressão que uma jovem de 18 anos sofreu durante as Festas de São Firmino , em Pamplona, capital de Navarra, a 7 de julho de 2016, às mãos de cinco homens que se intitulavam de “La Manada”.
Na altura, o tribunal acusou os cinco amigos, com idades entre os 24 e os 27 anos, de terem levado a jovem de 18 anos, alcoolizada, até um pequeno pátio “escondido e estreito” de um edifício, segundo a BBC Brasil. Lá, o grupo tirou as roupas da vítima e penetraram-na “por via oral, anal e vaginal”, gravando um vídeo de 96 segundos do acontecimento.
O julgamento ocorreu em 2017 e os cinco jovens foram acusados de abuso sexual, crime contra a intimidade e roubo com intimidação. Os advogados da vítima, segundo o mesmo meio de comunicação, pediam 24 anos de prisão para cada um, enquanto que os advogados de defesa afirmavam que “a relação foi consensual”, e pediam a absolvição dos cinco jovens.
Além disso, uma das provas que os advogados de defesa levaram ao tribunal foi bastante criticada pela opinião pública, que seguiu atentamente o caso na altura. A equipa levou um relatório de detetives privados sobre a atividade da vítima nas suas redes sociais depois do ocorrido, e utilizaram esse documento para tentar absolver os culpados. Este gesto fez com que duas atrizes feministas, segundo o BBC Brasil, gravassem um vídeo a dizer “Eu acredito em ti”, a falar para a jovem de 18 anos, e viralizou de tal forma que a defesa teve de retirar o documento da lista de provas.
No entanto, cinco meses depois de o julgamento começar, os juízes da província de Navarra consideraram que o caso representou abuso sexual, mas não violência, segundo o "Jornal de Notícias". De acordo com a APAV, "a violação envolve o uso da força física, da violência, da ameaça, do abuso da autoridade ou da colocação da vítima num estado de incapacidade de resistir para concretizar a violência sexual", e os juízes consideraram que não era possível comprovar que tinha existido violência ou intimidação.
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Os cinco jovens foram, então, condenados a nove anos de prisão, e isso gerou outra onda de protestos, com “centenas de pessoas” à frente do tribunal a gritar “Não é abuso, é violação” e “Eu acredito em ti” direcionados para a vítima.
Além disso, outro aspecto desta situação que provocou indignação na sociedade espanhola foi a opinião de um dos três magistrados, Ricardo Javier González, que defendia a absolvição dos cinco jovens. Segundo González, no vídeo “não se percebe na expressão da vítima nem nos seus movimentos nenhum traço de oposição, rejeição, desgosto, nojo, repugnância, negação, incómodo, sofrimento, dor, medo, descontentamento, vergonha ou qualquer outro sentimento semelhante".
Almudena Carracedo e Robert Bahar, os realizadores de “Não Estás Sozinha: A Luta Contra La Manada”, afirmaram que, na altura, os meios de comunicação social mostraram uma “versão distorcida dos factos”, segundo o jornal “La Vanguardia”.
Com este filme, os dois pretendem desconstruir o caso mediático, e realizaram um documentário dividido em três fases: primeiro, este caso da jovem de 18 anos, seguido da agressão a uma jovem em Pozoblanco, Córdoba, também pelo mesmo gangue, e finalizam com o assassinato de Nagore Laffage, em 2008, no mesmo festival do primeiro caso.
"Quisemos criar um puzzle, um mosaico em que entrelaçamos as histórias", refletiram os realizadores. "Mudou realmente tudo lá, a perceção que tínhamos sobre a violência", disse Almudena Carracedo, citado pelo jornal “Marca”. Além disso, Carracedo salientou que esta história é diferente de outras histórias de agressão sexual devido à "resposta social" que provocou na altura.
A vítima que será retratada na primeira parte, a jovem de 18 anos, aprovou a realização do filme, de acordo com o jornal espanhol. O documentário contará, ainda, com a participação da procuradora Elena Sarasate e de Víctor Sarasa, o advogado da câmara municipal de Pamplona que atuou como procurador no julgamento. Também fazem parte do filme vários agentes da polícia municipal e da polícia foral de Navarra, responsáveis pela investigação, bem como especialistas do Gabinete de Apoio às Vítimas.