Depois de semanas de promoção na antena da TVI e partilhas nas redes sociais, desde Cristina Ferreira aos atores envolvidos no projeto, "Festa é Festa" estreou-se esta segunda-feira à noite, 26 de abril, na antena da estação de Queluz de Baixo. A novela, que é uma ideia original da própria diretora de Ficção e Entretenimento do canal, e escrita por Roberto Pereira, retrata o quotidiano dos habitantes da aldeia da Bela Vida, no interior de Portugal, e os seus esforços para organizar a grande Festa da Aldeia.
Este é o mote condutor de um projeto assumidamente humorístico, destinado a fazer rir os portugueses. Para isso, conta com nomes fortes da comédia como Pedro Alves e Manuel Marques, que se estreiam em novelas, bem como Ana Guiomar, Sílvia Rizzo e Ana Brito e Cunha, entre muitos outros, e nomes sonantes como Maria do Céu Guerra e Vítor Norte. Pedro Teixeira, um dos atores mais consagrados da estação, é um dos protagonistas, sendo esta uma das suas primeiras experiências numa personagem cómica, mas a novela conta também com caras da nova geração, como Beatriz Barosa, Rodrigo Paganelli e a estreante Francisca Cerqueira Gomes.
Ainda antes da estreia, os envolvidos no projeto falavam de uma novela diferente, que iria surpreender os portugueses. Com tudo o que isso tem de bom e mau, confirmamos — "Festa é Festa" é mesmo diferente. A MAGG esteve atenta ao primeiro episódio, que passámos à lupa para lhe contar tudo: o bom, o mau e o assim assim.
O BOM
O Bino de Pedro Alves é o presidente da junta que ninguém quer — mas faz-nos rir
Pedro Alves interpreta Bino, o presidente da junta de freguesia da aldeia da Bela Vida que claramente foi ao engano ao cargo. É casado com Florinda, que trabalha na casa de Corcovada, a rica lá do sítio, e parece estar sempre com um olho na herança de idosa. Maldisposto, sem paciência para os habitantes e interesseiro — ou não fosse querer vender terrenos seus à própria junta por valores sobrevalorizados —, é o tipo de homem que considera enterrar caixões na vertical para poupar espaço no cemitério.
O ator encarna na perfeição o papel do presidente da junta corrupto, mas de forma fofinha, vá, e faz-nos rir em quase todas as suas interações. Principalmente quando sugere a Tomé (Pedro Teixeira) que tivesse organizado a festa do ano anterior por Zoom.
O melhor da novela são os bonecos
O momento passado na loja da aldeia, em que o carteiro Paulo, interpretado por Hélder Agapito, entrega cartas que não lhes são destinadas a Tomé e ao seu ajudante António (Luís Simões) apenas porque têm a mesma inicial que os destinatários fez-nos soltar uma gargalhada. Principalmente porque, quando lhe é apontado o erro, Paulo fica indignado por ter de levar as cartas para trás.
Tanto esta cena como a do consultório, com Inês Herédia a fazer conversa com as pacientes enquanto muda de assunto em milésimos de segundo, ou Ana Guiomar a tentar resistir ao Sôtor José Carlos Pereira — #nemimagina —, fazem antever que o melhor desta novela serão mesmo os bonecos construídos pelos atores, que dão tudo para nos levar para a realidade da Bela Vida.
Serão suficientes para prender telespetadores ao ecrã tal como as tramas de romance, crime e traição da maioria das novelas? Não sabemos, mas pelo menos é refrescante.
A Bela Vida leva-nos para uma vida mais simples — mas que é muito atual para quem a vive
Quem vive nas grandes cidades pode olhar para o quotidiano vivido numa aldeia, que é retratado nas novelas, como um exagero. Como é que é possível que todos se conheçam, saibam todos da vida um dos outros, exista só um restaurante e que a ideia de vida social seja sempre ligada à igreja?
Mas o que é um "exagero" para muitos, é também a realidade de outros tantos, mas nem sempre retratada de forma fiel nas novelas que estamos habituados a ver. Já estamos todos fartos de ver a vida na aldeia ser tacanha, com miúdas pastoras apaixonadas por rapazes citadinos e as cuscas das beatas.
"Festa é Festa" é diferente por isso: mostra-nos a vida da aldeia, sim, mas não nesse retrato já datado. Mostra-nos gente jovem que se queixa da internet fraca, mas que quer fazer festivais de verão. Mostra-nos o padre da aldeia, mas que se preocupa com a corrupção do presidente da junta. E claro que já estamos ali a antever romance entre o simples rapaz que entrega leite e a beta que vem da cidade a queixar-se de não ter rede, mas o que seria da nossa vida sem amor e sem a realização que podemos ser felizes com menos, não é verdade?
O MAU
Brincar com a maneira como os emigrantes falam é uma coisa. Exagerar é outra
Durante o primeiro episódio de "Festa é Festa", somos também apresentados ao casal São e Fernando, interpretados por Sílvia Rizzo e Manuel Marques, respetivamente. Vivem emigrados em Paris e preparam-se para regressar à Bela Vida para a festa da aldeia — e provavelmente para algo mais, mas isso ainda não sabemos.
Como bons emigrantes a viver em França há vários anos, São e Fernando já misturam muito os dois idiomas, algo comum à população emigrante. Mas se um ou outro "ça va bien, está tudo ok" passa e até pode ser engraçado, levar essa lógica ao extremo com cinco minutos de overacting da parte dos atores, já é outra coisa e não tem assim tanta graça.
Vamos mesmo acreditar que Pedro Teixeira e Ana Guiomar têm uma filha daquela idade?
Ora bem: apesar de ainda não ter sido revelado na novela, já sabemos que Betinha (Ana Marta Contente), a secretária de Bino que está a fazer de tudo para seduzir o presidente da junta, é na verdade filha de Tomé e Aida, a.k.a, Pedro Teixeira e Ana Guiomar.
Portanto, Ana Marta Contente, que interpreta Betinha, tem 21 anos na realidade — e assim os aparenta na ficção, dado que já trabalha como secretária na junta. E se até podemos encaixar esta ser filha de Pedro Teixeira (que tem 40 na realidade, mas também aparenta ser muito mais jovem), vamos mesmo acreditar que alguém com a aparência de Ana Guiomar (com 32) já tem uma filha daquele tamanho? Nem os vestidos mais clássicos fazem envelhecer a atriz, que quanto muito passa pela tia mais velha.
O ASSIM ASSIM
"Festa é Festa" pode ser uma pérola. Mas será que funciona em novela?
O primeiro episódio da nova aposta da TVI foi refrescante e conseguiu cativar. Nos dados provisórios (sem gravações), "Festa é Festa" foi o programa mais visto do dia, com 1,26 milhões de telespectadores e 25,4% de share, deixando para trás o episódio especial de "Amor Amor" (1,28 milhões e 13,6% de share).
No entanto, toda a novela prende-se ao gancho de realizar a festa de aldeia, algo que pode ser um ângulo muito fechado para um projeto mais longo, tal como são estes formatos.
Ao olhar para este projeto, sentimos que talvez fosse uma aposta mais certeira tê-lo feito no formato de série, em que todos os episódios tinham uma trama individual, iniciada e resolvida a cada episódio, com a história paralela da festa da aldeia.
Olhamos para esta novela e pensamos se não funcionaria melhor numa lógica mais próxima de "Bem-Vindos a Beirais", a série de sucesso da RTP. E não é à toa que sentimos aqui uma vibe da produção do canal do estado: Roberto Pereira, escritor de "Festa é Festa", é também um dos autores da série da RTP.
Não sabemos se a longevidade da novela vai ser benéfica para este projeto, mas o primeiro objetivo está cumprido. Tal como muitos avisaram, fez-nos rir.