Os contornos chocantes que constroem a nova trama da Hulu, “The Act”, disponível na HBO, tornam difícil de acreditar que a história de Gypsy Rose Blanchard e a mãe, Dee Dee, seja verdadeira. A jovem viveu até aos 23 anos em cativeiro dentro da própria casa depois de a mãe a fazer acreditar que sofria de asma, epilepsia, problemas de aprendizagem, distrofia muscular e outras limitações derivadas. Apesar de ter sido esclarecido que nem tudo o que é apresentado na série aconteceu na realidade, a verdade é que maior parte da narrativa é verídica.
Sabe-se agora que uma das personagens que tem vindo a ganhar relevo com o passar dos episódios está totalmente associada à versão real dos factos. Lacey, a confidente e vizinha de Gypsy Rose existiu de facto, e é baseada em Aleah Woodmansee.
Tal como em "The Act", também na realidade Woodmansee teve um papel decisivo no caso. A jovem era uma das poucas pessoas a quem Gypsy recorria para pedir conselhos, conhecendo por isso muitos dos segredos da mesma. No entanto, também Aleah foi apanhada no esquema de Dee Dee e acreditava que as limitações de Gypsy eram reais.
Na série, é possível testemunhar a pressão e controlo que Dee Dee exercia sobre a filha, dificultando que a mesma estabelecesse relações com pessoas fora do seio familiar. Neste sentido, a amizade de ambas foi crescendo em segredo, através de uma conta de Facebook falsa na qual Gypsy Rose respondia pelo nome de Emma Rose.
Foi através da mesma conta que a jovem conheceu e iniciou uma relação amorosa com Nicholas Godejohn, seis anos mais velho. Aleah era a única pessoa que sabia da relação, tendo ainda conhecimento que os dois planeavam encontrar-se num cinema e que falavam em fugir juntos, casar e criar uma família.
Sobre a relação que estabelecida com Gypsy, Aleah esclareceu à “ABC News” em 2018 que as duas falavam de temas comuns a tantas outras jovens adolescentes. “Ela mostrava interesse em vários rapazes e pedia-me conselhos do estilo: ‘Como é que eu os abordo? Como é que se beija um rapaz?’”.
À medida que a amizade foi crescendo e que Dee Dee se apercebeu da proximidade entre as jovens vizinhas, a comunicação entre ambas tornou-se mais complicada. “A mãe dela estava focada em fazer com que a Gypsy tivesse a mentalidade de uma menina de 7 anos e não gostou que eu falasse com ela sobre temas comuns na nossa idade”, relevou à mesma publicação.
No documentário “Gypsy’s Revenge”, que explora o caso em detalhe, Gypsy relata que a mãe criava histórias sobre a vizinha para que as mesmas se afastassem. “Eu não conseguia confiar na Aleah porque a minha mãe começou a meter coisas na minha cabeça passando a ideia de que ela não era minha amiga mas sim uma má influência e que eu tinha de deixar de ser amiga dela.”
Aleah manteve-se amiga de Gypsy
Foi só depois de se descobrir que Gypsy tinha sido responsável pelo assassinato da mãe que a fraude sustentada por quase duas décadas por Dee Dee caiu por terra. Foi nesse momento que Aleah Woodmansee decidiu apoiar a amiga no processo de julgamento e sentença em tribunal.
Aleah esteve presente em todas as audiências preliminares depois da detenção de Gypsy Rose, afirmando na época em entrevista à Fox 5 News que não deixaria de apoiar a amiga. “Eu vou manter sempre o meu apoio porque eu sei que ela não fez isto sem motivo mas sim porque ela [Dee Dee] era uma má pessoa”.
Consumo de álcool e tabaco “nunca aconteceu”
Woodmansee também já manifestou a sua opinião em relação à série e à forma como foi recriada a sua personagem. Em declarações à "In Touch", revelou não estar muito satisfeita com a adaptação, atestando que muitos dos acontecimentos relatados não são fidedignos. “A série aparentemente mostra-me a fumar com a Gypsy? Isso nunca aconteceu. Álcool e tabaco eram coisas sobre as quais não falávamos. Os temas mais ousados que abordávamos eram, literalmente, rapazes”.
Aleah esclarece ainda que, apesar de ter tatuagens, a cena em que surge a fazer uma no seu quarto também não é real. “Eu trabalhei muito para manter uma imagem respeitável durante e depois do caso, e eu realmente não quero que ela seja desfeita pelo descuido de pessoas que preferem drama a respeito”.